SP: calouro que sofreu trote é vítima de bullying, diz família
A Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) divulgou ofício no qual dá prazo de 30 dias para o estudante Luiz Fernando Alvez retornar às aulas, garantindo por este período sua matrícula. No entanto, a família do estudante diz que ele não voltará porque tem medo de ser espancado e até ser assassinado pelos estudantes veteranos.
Luiz Fernando foi vítima de trote violento, agredido e humilhado durante a festa de recepção de calouros na faculdade no dia 18 de abril. Ao denunciar o caso à polícia e à direção da faculdade, foi ameaçado de morte pelos estudantes veteranos, que, segundo a família, mantêm uma rede hierárquica de prática de bullying contra os alunos menos graduados.
O estudante foi agredido com socos e tapas por outros alunos e obrigado a consumir bebida alcoólica durante uma festa. Além disso, teve cerveja derramada sobre o corpo e ficou desacordado das 5h às 10h do dia 18 de abril. “Meu irmão foi encontrado desacordado, seminu, com vômitos, na beira da piscina. Ele não sabe o que se passou durante o tempo que esteve desacordado, mas percebeu que tinham urinado em seu corpo”, contou Rodrigo Alvez, irmão de Luiz Fernando.
A família acredita que Luiz Fernando foi vítima de bullying. Segundo Rodrigo, o rapaz tem problema com timidez e até faz tratamento com psicólogos para se tornar mais comunicativo. “Meu irmão tem receio de ficar sem camisa até na minha frente. No começo, a gente até achava que ele fosse autista tamanha a sua timidez”, contou. A situação, segundo Rodrigo, o deixou ainda pior, com o rapaz pensando até em se matar. “Imagina o que esses acontecimentos fizeram com a cabeça do meu irmão. Até em se matar ele falou”, completou.
Rodrigo lembrou que a situação trouxe decepção a todos da família. “A gente mora na região da periferia de Belo Horizonte, convivemos com tiroteios, bandidos e crimes, e sempre fomos respeitados. A gente achava que meu irmão estaria seguro numa cidade menor e de pessoas com mais renda, mas vimos que foi exatamente o contrário”, afirmou.
A família denuncia a existência de uma rede hierárquica de prática de bullying e subjugação entre os estudantes, onde os mais graduados determinam tarefas para os estudantes menos graduados. A família suspeita que, por ser introspectivo, Luiz Fernando tenha sido alvo dos alunos veteranos. “Ele levou tapa na cara, foi obrigado a andar com a cabeça baixa e recebeu aviso que assim seria durante todo o ano”, diz Rodrigo.
Segundo ele, outros estudantes têm conhecimento da existência dessa rede e já denunciaram a situação à direção da Famerp, e isso pesou para a família decidir que Luiz Fernando não voltará mais a estudar na universidade. “A gente está tentando trancar a matrícula, para então ele ser transferido ou voltar quando os alunos do sexto ano já estiverem se formado e deixado a escola”, completou.
O delegado Airton Douglas Honório, do 5º Distrito Policial de Rio Preto, responsável pelo caso, não foi localizado para falar sobre o assunto.
Em nota, a faculdade diz que não recebeu contato do aluno, que tem 30 dias para retornar às aulas e se compromete "em prestar apoio social, psicológico e pedagógico" ao aluno. A nota diz ainda que a faculdade “salienta a importância de o estudante representar o Boletim de Ocorrência para que as investigações tenham seguimento” e que internamento está apurando o caso e que já ouviu metade dos 80 alunos do primeiro ano sobre o caso e está na fase final das investigações.