Senador boliviano Roger Pinto comparecerá nesta terça no Congresso
O senador boliviano Roger Pinto, que ao sair de La Paz sem um salvo-conduto do governo de Evo Morales causou um conflito diplomático com o Brasil, comparecerá nesta terça-feira em duas comissões do Congresso. Roger Pinto falará nas comissões de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e de Relações Exteriores e Defesa, interessadas em suas denúncias sobre supostas ligações entre autoridades bolivianas e o narcotráfico e nos detalhes de sua turbulenta saída da embaixada brasileira.
O senador chegou ao Brasil em 24 de agosto e na semana passada anunciou uma ida ao Senado, cancelada após a renúncia do então chanceler Antonio Patriota pelo conflito gerado por seu caso. "Desta vez sim ele irá", disse seu advogado, Fernando Tiburcio.
O senador, que se diz perseguido pelo governo Morales, estava asilado na embaixada do Brasil em La Paz desde 28 de maio de 2012 e abandonou a legação de forma clandestina em um carro oficial e escoltado por soldados brasileiros e pelo encarregado de negócios, Eduardo Saboia. Após uma viagem por terra que durou cerca de 22 horas, Roger Pinto chegou em Corumbá, no Mato Groso do Sul, de onde se dirigiu para Brasília em um avião privado fretado pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço.
A Bolívia protestou energicamente pela saída da embaixada com a cumplicidade brasileira e o assunto foi objeto de uma reunião entre os presidentes Morales e Dilma Rousseff durante a Cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) ocorrida na semana passada no Suriname. Depois do encontro com Dilma, Morales deu por superado o incidente com o Brasil, embora tenha esclarecido que seu país não desistiu de conseguir a volta do senador para responder perante a justiça boliviana pelos cerca de vinte processos abertos contra ele por corrupção.
O senador, enquanto isso, permanece no Brasil e iniciou os trâmites para obter o status de refugiado, concedido pela Comissão Nacional de Refugiados (Conare), organismo do Ministério da Justiça.
Senador boliviano causa crise diplomática
Roger Pinto Molina, um inflamado opositor do governo de Evo Morales, estava na embaixada brasileira em La Paz desde 28 de maio de 2012. O governo brasileiro concedeu asilo político ao senador dez dias depois, mas o parlamentar não podia deixar seu país, pois a Bolívia não deu a ele um salvo-conduto, alegando que Roger Pinto responde a vários processos por corrupção.
No dia 23 de agosto de 2013, no entanto, o senador fugiu da embaixada em um carro oficial escoltado por fuzileiros navais e foi até Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Nesta cidade, foi recebido por agentes da Polícia Federal e, de lá, seguiu até Brasília em um avião privado enviado pelo senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, que o esperou no aeroporto na madrugada do dia 25. Ferraço foi quem deu os primeiros detalhes sobre a saída de Roger Pinto da Bolívia, que para o governo de Evo Morales nada mais foi do que a "fuga" de um "criminoso comum".
Ao saber da situação, o então ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, anunciou que o caso seria "investigado", seriam tomadas "as medidas administrativas e disciplinares" correspondentes e convocou para consultas o encarregado de negócios na embaixada em La Paz, Eduardo Saboia. O funcionário chegou a Brasília no dia 26 e, no aeroporto, disse a jornalistas que tinha "ajudado" o senador por razões humanitárias.
"Tomei a decisão porque havia um risco iminente para sua vida e uma ameaça à dignidade de uma pessoa", declarou Saboia, que assumiu a responsabilidade sobre o caso e disse que tinha optado "pela vida" e por "proteger" um "perseguido político".
Visivelmente contrariada pelo episódio, a presidente Dilma Rousseff aceitou na noite de 26 de agosto o pedido de demissão do chanceler Antonio Patriota, que foi substituído pelo representante do Brasil na ONU, Luiz Alberto Figueiredo Machado.
No dia seguinte, Dilma demonstrou irritação com a operação, que, segundo ela, colocou em risco a vida do diplomata e do senador boliviano. "O Brasil não poderia colocar em risco a vida de uma pessoa que estava sob a sua guarda", afirmou Dilma, em relação à ausência de garantia de um salvo-conduto por parte do governo da Bolívia. "Um Estado democrático e civilizado, a primeira coisa que faz é proteger a vida sem qualquer outra consideração. Protegemos a vida e a segurança e garantimos conforto ao asilado", criticou. "Se nada aconteceu, não é a questão. Poderia ter acontecido."