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Política

Senador "não sabe" função de esposa de Marques em gabinete

Elmano Férrer, do Piauí, não quis responder quem indicou Maria do Socorro Marques para o cargo e cita 'ajuste' com Ciro Nogueira

21 out 2020 - 14h41
(atualizado às 14h48)
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O senador Elmano Férrer (Progressistas -PI) emprega em seu gabinete a mulher do desembargador Kassio Nunes Marques, mas diz não saber quais as funções que ela exerce, com salário de R$ 11,4 mil por mês. "Eu tenho mais de 30 (funcionários) lá. Não sei o que... Ela é economista, trabalha lá", afirmou Férrer ao Estadão. "Vocês estão querendo especular umas coisas. Eu não trato dessas questões administrativas de servidores, de o que fazem."

Aliado do presidente Jair Bolsonaro, o senador trocou o Podemos pelo Progressistas, em setembro. Na mudança, perdeu o direito de manter cargos na 2ª vice-presidência da Casa, mas ganhou espaço na 4ª Secretaria. Maria do Socorro Mendonça de Carvalho Marques, casada com o desembargador, que nesta quarta-feira, 21, é submetido a uma sabatina no Senado, passou por essa dança das cadeiras. Acabou, porém, levada de volta ao gabinete de Férrer, onde começou a trabalhar, no ano passado, como assistente parlamentar júnior. "Foi o ajuste feito com Ciro Nogueira (senador e presidente do Progressistas e um dos líderes do Centrão). As pessoas que foram liberadas pelo Podemos foram para o partido que estou agora, o Progressistas. E ela foi uma delas", disse Férrer em entrevista (leia abaixo).

O senador Elmano Férrer, que emprega a mulher do desembargador Kassio Marques
O senador Elmano Férrer, que emprega a mulher do desembargador Kassio Marques
Foto: Roque de Sá/Agência Senado / Estadão Conteúdo

Aos 78 anos, o senador tem todos os seus funcionários em trabalho remoto desde março. Por ser do grupo de risco da covid-19, ele também tem evitado viajar para Brasília, mas garantiu que, nesta quarta-feira, 21, estará no Senado para votar a favor da indicação de Marques ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Quando perguntado quais têm sido as atividades de Maria do Socorro durante a pandemia, Férrer preferiu não responder. "Isso é uma questão minha. Sou um senador, isso é uma questão nossa. É uma questão minha, de senador da República. Todos nós estamos trabalhando muito, inclusive eu", reagiu.

Férrer também não quis contar como a servidora lhe foi apresentada e despachou o assunto para o chefe de gabinete, Solon Braga. Ele, por sua vez, disse que Maria do Socorro é economista e tem a tarefa de "acompanhar projetos" de interesse do mandato. Braga observou ainda que, mesmo no período em que estava formalmente lotada na estrutura administrativa do Senado, ela dava expediente no gabinete. "A gente é que tem a responsabilidade pelo funcionário", atestou.

A mulher de Marques tem cargos no Senado desde 2012. De lá para cá, ela já trabalhou com quatro senadores do Piauí. A reportagem telefonou para Maria do Socorro, mas não obteve retorno da ligação. O desembargador não respondeu se a indicação para o gabinete de Férrer partiu dele.

"Foi o ajuste feito com Ciro Nogueira", diz patrão da mulher de Marques

O que Maria do Socorro faz, quais as atribuições dela?

Eu tenho mais de 30 (funcionários) lá. Não sei o que... Ela é economista, trabalha lá. Estamos há mais de oito meses sem trabalho. Quando retornarmos, você aparece lá para conhecê-la, para vê-la.

Hoje ela está no gabinete do senhor?

Voltou para o meu gabinete. Saiu sem eu saber. Foi o ajuste feito com Ciro Nogueira (senador e presidente do Progressistas). As pessoas que foram liberadas pelo Podemos foram para o partido que estou agora, o Progressistas. E ela foi uma delas. Quando eu soube, liguei para o meu subchefe, que trata de questões administrativas, e ele disse que foi em função disso, da mudança de partido. Se fosse por mim, ela não teria ido. Ela está lá no meu gabinete, com muita honra.

Como economista, quais atividades ela desempenha?

Veja bem, trata-se… Vocês estão querendo especular umas coisas. Eu não tenho informação que lhe dar disso aí. Ligue para o meu chefe de gabinete que ele dará todas as informações. Eu não trato dessas questões administrativas de servidores, de o que fazem...

Mas não passam pelo senhor as atividades de cada servidor do seu gabinete?

Admissão e exoneração passam, sim. Em questão administrativa… Tenho coisas maiores a fazer.

O fato de ela ir ou não ir ao gabinete é algo que não passa pelo senhor?

Deixa retornar as atividades normais, presenciais, aí você vai lá para ver. (Nós) o recebemos. E você conhece quem são os servidores, quem não são.

Enquanto isso, o gabinete do senhor tem feito o quê?

Você é bem informado, você sabe que nós estamos todos trabalhando remotamente. Você está vendo como foi a votação de hoje (terça-feira), como será a de amanhã (quarta) do marido dela, que você está querendo saber…

É que alguns gabinetes funcionam normalmente.

O meu não funciona. Não está funcionando (na pandemia).

O senhor garante que ela não é funcionária fantasma? Ela trabalha no seu gabinete?

Ela está no meu gabinete desde o ano passado.

Está lotada. Mas trabalha, dá expediente diariamente?

Isso é uma questão... Eu estou lhe convidando para visitar o nosso gabinete quando do retorno das atividades presenciais.

Enquanto não tem atividade presencial, ela tem alguma atividade fora do Senado?

Olhe, isso é uma questão minha. Sou um senador, isso é uma questão nossa. É uma questão minha, de senador da República. Quem trabalha... Todos nós estamos trabalhando muito, inclusive eu.

E a Maria do Socorro?

Também, claro.

O senhor lembra como chegou até ela, como a contratou? Foi por intermédio do desembargador?

É questão pessoal, você vai me desculpar. Não respondi algumas coisas, você vai me desculpar. O que tinha a lhe prestar (de informação) já falei, tá bom?

Estadão
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