Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram surpreendidos pela decisão do presidente da Corte, Joaquim Barbosa, de anunciar sua aposentadoria nesta quinta-feira. Ao chegarem ao plenário, os magistrados comprovaram o isolamento de Barbosa ao dizer que não tinham conhecimento dos motivos que levaram o presidente do Supremo a anunciar sua renúncia.
"Não sabíamos de nada. Pelo menos eu não tinha conhecimento de que ele deixaria o tribunal. Pega de surpresa o Supremo, pelo menos um dos integrantes, que sou eu", disse o ministro Marco Aurélio Mello, para quem Barbosa "ficará conhecido como relator da ação penal 470, a denominada ação do mensalão”.
Para o ministro, Barbosa sai por problemas de saúde. "Eu não concebo que alguém vire as costas para uma cadeira no Supremo espontaneamente.”
A mesma reação tiveram Ricardo Lewandowski e Teori Zavascki. Enquanto Lewandowski não sabia sequer quando assumirá o comando do Supremo, ainda que inicialmente de forma interina, Zavascki destacou o aspecto quase inédito da decisão de Barbosa.
"Pra mim foi uma surpresa. Eu não sabia. Já houve outros casos de ministros renunciando, mas é raro”, disse o ministro.
Luís Roberto Barroso também mostrou que Barbosa não costuma compartilhar suas decisões. Para o ministro, apesar de não concordar com suas decisões, a admiração pelo trabalho desempenhado por Barbosa à frente do Supremo ficará marcada na história.
"Mesmo não concordando com todas as posições, eu concordo com muitas. Tenho admiração por ele e o quero bem”, disse o ministro antes da sessão.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, ganhou destaque no País desde 2012, ao atuar como relator do processo do mensalão do PT
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Ele representa um marco histórico como primeiro presidente negro da corte, mas também é conhecido pelo temperamento forte, o que fez com que se envolvesse em polêmicas com políticos, jornalistas e bate-bocas com colegas do tribunal
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Mineiro de Paracatu, Joaquim Barbosa chegou ao Supremo em 2003, indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
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Por ironia do destino, sua cadeira na Corte foi negociada pelo advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, defensor de poderosos em Brasília, inclusive do publicitário Duda Mendonça, réu no processo do mensalão. Kakay levou o nome de Barbosa a ninguém menos que José Dirceu, a quem o ministro condenou por corrupção ativa pelo envolvimento no esquema de compra de apoio político durante o primeiro mandato do governo Lula
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Barbosa é o primogênito de oito filhos de um pai pedreiro e uma mãe dona de casa
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Aos 16 anos foi para Brasília, arranjou emprego na gráfica de um jornal e terminou o segundo grau, sempre estudando em colégio público
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Obteve o bacharelado em Direito na Universidade de Brasília, onde, em seguida, fez mestrado em Direito do Estado
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Prestou concurso público e foi aprovado para o cargo de procurador da República, durante a gestão do ex-ministro Sepúlveda Pertence como procurador-geral da República
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Licenciou-se do cargo e foi estudar na França, por quatro anos, tendo obtido seu mestrado em Direito Público pela Universidade de Paris-II em 1990 e seu doutorado em Direito Público pela mesma universidade em 1993
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Retornou ao cargo de procurador no Rio de Janeiro e professor concursado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
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É fluente em francês, inglês, alemão e espanhol
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Joaquim Barbosa toca piano e violino desde os 16 anos de idade, mas não pode mais exercer sua grande paixão, o futebol, por causa de uma sacroileíte, uma inflamação na base da coluna que o obriga a revezar cadeiras no plenário para suportar as dores
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O ministro passa a maior parte das sessões em pé e movimentando-se ou recostado sobre à cadeira