Sócio de ACM Neto, marqueteiro quer 'desavermelhar' PT
O vermelho não deve sumir, mas pode perder a preponderância para o verde e amarelo
O vermelho não deve sumir, mas pode perder a preponderância para o verde e amarelo. O discurso, hoje voltado às bases, como movimentos sociais e sindicatos, deve mudar e fazer acenos, também, ao empresariado. Sócio de empreendimentos de cifras milionárias e ligado a políticos de centro-direita do PSDB e do União Brasil, o publicitário Sidônio Palmeira - recém-contratado - quer dar à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um tom que amplie seu alcance para além dos militantes, grupo que considera "fechado" e "à esquerda", segundo apurou o Estadão.
Sidônio foi escolhido semana passada para assumir a campanha petista ao Planalto. O publicitário sabe que o percurso rumo ao centro para atrair os "não convertidos" tem de passar pelo aval do ex-presidente e não pode ser radical.
Amigos próximos afirmam que, além de "desavermelhar" o PT, Sidônio deve buscar mais apelo emocional na campanha. Trata-se de uma mudança de rumos em relação ao trabalho de Augusto Fonseca, seu antecessor na função e demitido pela cúpula do partido na semana passada, sob críticas.
Em um primeiro orçamento apresentado ao PT, Sidônio estimou um preço de R$ 44,5 milhões. O valor é próximo dos R$ 45 milhões pedidos por Augusto Fonseca. Ainda não está fechado e deve ser negociado.
A saída de Fonseca expôs a disputa interna no PT pela comunicação da campanha. O setor absorverá a maior fatia do dinheiro do fundo eleitoral de R$ 500 milhões da legenda. Conselheiro próximo de Lula, o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Franklin Martins havia bancado a contratação de Fonseca. O secretário nacional de Comunicação, Jilmar Tatto, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e deputados petistas, por sua vez, cobravam sua substituição.
Sidônio chega com o apoio, sobretudo, do senador Jaques Wagner (PT-BA), para quem fez a campanha eleitoral vitoriosa de 2018. O parlamentar também passará a ser coordenador de Lula em 2022. O publicitário havia participado da licitação que levou à escolha de Fonseca. O ex-ministro chegou a propor que ambos dividissem o comando da comunicação. Sidônio não aceitou.
Carreira
Nascido em Vitória da Conquista (BA), Sidônio tem 63 anos e é formado em Engenharia pela Universidade Federal da Bahia, mas nunca exerceu a profissão. Militou no movimento estudantil. Sua primeira campanha foi para a ex-prefeita de Salvador Lídice da Mata (PSB), nos anos 1990. À época, enfrentou forte oposição de Antonio Carlos Magalhães.
Ao longo dos anos, Sidônio cultivou forte amizade com ACM Neto, de quem é sócio em um fundo imobiliário. Também é amigo e sócio da irmã do ex-prefeito de Salvador Renata Magalhães e do deputado João Gualberto (PSDB) em outra empresa de investimentos em imóveis. Em março, a sociedade arrematou por R$ 9,2 milhões o Palácio dos Esportes, edifício do governo da Bahia. O prédio abriga a sede da Federação Bahiana de Futebol, entre outras entidades. Será transformado em um hotel.
A relação de Sidônio com o esporte é mais profunda. Torcedor fanático do Bahia, integrou o movimento de democratização do clube, que permitiu a eleição de presidentes por voto direto de torcedores e foi assessor da presidência do "Tricolor de Aço". Foi sócio do presidente do clube, Guilherme Bellintani. Em 2020, com apoio de Rui Costa e Jaques Wagner, Bellintani cogitou disputar a prefeitura de Salvador pelo PT, mas desistiu.
Mídia
A Leiaute, agência de Sidônio, é uma das quatro escolhidas para o contrato com o governo baiano. O valor chega aos R$ 170 milhões para as agências, que produzem a publicidade estatal. Também há repasses aos veículos de comunicação.
Segundo dados do Estado, desde 2016, a Leiaute é a agência líder no recebimento de verbas de publicidade. Foram R$ 504 milhões pagos à empresa, conforme o Portal da Transparência. O governo da Bahia afirmou, em nota, que houve licitação para a contratação da Leiaute, e que o "objeto da licitação foi adjudicado a quatro agências de publicidade que faturarão no mínimo 15% do montante efetivamente executado pelas quatro agências".
Sidônio não se manifestou.