Tarso Genro: "não pretendo e não aceito ser ministro"
Governador do RS afirmou ainda que usará sua influência para promover a reforma política, por considerar que atual modelo político está superado
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), negou de forma enfática nesta terça-feira a possibilidade de integrar o novo ministério da presidente Dilma Rousseff (PT). “Eu não estou disponível. Não serei ministro da presidenta. Solicitei que não me convidassem. Não pretendo e não aceito ser ministro porque não é adequado para um governador que perdeu a eleição. Se fosse necessário, eu iria. Mas nossa coligação tem quadros suficientes e nós podemos ajudar de fora”.
Tarso disse que após o término de seu governo, em 31 de dezembro, vai trabalhar internamente o PT “junto com o presidente Lula” e que dará prioridade, em um primeiro momento, a reforma política. “Vou me dedicar integralmente a isso junto à sociedade civil, inclusive. Acho que nós, que temos algum resíduo de liderança nacional, temos que estar preocupados com o atual modelo, que está vencido, superado”, assinalou.
As declarações de Tarso foram feitas ao final da primeira reunião mantida entre ele e o governador eleito, José Ivo Sartori (PMDB), para encaminhar a transição política entre as duas administrações. O petista disse ainda que entregará o governo “com as contas em dia” e com as políticas sociais e econômicas características de sua gestão devidamente encaminhadas.
Sartori, questionado principalmente sobre a composição do secretariado, fez um afago ao deputado federal Beto Albuquerque (PSB), declarando que o socialista só não será secretário se não quiser. Nos bastidores, Beto, que ficará sem mandato a partir de 1º de janeiro, tem assegurado que seus planos passam longe de estar no primeiro escalão de Sartori.
Tanto Tarso como Sartori destacaram, após o encontro, que a transição será tranquila, e, de público, trocaram elogios mútuos em relação às equipes que escolheram para o processo. Logo após o encontro, contudo, o governo enviou para a Assembleia Legislativa um projeto com potencial para gerar uma série de divergências dentro da base aliada de Sartori.
Trata-se do reajuste do salário mínimo regional. O governo Tarso aceitou o índice solicitado pelas centrais de trabalhadores e enviou para apreciação dos deputados, em regime de urgência, proposta prevendo reajuste de 16% nas cinco faixas do mínimo em vigor no RS. Se ela for aprovada, o mínimo regional terá valores entre R$ 1.006,88 e R$ 1.276,00 a partir de janeiro de 2015. Como foi enviado com urgência, o projeto precisa ser votado em 30 dias. Depois disso, passa a trancar a pauta.
Sartori pode tentar uma manobra para, via emenda no Legislativo, baixar o índice, mas ela implicaria um desgaste político significativo. Dentro da base, o PSB, por exemplo, que integrou o governo petista, mas hoje é aliado do peemedebista, no RS tem vinculação histórica com parte dos movimentos sociais que defendem o reajuste de 16%. Ao mesmo tempo, o vice-governador eleito, o empresário e pecuarista José Paulo Cairoli (PSD), em diversas ocasiões externou sua posição contrária ao mínimo regional. A assessoria de Cairoli informou que, por enquanto, as manifestações sobre o projeto caberão exclusivamente a Sartori. O governador eleito disse que quem governa até 31 de dezembro é Tarso e destacou que sua administração vai construir as próprias alternativas.
Ao mesmo tempo, a Federação das Associações Comerciais e de Serviços do RS (Federasul), que Cairoli já presidiu, lançou nota considerando que não cabe ao governo “apresentar índices de reajuste neste patamar porque vai trazer desemprego e criar sérios problemas a uma economia já enfraquecida”. A presidente em exercício da Federasul é Simone Leite, que concorreu ao Senado pelo PP. O PP também apoiou Sartori no segundo turno e o peemedebista já convidou formalmente os progressistas a integrarem seu governo.