"Temos medo de usar nossas camisetas na rua", dizem membros de movimentos estudantis
Estudantes, professores e pesquisadores relatam episódios de ameaça e repressão política
Estudantes, professores e pesquisadores membros de movimentos estudantis e políticos reclamam de episódios de ameaças e repressão política neste período pré-eleitoral. Os relatos foram feitos na aula aberta da Universidade de São Paulo (USP) nesta segunda-feira, 15, da qual o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também participa.
O evento reuniu milhares de pessoas, incluindo membros de diversos movimentos estudantis, das mais diversas áreas, como grupos feministas, socialistas, em defesa da ciência, meio ambiente, diversidade de gênero e outros.
A estudante secundarista Malu Leão foi uma dessas pessoas. Ela esteve no evento junto com a União da Juventude Socialista (UJS) e ressaltou a importância da atuação política dos jovens. "Eu acho que a gente está em um cenário político bem complicado e a juventude precisa estar dentro desses movimentos, desses cenários, para conseguir mudar. As pessoas dizem muito que a juventude é o futuro, mas a juventude também é o presente", defendeu.
Malu revelou que os membros da USJ tomam cuidado ao usar adereços que os liguem ao movimento. "Temos medo de usar nossas camisetas na rua. Antigamente, a gente saía. Hoje, temos esse receio maior, [saímos] com uma camiseta por cima e só quando estamos com nossa galera junta, tiramos", disse.
Outro estudante que marcou presença no ato foi Lucas Shen, membro do grupo Cientistas Engajados, formados por estudantes e professores que tentam eleger uma bancada de cientistas no Congresso. "Diferente das bancadas que já existem, da Bala, da Bíblia, a Bancada da Ciência vem com a proposta da defesa da universidade pública, do investimento e de outras ações mais", explica.
Ele acredita que, apesar das intimidações, grandes manifestações realizadas defendendo a democracia estão enfraquecendo os atacantes. "Existe um clima e pessoas mal intencionadas que foram levadas pelo ódio e insufladas para tentar, inclusive, ataques contra nós", disse. "A grande questão é que nós temos feito grandes manifestações que tem intimidado esse setor que não consegue fazer essas ações contra a gente. Então, quanto mais gente estiver do nosso lado, melhor e mais seguro vai ser", completou.
A pesquisadora e também fundadora do Cientistas Engajados, Mariana Moura, conta que, só nessa semana, recebeu o contato de dois pesquisadores que foram ameaçados após se posicionarem politicamente. "Tem um professor na faculdade de Medicina que falou que tiraram foto da placa do carro dele e mandaram pra ele, dizendo que sabiam onde os filhos dele moravam", conta. "Mandando parar de falar de política".
Segundo ela, há a preocupação de represálias contra as manifestações e movimentações do grupo, mas que o trabalho deve continuar. "A gente tem essa preocupação. Agora, nós enquanto cientistas, o que podemos fazer? Denunciar (...) e se organizar para que isso não mais aconteça", defende.
Já o movimento feminista Afronte tem algumas recomendações para seus membros, conforme conta a estudante de Direito da USP Leticia Olé. "A gente discute [violência política], é uma preocupação. Bolsonaro, em todo discurso que ele faz, aumenta o tom das ameaças golpistas, com intuitos autoritários e isso se reflete na base dele (...). São pessoas que se sentem encorajadas a praticar atos violentos com quem pensa diferente".
"Então, a gente evita vestir camisas militantes em transportes públicos, sempre andar em grupo nas panfletagens, porque desde 2018 e até pouco antes, o bolsonarismo como fenômeno político tem se mostrado muito violento", explica.