Veja 'ameaça' a sócio de Moro que fez juiz Appio ser afastado da Lava Jato
Appio foi retirado do cargo em decisão cautelar do TRF-4 após ter supostamente ameaçado o filho do desembargador federal Marcelo Malucelli
Antes de completar quatro meses no cargo, o juiz federal Eduardo Fernando Appio, de 53 anos, foi afastado do posto de titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, cadeira anteriormente ocupada pelo agora senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) no auge da Operação Lava Jato. O afastamento foi motivado por uma 'ameaça' narrada pelo advogado João Malucelli, sócio do escritório Wolff e Moro. O Estadão revelou qual teria sido a suposta ameaça feita ao filho do desembargador federal Marcelo Malucelli.
Segundo o jornal, essa 'ameaça' foi feita em uma ligação realizada por um suposto 'Fernando Pinheiro Gonçalves', que teria se apresentado como servidor da área de saúde da Justiça Federal do Paraná. Na chamada, ele teria feito uma pergunta ao filho do desembargador Marcelo Malucelli, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região: "O senhor tem certeza que não tem aprontado nada?", questionou.
De acordo com o Estadão, João Malucelli conseguiu gravar a ligação com um outro aparelho celular e levou o conteúdo ao TRF-4 para apuração. Por esse motivo, os desembargadores da Corte Especial Administrativa do Tribunal afastaram Appio, já que viram indícios de que o próprio magistrado teria ligado para João Malucelli, se passando pelo servidor 'Fernando' - que não existe no banco de dados da Justiça Federal do Paraná.
A transcrição da conversa que ocorreu entre João e 'Fernando' consta no voto do desembargador Cândido Alfredo Silva Leal Júnior, relator da investigação que teve como consequência o afastamento de Appio.
O jornal revelou que o magistrado fez uma linha do tempo de eventos que, conforme avaliou, reforçam as suspeitas contra o agora juiz afastado. Veja:
12 de abril - A 8ª Turma do TRF-4 segue voto do desembargador Malucelli, à época relator da Lava Jato na Corte, e acolhe parcialmente questionamento feito pelo Ministério Público Federal sobre a conduta de Appio, determinando que o magistrado analise um pedido de suspeição contra ele formulado. O processo poderia resultar no afastamento do magistrado da Lava Jato
13 de abril, 12h12 - Appio acessa processo de execução movido pela deputada Rosangela Moro. Em outubro de 2022, a advogada autorizou que João Malucelli atuasse em seu favor no processo.
13 de abril - 12h14 - João Malucelli recebe o telefone com a 'ameaça'. O número do celular que ligou para o advogado constava como desconhecido.
13 de abril, 17h40 - É divulgado no Twitter o número de telefone do advogado, aponta a Corte, em um 'print' que só poderia ter sido realizado, segundo a Diretoria de Tecnologia da Informação do TRF4, 'através de um usuário logado com o perfil de magistrado'.13 de abril - No mesmo dia em que João recebeu a ligação, o desembargador Marcelo Malucelli acionou o TRF-4, 'noticiando possibilidade de ameaça e pedindo providências'.
14 de abril - A Corte pede ajuda à Polícia Federal para apuração do caso
17 de abril - O TRF-4 volta a acionar a PF apontando 'necessidade de se identificar a voz que aparece na gravação, para confirmar ou descartar a possibilidade de que aquela voz - que se passou por servidor inexistente na área de saúde do tribunal - fosse do juiz federal Eduardo Fernando Appio, que havia consultado o processo divulgado no Twitter'.
Ainda de acordo com reportagem do Estadão, Cândido Alfredo aponta que um laudo feito pela Polícia Federal 'corrobora fortemente a hipótese de que a voz presente na gravação da ligação ao filho do desembargador Malucelli foi produzida por Appio'.