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Política

Vídeo de reunião fragiliza ainda mais Weintraub no governo

Alvo de núcleo militar do Planalto, ministro da Educação escancara divergências com rumos da administração

22 mai 2020 - 19h19
(atualizado às 19h27)
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Desgastado no governo, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ficou ainda mais enfraquecido nesta sexta-feira, 22, com a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril. No encontro, Weintraub aparece dizendo que magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) deveriam ser presos. O ministro do STF Celso de Mello disse ter constatado a ocorrência de "aparente prática criminosa" cometida por Weintraub ao se referir à Corte.

Ministro da Educação, Abraham Weintraub, no Palácio do Planalto
09/04/2019 REUTERS/Adriano Machado
Ministro da Educação, Abraham Weintraub, no Palácio do Planalto 09/04/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

"Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF", afirmou o ministro. Weintraub chegou a comparar Brasília a um "cancro de corrupção, de privilégio", reclamou de só levar "bordoada" e, ainda por cima, ser alvo de processo na Comissão de Ética da Presidência.

Ao se definir como um ministro "do grupo mais ligado com a militância", Weintraub admitiu que continuava "militando" e se queixou de "intrigas palacianas", além da "agenda própria" de muitos colegas. Embora não tenha dito a palavra Centrão, ele não escondeu a contrariedade com as negociações políticas em andamento.

"A gente tá conversando com quem a gente tinha que lutar. (...) Fico escutando esse monte de gente defendendo privilégio, teta (...) Negócio. Empréstimos. A gente veio aqui para acabar com tudo isso, não para manter essa estrutura", insistiu o ministro da Educação.

A cena provocou mal estar e constrangimento no Planalto, embora Bolsonaro tenha concordado ali com o raciocínio do auxiliar. "O que o Weintraub tá falando - eu tô com 65 anos - (é que) a gente vai se aproximando de quem não deve. Eu já tenho que me policiar no tocante a isso daí. São pessoas aqui em Brasília, dos três Poderes, que não sabem o que é povo", observou presidente na reunião.

Integrante da ala ideológica do governo, que tem o escritor Olavo de Carvalho como guru, Weintraub é alvo do núcleo militar do Planalto. Nos últimos dias, os ataques a ele aumentaram nas redes sociais após sua resistência em adiar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na quarta-feira, porém, o governo confirmou que o Enem será postergado em um ou dois meses - de novembro para dezembro ou janeiro de 2021 --, por causa da pandemia do novo coronavírus.

A decisão, porém, expôs mais um capítulo da queda de braço dentro do governo. Bolsonaro teve de enquadrar Weintraub após ser informado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que seria derrotado no Congresso se insistisse em manter a data do Enem.

O episódio serviu para irritar ainda mais o presidente. Bolsonaro tem se aborrecido com o ministro da Educação há algum tempo, mas vem adiando uma decisão mais assertiva sobre o destino do auxiliar. Um dos motivos é porque tem apreço pessoal por Weintraub e, principalmente, pelo irmão dele, Arthur, que é seu assessor na Presidência. Os dois foram indicados para o governo por Onyx Lorenzoni, que foi chefe da Casa Civil e hoje é ministro da Cidadania.

O problema é que Weintraub tem comprado várias brigas dentro e fora do governo. O ministro foi contra, por exemplo, entregar a presidência e diretorias do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento de R$ 29,4 bilhões neste ano, a partidos do Centrão. Bateu o pé enquanto pôde, obrigando Bolsonaro a lhe dar um ultimato: ou aceitava ou tinha de sair. Ele cedeu.

Na reunião de 22 de abril, Weintraub mencionou várias vezes que o governo não está sendo bastante duro contra os privilégios e disse que, em Brasília, o jogo já é jogado. "Mas eu não vim pra jogar o jogo. Eu vim aqui pra lutar. E eu luto e me ferro", reclamou.

Não é de hoje, porém, que o ministro da Educação tem escancarado suas divergências com os rumos do governo.

Em fevereiro, por exemplo, Weintraub deixou claro o descontentamento com a decisão de Bolsonaro de levar o general Walter Braga Netto para a Casa Civil, deslocando Onyx para a Cidadania. Na avaliação da ala ideológica do governo, que tem em Weintraub um de seus principais expoentes, os militares querem ocupar cada vez mais cargos e espaço no governo Bolsonaro para tutelar seus atos. A ideia seria transformá-lo em uma espécie de rainha da Inglaterra, que reina, mas não governa.

Se depender do núcleo verde-oliva instalado no primeiro escalão, porém, tanto Weintraub como Onyx podem ser defenestrados. Na prática, a ala militar do governo trabalha, nos bastidores, pela substituição dos dois ministros. O Ministério da Cidadania, pasta comandada por Onyx, abriga programas importantes para Bolsonaro na área social, como o Bolsa Família e o das cisternas no Nordeste. No diagnóstico de generais, porém, Weintraub e Onyx criam mais problemas do que soluções para Bolsonaro.

Com a intenção de concorrer ao governo do Rio Grande do Sul, em 2022, Onyx entrou em confronto com o general Luiz Eduardo Ramos, que assumiu a Secretaria do Governo, quando ainda estava na Casa Civil, e teve suas funções esvaziadas.

Em recente reunião, Weintraub e Onyx discutiram estratégias para se contrapor à ofensiva dos militares. A ala ideológica do bolsonarismo está cada vez mais desconfiada com o avanço dos generais sobre estruturas do governo, inclusive sobre o Ministério da Saúde. Em conversas reservadas, Weintraub diz temer que esse "reforço" das Forças Armadas possa se voltar contra o próprio Bolsonaro mais adiante.

Weintraub assumiu o MEC em abril do ano passado, após a demissão de Ricardo Vélez Rodriguez, que ficou apenas três meses no cargo. À época, ele era secretário executivo da Casa Civil, então ocupada por Onyx. Naquele mesmo mês, Weintraub ameaçou cortar recursos de universidades que estivessem promovendo balbúrdia em seus câmpus, em vez de melhorar o desempenho acadêmico, como mostrou o Estadão.

De lá para cá, o ministro protagonizou uma sucessão de polêmicas. Em maio do ano passado, ele chegou até mesmo a divulgar vídeo nas redes sociais no qual aparecia girando um guarda chuva aberto. O fundo musical era o clássico "Cantando na chuva", de 1952. Tudo para dizer que chovia fake news contra o MEC por parte de pessoas "de mal com a vida".

No último mês de abril, Weintraub postou uma publicação irônica contra a China, insinuando que o país asiático sairia "fortalecido" da crise causada pelo coronavírus. Não foi só: afirmou que a China segurou informações sobre a pandemia para vender respiradores e máscaras a preço de leilão. O ministro também fez piada com o sotaque dos chineses, comparando-o ao do personagem "Cebolinha", criado por Maurício de Sousa. Weintraub chegou a usar uma imagem dos personagens da Turma da Mônica ambientada na Muralha da China e quase provocou uma crise diplomática.

Estadão
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