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Política

Sertanista critica contato com índios isolados: "vão morrer e desaparecer"

12 ago 2014 - 17h26
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Manaus, 12 ago (EFE/Amazônia Real).- Um dos principais sertanistas brasileiros, Sydney Ferreira Possuelo projetou um cenário sombrio e fez críticas sobre o recente contato de índios ashaninka e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) com uma tribo desconhecida em junho, na fronteira do Acre com o Peru.

Em entrevista à agência "Amazônia Real", Possuelo disse temer pela sobrevivência dos índios que vivem isolados na região devido ao contágio po doenças para as quais eles não têm defesa.

"O que vão fazer agora? Vai vir a doença, eles vão morrer e vão desaparecer. É isso que vai acontecer. Quando criei o sistema de proteção aos povos indígenas, foi exatamente para evitar o contato, demarcar o território e deixar eles lá, quietos", afirmou.

O sertanista assistiu a dois vídeos divulgados nas redes sociais, um pela Funai e o outro pelo blog do jornalista Altino Machado. As imagens do primeiro geraram grande curiosidade em vários países, sendo acessadas por mais de 4 milhões de pessoas. Ele destacou que não foram seguidas as regras sobre contato com índios isolados.

"Não é uma questão de opinião. É por isso que esse país é esculhambado desse jeito. O Departamento de Índios Isolados tem normas publicadas no Diário Oficial da União. Está lá o que se deve fazer. Ver se eles foram consultar as normas, nada mais", frisou.

Após o contato, alguns índios da tribo desconhecida contraíram gripe, e o sertanista vê com pessimismo o que poderá acontecer com a tribo.

"Mesmo estando de fora, sem ter visto a situação, sem saber as pessoas que estão lá, a coisa é clássica. Os contatos vão se estreitar mais, aí um vai dar uma bolacha, outro vai levar um pacote de açúcar, um vem atrás de uma camiseta. A tendência é isso. Por causa dessas porcarias, que para eles é uma coisa interessantíssima, uma novidade, eles acabam perdendo a língua, perdendo a saúde, desgraçadamente é isso que acontece", disse.

Possuelo, de 74 anos, começou a trabalhar com as etnias indígenas brasileiras aos 17 nas expedições dos irmãos Orlando e Claudio Villas-Bôas no Parque Nacional do Xingu. Nos 43 anos em que trabalhou na Funai, fez contatos com nove povos indígenas isolados, foi presidente do órgão de 1991 a 1993 e responsável pela demarcação da Terra Indígena Yanomami, que enfrenta a pior crise com a invasão de garimpeiros.

Na Amazônia, Possuelo fez contatos com os povos arara, no Pará, e korubo, no Amazonas. Ele viu muitos índios morrerem depois de contraírem doenças como gripe e tuberculose transmitidas por não-índios. À frente do Departamento de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai, criou e implantou a política de proteção das etnias com o objetivo de não fazer a aproximação, mas sim demarcar suas terras e estabelecer um sistema de vigilância territorial.

Em 2006, o sertanista foi demitido do Departamento de Índios Isolados depois de criticar o então presidente Mércio Pereira Gomes, que disse em entrevista que "os índios brasileiros têm terras demais". Possuelo se indignou e comparou o presidente aos madeireiros e garimpeiros da Amazônia.

EFE   
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