Tarso Genro tira 'selfie' e comenta seus memes: 'eu rio junto'
Em entrevista exclusiva ao Terra, governador do Rio Grande do Sul comenta o papel das redes sociais na democracia contemporânea
Dizendo-se uma pessoa conectada, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), considera as redes sociais instrumentos essenciais de participação popular e de interferência da sociedade nas decisões do governo, e que devem ter, no futuro, importância comparável à do voto. Em entrevista exclusiva ao Terra, o governador garantiu estar atento a o que "bomba" na internet e comentou até mesmo o motivo que o levou a tirar o bigode e as suas fotos que viraram memes e se espalharam pela web.
"Eu rio junto. Eu acho a maioria dessas manifestações muito bem humorada", disse o governador. Em um momento de descontração ao final da conversa no Palácio Piratini, sede do governo em Porto Alegre, Tarso topou o desafio proposto pelo Terra e aderiu à moda das selfies, embora tenha demonstrado um estranhamento inicial com o tema. "É como a foto do Oscar", socorreu-lhe um assessor.
Veja a seguir a primeira parte da entrevista exclusiva de Tarso Genro:
Terra - Qual sua relação pessoal com a tecnologia? Por exemplo, o senhor tem smartphone? É o senhor que atualiza seu Twitter?
Tarso Genro - Eu tenho uma proximidade, do ponto de vista doutrinário e programático, bastante forte. Nós instituímos aqui o Gabinete Digital, que é o primeiro instrumento de governança eletrônica e de consulta em rede do País.
Eu atualizo o meu Twitter e eu mexo no computador todos os dias. Eu mesmo respondo meus e-mails, eu mesmo procuro as minhas notícias. Essas novas tecnologias são instrumentais de ação política e de estabelecimento de relações muito grande. Eu tenho uma rede internacional em torno de 600, 700 endereços de pessoas com quem eu intercambio também e-mails, artigos, doutrina política, estudos, notícias, e que alimentam também a minha ação. Então eu posso dizer que eu sou uma pessoa conectada.
Terra - Quando alguém faz um ataque ao senhor nas redes sociais, você encara isso como uma coisa normal na democracia ou acha que, às vezes, as pessoas passam dos limites? Já houve algum incidente em que o senhor se sentiu desrespeitado?
Tarso - A gente se sente desrespeitado quando aparece alguma coisa na rede da mesma forma quando é por um jornal, quando é por uma rádio. Como eu compreendo esse mecanismo como um mecanismo de catarse de pessoas despreparadas, de pessoas ressentidas, de pessoas recalcadas... tem determinado nível de ataque que eu não respondo, que eu acho que é mais um espasmo psicológico ou a manifestação de uma mente doentia, do que propriamente uma ação política. Quando se trata de uma crítica que tem algum tipo de seriedade, eu procuro responder com o mesmo nível de seriedade com que a crítica é colocada.
Terra - Qual é a importância de o governo usar as redes sociais? É um instrumento de divulgação das ações do Executivo ou é uma questão de transparência? Como o senhor avalia o papel dessas mídias no seu governo?
Tarso - Eu acho que é um pouco limitada a visão de que isto é meramente um instrumento tecnológico para a transparência. A transparência é um elemento importante, mas a política e o Estado são necessariamente opacos.
Então eu vejo a rede mais como um grande potencial de reestruturação da vida democrática, e da plenitude do debate de ideias, e da busca de combater essa opacidade de maneira permanente - embora ela nunca vá ser terminada, ela nunca vá ser totalmente extravasada - do que propriamente um instrumento de transparência. Eu acho que essas novas tecnologias das redes são, na verdade, uma espécie de cerco da consciência social sobre o Estado, de participação democrática e de interferência nas decisões do governo, que devem ter no futuro tanta importância quanto tem o voto na representação.
Terra - O que o senhor vê nas redes sociais tem influência nas decisões do governo?
Tarso - Sim. De várias formas. Através do Twitter, os recados que a gente recebe. Através da votação eletrônica que nós fazemos para as prioridades (do governo), dentro do nosso sistema de participação popular, na consulta popular.
Terra - Recentemente, fotografias inusitadas do senhor se tornaram memes e deram origem a dois tumblrs, o Pula Tarso e o Tarso de Sunga. Outro assunto que teve grande repercussão nas redes sociais foi a sua mudança de visual, quando decidiu tirar o bigode. Como o senhor encara as piadas? Leva na esportiva ou fica preocupado com sua própria imagem? Acredita que essa descontração pode levá-lo a um melhor diálogo com eleitores que normalmente não se interessam por política?
Tarso - Eu vejo de uma forma totalmente normal, eu acho que são brincadeiras sadias. E essa utilização das figuras públicas para caricaturizá-las, ou para fazer com elas uma brincadeira ou fazer uma crítica, isso sempre ocorreu. Só que agora é potencializado. A caricatura está na origem deste tipo de coisa, e a caricatura tem um papel até muito grande na história da democracia. Então eu vejo como uma coisa perfeitamente natural.
Se uma pessoa ultrapassa uma determinada barreira, de ferir a intimidade, bom... aí já é uma questão penal, que está fora da esfera política.
Terra - O senhor já acessou as páginas que brincam com as suas imagens?
Tarso - Algumas delas, sim.
Terra - E o que achou delas?
Tarso - Eu rio junto. Eu acho a maioria dessas manifestações muito bem humorada.
Terra - E o bigode, por que o senhor tirou?
Tarso - Eu tirei por acaso. Eu fui passar uns dias na praia com a minha mulher, o meu neto e a namorada dele, e eu queria tomar sol. Há muito tempo eu não tirava o bigode, e eu tirei o bigode para tomar sol na cara. E aí tanto a minha mulher quanto as minhas filhas acharam que eu fiquei com a cara menos cansada e mais jovem, porque o meu bigode estava branco. Aí eu deixei sem bigode. Foi por isso. Não foi uma jogada de marketing, foi um juízo familiar (risos).