Veja o que Bolsonaro fazia nos dias da suposta vacinação contra a covid-19
Ex-presidente esteve em eventos religiosos, políticos e pegou voos nos dias em que supostamente teria se vacinado
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigado sobre suposta fraude na carteira de vacinação contra a covid-19, teve uma agenda extensa nos dias 13 de agosto e 14 de outubro de 2022, quando teria recebido doses do imunizante, conforme as informações foram inseridas no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI). Conforme as investigações, ambas de lotes de vacina enviados ao município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Segundo aponta o jornal O Globo, entre os eventos estão a participação na Marcha para Jesus, um comício eleitoral, entrevista e voos. A agenda cheia dificultaria a ida até a unidade de saúde nas datas apontadas.
Na quarta-feira, 3, a Polícia Federal cumpriu 16 mandados de busca e apreensão, que tinha como um dos alvos a casa do ex-presidente e prendeu seis pessoas envolvidas no esquema, entre elas o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e seguranças do ex-mandatário.
O que Bolsonaro fez em 13 de agosto
Durante a manhã, o ex-presidente foi até a Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, para conceder uma entrevista ao influenciador Rica Perrone, no canal de Youtube Cara a Tapa. O papo ocorreu por três horas, no qual Bolsonaro fez críticas a governos de esquerda, à liberdade de expressão em relação ao sistema eleitoral brasileiro e também à pandemia de covid-19.
"Você está proibido, no Brasil, de discutir qualquer assunto. Tem os checadores, que são os deuses, e dizem: 'Isso é fake news'. Quando eu falo em liberdade, tem que ser total", declarou Bolsonaro.
Já à tarde, ele foi à Marcha Para Jesus, no Centro do Rio, e subiu ao palanque por volta das 17h30. Na ocasião, ele convocou seus seguidores para o ato de 7 de Setembro, na Praia de Copacabana.
O então chefe do Executivo retornou a Brasília às 21h25, conforme aponta a matéria.
O que Bolsonaro fez em 14 de outubro
Dois meses depois, data em que ele teria recebido a segunda dose da vacina, de acordo com o sistema do Ministério da Saúde, Bolsonaro participou de um comício em Duque de Caxias, por volta das 11h da manhã. Por volta das 13h40, ele pegou um voo até Belo Horizonte.
Ainda segundo o jornal, neste período não houve nenhum registro de sua ida até uma unidade de saúde da cidade para se vacinar. Na verdade, o que foi amplamente divulgado foi a instabilidade na estrutura do palanque onde ocorria o comício.
Estavam com o ex-presidente o governador reeleito Cláudio Castro (PL), o senador reeleito Romário (PL), o ex-prefeito Washington Reis (MDB), e o seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Bolsonaro chegou a se escorar em pessoas que o acompanhavam no palanque e até a pular no palanque para mostrar ao público que estava tudo bem. Não há nenhum registro público da suposta vacinação.
"É claro que um presidente da República não teria como se dirigir a uma UBS do Município sem que ninguém percebesse para tomar uma possível segunda dose de vacina", aponta trecho do despacho emitido pelo controlador-geral da União, Wagner Rosário, em relatório da CGU.
Como polícia chegou à suspeita de fraude
Apesar da inserção dos dados, o sistema do Ministério da Saúde recusou as informações, pois o lote de vacinas em questão havia sido enviado para Goiás, e não para o Rio de Janeiro, conforme informado. Depois disso, iniciou-se uma troca de mensagens entre Mauro Cid e seus ajudantes, o que acabou resultando na operação desencadeada desta quarta-feira.
Por meio dessas mensagens, a PF descobriu que eles precisavam obter outro número de lote de vacinas, desta vez do Rio de Janeiro, para realizar o registro. Com o registro do cartão de vacinação, o grupo baixou os arquivos, imprimiu os cartões e, em seguida, os excluiu do sistema. Dessa forma, se alguém buscasse pelos registros de vacinação do grupo no sistema eletrônico, não encontraria nada.
Somente após ter acesso às mensagens de Cid e realizar uma perícia no sistema, a PF descobriu a adulteração. Até então, não se tinha conhecimento de que Jair Bolsonaro e sua filha também haviam registrado cartões falsos.
O que diz Bolsonaro
A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro pediu à Polícia Federal (PF) o adiamento do depoimento que seria prestado às 10h desta quarta-feira, 3, na sede da corporação em Brasília. Segundo os advogados, eles não tiveram acesso aos autos da investigação. No entanto, assim que eles forem disponibilizados e analisados, o ex-presidente prestará os esclarecimentos.
Em entrevista no início da tarde desta quarta, o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República, Fábio Wajngarten, colocou em dúvida se Bolsonaro, de fato, chegou a apresentar a carteira de vacinação ao entrar nos Estados Unidos.
"Ainda vamos apurar se ele apresentou carteira de vacinação, mas acho que ele entra [à época nos EUA] com o visto como Presidente da República", ponderou o auxiliar de Bolsonaro. "O Brasil inteiro conhece a posição do presidente quanto à vacina. A vacina é uma decisão de cunho pessoal, cabe a cada um decidir se vai tomar a vacina ou não".
Wajngarten também afirmou que a defesa foi "pega de surpresa" com a Operação Venire, mas que todos os investigados foram muito bem tratados pela equipe da Polícia Federal.