Servidores acusam Lira de tentar colocá-los contra Lula através da reforma administrativa; entenda
Segundo Thiago Gonçalves, coordenador do Fonasefe, a adesão do governo à proposta geraria grande desgaste
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), recentemente voltou a defender a reforma administrativa. O movimento é visto como uma estratégia para tensionar a relação entre os servidores públicos e o governo federal, tornando, dessa forma, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mais suscetível a desafios nas negociações políticas no Congresso.
A interpretação é de Thiago Duarte Gonçalves, coordenador do Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe). O grupo tem estado ativamente envolvido na oposição à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 32/2020, que foi elaborada durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
"O Lira sabe que o governo não tem maioria no Congresso, mas também sabe que a gestão petista é contra a PEC 32 e se mobilizou contra ela nos últimos anos. Então ele faz esse movimento que desgasta o governo Lula junto aos servidores caso faça qualquer aceno pela aprovação da reforma administrativa, mas que também cria atrito para o governo no Legislativo em caso de total oposição à PEC", afirma Gonçalves em entrevista para a Folha de S.Paulo.
Membros da base governista estão alinhados com essa avaliação e afirmam que Lira não tem coordenado esforços com seus aliados para a votação da PEC, o que contrasta com sua aparente defesa pública sobre o tema. Isso sugeriria que sua abordagem é mais uma estratégia de negociação política do que um comprometimento efetivo com a aprovação da proposta.
Em outro trecho da entrevista, o coordenador da Fonasefe disse que a categoria reconhece a estratégia de Lira. Ele expressou, no entanto, sua preocupação com a possibilidade de uma situação semelhante à da reforma da Previdência em 2003.
Na ocasião, o presidente Lula lutou pela aprovação do projeto, o que gerou tensões com os servidores e até com parlamentares do próprio PT.
"Os servidores públicos estão em processo de disputa. Se o governo recuar e for visto como traidor, isso vai gerar um desgaste muito grande", conclui Gonçalves.
O governo de Lula tem enfatizado que não pretende abordar essa questão por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) e não tem a intenção de modificar a estabilidade dos funcionários públicos, que é o foco da PEC.
A administração petista planeja apresentar projetos de lei para abordar o tema dos salários excessivamente altos e para fazer alterações nas regras dos concursos públicos.