Tucanos fazem carta para pressionar Leite a não sair do PSDB
O documento foi endossado por 27 tucanos, entre eles senadores, deputados e ex-presidentes do partido e um governador
Em nova tentativa de pressionar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, a permanecer no PSDB, tucanos planejam recolheram assinaturas e apresentaram uma carta pública pedindo que ele não se filie ao PSD do ex-ministro Gilberto Kassab.
O documento foi endossado por 27 tucanos, entre eles senadores, deputados e ex-presidentes do partido e um governador. Nomes importantes da sigla assinaram, como o presidente da legenda, Bruno Araújo, os senadores José Serra (SP), Tasso Jereissati (CE) e os ex-presidentes do PSDB Aécio Neves, José Aníbal, Teotônio Vilela e Pimenta da Veiga.
Aliados regionais de Eduardo Leite, como os deputados gaúchos Lucas Redecker e Daniel Trzeciak também endossaram o apelo pela permanência. Assim como o presidente estadual do PSDB em São Paulo e um dos principais aliados do governador paulista João Doria, Marco Vinholi. "Queremos a permanência do Eduardo Leite no partido. Quadro importante", disse ao Estadão, apesar das divergências entre Doria e Leite.
O texto diz que "o futuro do Brasil está em jogo" e sinaliza uma promessa de que o PSDB irá dar destaque nacional ao governador gaúcho. "Não admitimos a possibilidade de o perdermos, nesse momento crucial para a história do Brasil. O movimento cresce, reuniremos as forças necessárias, a missão será dada, e, certamente, como de costume, vitoriosamente cumprida".
No entanto, não há consenso sobre quando isso deve acontecer, uma parte da legenda quer que Leite seja candidato a presidente logo nesta eleição de 2022, outra tem afirmado que ele pode se cacifar para a disputa de 2026.
Apesar do número expressivo de quadros relevantes do PSDB que assinaram a carta, algumas ausências aconteceram, como a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de Doria e do ex-chanceler Aloysio Nunes. "Desejo que fique, é melhor para o partido, mas não faço apelo. Ele é quem sabe o que é melhor para ele", disse Nunes ao Estadão.
Na quinta-feira, 17, o deputado Aécio, um dos principais aliados de Leite, já havia confirmado a articulação. "É uma ideia que está surgindo", disse. Leite foi convidado por Kassab - que comanda o PSD - para ser candidato à Presidência. Embora não tenha feito um anúncio, o governador indica que vai aceitar. Kassab dá como certa a entrada do tucano no partido e planeja visitar Porto Alegre na próxima semana, quando a decisão deve se tornar pública.
Mesmo assim, integrantes do PSDB ainda procuram convencer o colega a não abandonar a legenda. Na terça-feira, 15, Leite esteve em Brasília e se encontrou com correligionários, como Aécio, o senador Tasso Jereissati (CE) e o presidente do partido, Bruno Araújo.
Quando estava com Aécio, o governador também chegou a conversar, por telefone, com o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP). Depois, no diálogo com Bruno Araújo, quem ligou foi o presidente do Cidadania, Roberto Freire. A estratégia de pôr na linha dirigentes de outros partidos para fazer mais um apelo a Leite foi combinada.
"É muito difícil alguém com uma visão política bem definida e social-democrata, como é o caso do Eduardo Leite, ir para um partido desses. Pode ser um passo arriscado", afirmou Freire ao Estadão, numa referência ao PSD.
O Cidadania vai formar federação com o PSDB, o que significa que as duas legendas vão agir de forma uniforme no Congresso e em todas as alianças nacionais, estaduais e municipais por, no mínimo, quatro anos.
Sem projeto
Para Freire, o PSD de Kassab é um partido que não tem projeto nacional. "Tem boas nominatas, bons parlamentares, mas não é um partido com projeto. É um partido que, nacionalmente, tem a ala que vota em Bolsonaro e a ala que vota em Lula", observou ele, ao citar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Perguntado se o Cidadania estaria ao lado de Leite, Freire declarou que o apoio, hoje, é ao governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato do PSDB à Presidência. "O candidato da federação é Doria, mas isso não implica que você não esteja discutindo com outros prováveis candidatos, com os outros partidos que fazem parte desse campo", disse ele.
Baleia Rossi, por sua vez, evitou comentar a conversa com o gaúcho. "Não interfiro de maneira alguma nas questões de outros partidos", afirmou.
Aliados do PSDB tentam mostrar a Leite que a construção de uma aliança partidária seria mais fácil se ele não trocasse de legenda. Os argumentos contrários à saída expõem os riscos que o movimento pode trazer, já que o PSD não participa das discussões com outros partidos da terceira via, que tentam construir uma unidade contra Bolsonaro e Lula.
O PSDB tem mantido diálogo constante com o MDB e o União Brasil, mas Kassab nunca quis fazer parte das conversas. Os aliados de Leite lembraram a ele até mesmo a quantidade de políticos do PSD que vão apoiar Lula logo no primeiro turno. Nesta lista estão os senadores Otto Alencar (BA) e Omar Aziz (AM) e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (MG), que é candidato ao governo de Minas e deve ter o apoio do PT. No Paraná, o governador Ratinho Jr. tem sinalizado adesão a Bolsonaro.
Leite sempre foi considerado antipetista. Na campanha de 2018, o então candidato tucano avalizou Bolsonaro, mas depois se distanciou do presidente eleito. Em novembro do ano passado, o gaúcho perdeu as prévias do PSDB para Doria. Embora uma ala de ex-presidentes do partido tente convencer a cúpula tucana a recuar da pré-candidatura de Doria, as mudanças são descartadas de antemão.
Bruno Araújo quer manter Leite no PSDB com a promessa de que ele pode assumir logo mais uma função de destaque, como a própria presidência do partido, e depois ser escolhido candidato ao Palácio do Planalto, em 2026. Araújo usa, para tanto, o argumento de que o governador ainda é muito novo: acabou de completar 37 anos.
Um exemplo citado no PSDB remonta a 2010, quando Aécio desistiu de ser candidato à Presidência e abriu caminho para que o senador José Serra (SP) disputasse a vaga. Na eleição seguinte, em 2014, o mineiro foi escolhido por consenso para representar o PSDB na corrida ao Planalto.
"Mas as prévias não deram o partido ao candidato. Deram um candidato ao partido", tem rebatido Leite, quando esses argumentos lhe são apresentados. "Se me comprovarem que meu papel é outro, que é dando suporte na retaguarda, não tem nenhum problema em assumir esse papel. Mas, enquanto houver um grupo representativo achando que eu posso ser uma liderança desse projeto, estou aqui discutindo como ele pode se viabilizar", disse o governador na terça-feira, 15, após se reunir com Araújo. Foi ali, na sede do PSDB, que Leite reafirmou, mais uma vez, a intenção de ser candidato à sucessão de Bolsonaro.