Valdemar insiste em supostas falhas nas urnas para chamar a atenção de Lula; leia análise
Presidente do PL falará do sistema de votação numa possível tentativa de se cacifar nas negociações futuras com o novo governo
O presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, anunciou nesta terça-feira, 22, que haveria supostas falhas no funcionamento das urnas eletrônicas. O dirigente do partido do presidente Jair Bolsonaro, derrotado na disputa com o petista Luiz Inácio Lula da Silva, faz o movimento seguindo o interesse do chefe do Executivo de contestar de alguma maneira o resultado das eleições deste ano. Mas a iniciativa do presidente do PL pode ter outra intenção: se cacifar para futuras negociações com a nova gestão.
Valdemar alega que não quer abrir confronto com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele mesmo já declarou que não quer pedir uma nova votação, até porque isso implicaria em por em dúvida os votos dados a deputados, senadores e governadores. Não se pode esquecer que a urna que agora o PL diz que não presta ajudou a dar ao partido a maior bancada na Câmara.
Na matemática do PL, o que precisa ser excluído da apuração são os votos registrados em urnas antigas. O argumento do partido é que só valem aqueles digitados nos aparelhos de 2020, no que parece seguir um suposto especialista argentino que numa live declarou que as urnas mais velhas não tinham sido submetidos a auditoria, informação que é falsa, uma vez que os modelos passaram por testes anteriores.
Ao dar vazão a uma iniciativa que parece tentativa de não reconhecer o resultado das eleições, Valdemar, na verdade, estaria se posicionando para ser chamado a conversar com o grupo que, de fato, venceu nas urnas.
Desde o início do ano, em declarações públicas, Bolsonaro reforçou o discurso de por em dúvida os aparelhos de votação. O presidente tentou emplacar uma versão de voto impresso, mas a proposta não foi encampada pelo Congresso. Ele também acionou as Forças Armadas que enviaram mais de 80 questionamentos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os militares tentaram ainda por em prática uma apuração paralela. Ao final da eleição, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, enviou ao TSE um relatório que não apontava falhas nas urnas, mas continuava sustentando que há dúvidas sobre o funcionamento das urnas.
Valdemar não é o primeiro do entorno de Bolsonaro a levantar dúvidas sobre as urnas para deixar em aberto o resultado da eleição. O vice na chapa presidencial, o general Braga Netto, numa conversa com apoiadores na frente do Palácio da Alvorada pediu a eles que mantivessem a fé, mas que não poderia falar mais do que isso, por enquanto. O ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), enviou audio a pessoas próximas relatando ter falado com Bolsonaro e dando conta de uma suposta movimentação nos quartéis. Diante da repercussão negativa, Nardes disse que respeita as instituições e não concorda com rupturas institucionais.
Segundo apurou o Estadão, entre a cúpula militar não há disposição para sustentar qualquer iniciativa golpista. O Alto Comando já havia indicado que respeitaria o resultado das urnas independentemente de quem vencesse a disputa.
Hoje, Valdemar ainda se apresentou abraçado ao candidato que naufragou pelo voto e ainda poderá vir a sustentar que fez o que fez apenas para atender o presidente ainda no posto. Mas ele não tem pendores de oposicionista. Com seu candidato derrotado na disputa presidencial, o político pode voltar-se para quem terá o poder nas mãos. Resta saber a que preço.