'The Guardian' publica "manifesto global" contra Bolsonaro
Documento foi feitos por intelectuais brasileiros e estrangeiros
O jornal britânico "The Guardian" publicou nesta quinta-feira (25) um manifesto contra o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, assinado por intelectuais brasileiros e estrangeiros, o qual afirma que o deputado ameaça o mundo, não apenas a jovem democracia do Brasil. "Mulheres, ativistas LGBT, defensores dos direitos humanos ambientalistas e povos indígenas estão em risco com o candidato da extrema-direita", diz o texto.
Segundo o artigo, "o Brasil atravessa a pior crise de sua história desde o golpe civil-militar e o estabelecimento da ditadura em 1964", principalmente depois do dia 7 de outubro, quando ocorreu o primeiro turno das eleições presidenciais e "Bolsonaro obteve impressionantes 46,03% dos votos".
"Este resultado desencadeou uma primeira onda de violência de ódio: mais de 70 ataques foram registrados contra pessoas LGBT, contra mulheres, contra qualquer opositor de extrema direita ou contra jornalistas", acrescenta.
O manifesto ainda ressalta que, depois do primeiro turno, o mestre de capoeira Moa do Katendê, ativista e educador, foi esfaqueado até a morte por um partidário de Bolsonaro, o que é temido ser apenas o início de uma onda mais mortal de violência.
"Este ódio e violência estão sendo claramente instigados por Bolsonaro e seus representantes eleitos. Ao repetir seus discursos e provocações misóginas, racistas, homofóbicas e transfóbicas, exibindo suas armas de fogo, glorificando a ditadura militar, espalhando informações falsas, implicitamente exigem a brutalização, até mesmo o assassinato, de todos aqueles que não se parecem com eles", explica.
Entre os intelectuais que assinam a carta estão os brasileiros: diplomata Celso Amorim; o autor Frei Betto; o músico Chico Buarque; o economista Bresser Pereira; a advogada Carol Proner; o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro; e o co-fundador do Fórum Social Mundial Brasileiro, Chico Whitaker. Já entre os estrangeiros: o membro do parlamento europeu, o francês José Bové; o linguista norte-americana, Noam Chomsky; a prefeita de Barcelona, Ada Colau; a francesa membro do parlamento europeu, Karima Delli, o político francês Benoît Hamon; além da jornalista canadense, Naomi Klein; e a política portuguesa, Joana Mortágua.
No documento, as personalidades dizem que se Bolsonaro for eleito, esse "ódio corre o risco de se institucionalizar e desencadear a violência física".
"O Brasil já é, infelizmente, um dos países mais violentos do mundo: 61.619 homicídios foram cometidos em 2017, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, representando cerca de 170 pessoas mortas por dia, incluindo um jovem negro a cada 23 minutos", explicam.
Além disso, o manifesto relembra que as instituições democráticas do Brasil já estão enfraquecidas desde o escândalo político e financeiro que afeta todos os partidos e pelo polêmico impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. E Bolsonaro não demonstra segurança de que o Estado de Direito democrático será imposto após as eleições. Os intelectuais alegam que a possível vitória do candidato do PSL, apoiado pela bancada conservadora e reacionária da sociedade, representa uma ameaça mortal à liberdade, aos direitos fundamentais, à obtenção de qualquer equilíbrio da Terra às mudanças climáticas e à jovem democracia do Brasil.
"A comunidade internacional, e em particular a França e a União Europeia, deve agir e apoiar os democratas brasileiros, independentemente do resultado da eleição presidencial", finaliza.