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Política

Sérgio Reis recebeu quase R$ 400 mil de verba pública

Valor pago em 2021 por Sest e Senat ao ex-deputado não é informado; caso não tem relação, a princípio, com promessa de greve de caminhoneiros contra o STF

19 ago 2021 - 18h35
(atualizado às 18h53)
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O cantor sertanejo e ex-deputado Sérgio Reis recebeu ao menos R$ 398,2 mil em verbas de origem pública que são repassadas a entidades ligadas ao Sistema S. Os pagamentos foram feitos entre janeiro e setembro de 2020 por duas entidades mantidas pelo setor de transportes: o Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). O setor está no centro da polêmica envolvendo Sergio Reis.

No fim de semana passado, o cantor divulgou um vídeo e um áudio prometendo uma greve de caminhoneiros contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e a favor do voto impresso. Em princípio, não há relação entre os pagamentos do Sest/Senat e as declarações do cantor.

Cada uma das duas entidades fez depósitos de R$ 18,1 mil mensais à empresa do cantor, chamada Sérgio Reis Produções e Promoções Artísticas Ltda. Os pagamentos constam da prestação de contas do Sest/Senat para 2020, e se referem à divulgação de iniciativas das entidades nas redes sociais de Sérgio Reis, como o Facebook e o Instagram.

Ao longo de 2021, o artista continuou divulgando as ações das entidades ligadas ao transporte em suas redes, mas elas se recusam a dizer quanto pagaram ao cantor este ano, seja diretamente ou por meio de intermediários, como uma agência de propaganda.

A última publicação de Reis sobre o assunto em sua página no Instagram foi em 2 de agosto, para divulgar um ciclo de palestras. "Essa é mais uma forma Sest Senat de levar informação e cuidados para prevenção e qualidade de vida", diz o texto.

Nas gravações que circularam no fim de semana, Reis diz estar envolvido com o planejamento de protestos e de uma paralisação de caminhoneiros a partir do dia 07 de setembro, feriado da Independência. O movimento seria apoiado por grandes produtores de soja, segundo Reis. Nos dias seguintes, os representantes de caminhoneiros autônomos negaram estar planejando qualquer greve. O ex-senador e ex-governador de Mato Grosso Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do País, também negou estar financiando qualquer ação do tipo.

Questionada sobre as divulgações feitas por Sérgio Reis, o Sest/Senat declarou que "não mantém relações contratuais" com o cantor "Na condição de influenciador, o cantor e compositor prestou serviços ao Sest/Senat até setembro de 2020. A escolha levou em consideração a popularidade de sua música junto aos trabalhadores do transporte, público-alvo das ações do Sest/Senat. As declarações do artista são de foro íntimo e, em hipótese alguma, expressam o posicionamento do Sest/Senat", disse a entidade, em nota.

A reportagem também procurou o cantor. O sertanejo, nascido no bairro de Santana da capital paulista, visualizou as mensagens no WhatsApp, mas não respondeu. Também não atendeu às ligações.

Conta oficial de Sergio Reis nas redes sociais divulga conteúdo promovido pelo Sest e pelo Senat
Conta oficial de Sergio Reis nas redes sociais divulga conteúdo promovido pelo Sest e pelo Senat
Foto: Reprodução/Twitter / Estadão

O Sest e o Senat foram criados em 1993 por lei federal, e são entidades de direito privado, ou seja, não são órgãos públicos. No entanto, os recursos que elas administram são públicos — o dinheiro é arrecadado pelo governo federal junto às empresas do setor de transportes e depois repassado às entidades. Por receber verbas públicas, os gastos da entidade são fiscalizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Controladoria Geral da União (CGU).

No começo desta semana, a esposa de Sérgio Reis, Angela Bavini, disse que o cantor foi "mal interpretado" e "está muito triste e depressivo" com a repercussão de sua fala. "Ele é querido e amado pelo Brasil inteiro, de direita, de esquerda (...). A diabetes dele subiu que é uma barbaridade por causa do estresse", disse ela.

Áudio falso atribuído a Tereza Cristina convoca para ato

No começo desta semana, começou a circular no WhatsApp uma gravação de áudio atribuída à ministra Tereza Cristina (Agricultura) convocando agricultores a participar do mesmo protesto em Brasília no dia 07 de setembro. A gravação, porém, é falsa, segundo informou o Ministério da Agricultura ao Estadão.

Na gravação, a narradora diz que o agronegócio estaria comprometido a ajudar o governo do presidente Jair Bolsonaro a "se livrar dessa peste perniciosa que é o Congresso e o STF". A mensagem de áudio faz referência à mesma reunião que Sérgio Reis disse ter tido em Brasília com produtores de soja. A voz no áudio também recomenda ao ouvinte que estoque alimentos e remédios para enfrentar um possível desabastecimento durante a greve.

Ex-caminhoneiro, o deputado Nereu Crispim (PSL-RS) é hoje presidente da Frente Parlamentar Mista do Caminhoneiro Autônomo e Celetista. Segundo ele, a categoria não compactua com as propostas autoritárias expressas no áudio de Sérgio Reis e na mensagem falsa atribuída a Tereza Cristina. "O movimento dos caminhoneiros é apartidário, não tem ideologia política. Eu sou firmemente contra esse ódio, esse autoritarismo", disse ele.

"Sérgio Reis e esse tal de Zé Trovão (caminhoneiro) não são representantes (da categoria). O representante é o Chorão (apelido do caminhoneiro e sindicalista Wallace Landim), e outros. Sérgio Reis ficou quatro anos na Câmara e nunca defendeu os caminhoneiros", disse Crispim ao Estadão.

Estadão
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