Temer diz que ligou para Bolsonaro e sugeriu quarentena
Ex-presidentes criticaram posturas de Bolsonaro, como o embate com outras autoridades e a participação em manifestações
O ex-presidente, Michel Temer (PMDB), disse nesta segunda-feira, dia 4, que ligou ao sucessor, Jair Bolsonaro (sem partido), no sábado para "dar palpites" sobre a atual gestão. Foram duas sugestões: que se decretasse quarentena por 15 dias, - prorrogáveis depois -, e que Bolsonaro deixasse de falar diariamente com a imprensa. As dicas foram mencionadas por ele em evento virtual que contou também com a participação dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Fernando Collor (PROS) e do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-ministro da Justiça, Nelson Jobim. Todos criticaram posturas de Bolsonaro, como o embate com outras autoridades e a participação em manifestações.
"O presidente muitas vezes passa o dia todo em conflituosidade pelo que disse de manhã", afirmou Temer. De acordo com o palpite do antecessor, Bolsonaro deveria deixar que o seu porta-voz faça coletivas diárias e que ele próprio falasse com a imprensa apenas uma vez por semana.
"Ele até recebeu muito bem, mas percebo que conduziu-se de outra maneira, afinal, ele que é o presidente", completou Temer.
O palpite foi elogiado por FHC, que discorreu sobre a necessidade do presidente Jair Bolsonaro pensar a respeito dos gestos que faz à nação e agir com mais moderação na hora de falar com a imprensa. "Não sabia do que o presidente Michel acabou de dizer, que falou com o presidente Bolsonaro: fez bem, fez bem!", afirmou.
Críticas
Todos os três ex-presidentes, além de Jobim, criticaram diversas posturas de Bolsonaro, principalmente em relação à contradizer outras autoridades. Também houve posicionamento contra falas de pessoas do entorno do mandatário que entraram em conflito com a China, o maior parceiro comercial do Brasil.
"O presidente da República participa de manifestações e não segue nenhuma das regras elementares da OMS", criticou Collor. "Bolsonaro, em vez de provocar coesão, provoca ruptura", afirmou FHC. "O presidente não se atentou para o fato de que não manda em tudo", disse FHC.
Apesar das críticas ao mandatário, os três ex-presidentes da República e o ex-presidente do STF acreditam que o Supremo se excedeu ao barrar, na quinta-feira passada, a nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal.
"Decisão da Justiça se acata", disse Collor. "Nessa questão específica da nomeação do diretor-geral, eu acreditaria que não fosse interessante do STF entrar nesse mérito", afirmou. "É um ato privativo do presidente, naturalmente obedecendo regras elementares. Mas nunca se pensou se é uma pessoa mais amiga ou menos amiga do presidente. Até porque a prática de quem está na presidência é, se não nomear alguém conhecido, nomear alguém com quem o presidente de identifique", completou.
Jobim afirmou que há a "introdução do Poder Judiciário para a solução de questões políticas".
"Acho que o STF exagerou", defendeu FHC. "Você não poder dar a desculpa ao presidente do País de que ele não pode governar porque está sendo bloqueado, é dar um pretexto que é pouco interessante nesse momento", acrescentou.
Temer afirmou que só há segurança jurídica "quando você cumpre rigorosamente os atos normativos". Ele afirma que o STF não pode substituir nem o Executivo e nem a Legislativo, cabendo a ele, no máximo, apontar omissões dos outros Poderes.
Forças Armadas
Os participantes também elogiaram a atuação das Forças Armadas e disseram acreditar que elas jamais dariam qualquer endosso à tendências antidemocráticas.
"Militares são cumpridores rigorosos do que prevê a lei", disse Temer. "Tenho a absoluta convicção de que as jamais Forças Armadas viriam a público para fazer um rompimento com o que prega a Constituição Federal", declarou. Mais cedo em sua fala, o emedebista havia criticado a participação de Bolsonaro de "eventos detrimentosos do Legislativo e do Supremo". "Isso vai gerando uma raivosidade que não é típico do brasileiro. A paz é um dos preceitos constitucionais. É muito ruim para o nosso País e especialmente para o povo", afirmou.
Jobim, que já foi também ministro da Defesa, reiterou que o compromisso das Forças Armadas é com o Estado, e não com um governo específico.