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Política

Voto útil casado pode complicar a vida de Aécio e Marina

22 ago 2014 - 10h38
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O maremoto causado pela entrada de Marina Silva na corrida presidencial como candidata do PSB na esteira da morte de Eduardo Campos está longe de acabar e ainda é cedo para fazer apostas firmes sobre os próximos desdobramentos, mas dá para pensar que o chamado voto útil pode voltar à tona.

Mas de um modo um pouco mais complexo do que normalmente, o que poderá ser decisivo para Marina e para o candidato do PSDB, Aécio Neves.

Geralmente, o voto útil surge em eleições que se decidem em um turno só ou quando a disputa já está num segundo turno. Isso porque ele consiste basicamente, mais do que escolher alguém, em votar no candidato que tem mais chances de derrotar quem o eleitor quer que perca.

Três exemplos da história ajudam a mostrar isso claramente, o primeiro deles quando os dois turnos ainda não eram adotados no Brasil.

Na eleição para prefeito de São Paulo em 1988, a então candidata do PT, Luiz Erundina, se beneficiou da altíssima rejeição de Paulo Maluf (PDS) na época --rejeição essa embalada por ele ter sido o último candidato a presidente em eleição indireta apoiado pelos militares no poder-- e acabou eleita, contrariando todos os prognósticos.

Dois anos depois, na eleição para o governo paulista, foi a vez de Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB), um ex-secretário de Segurança Pública sem experiência eleitoral, se beneficiar da rejeição a Maluf e vencer no segundo turno.

Nas eleições presidenciais, o caso clássico é o segundo turno de 1989, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentava pela primeira vez chegar ao Palácio do Planalto e despertava uma grande apreensão em amplos setores da sociedade devido ao então radicalismo de sua propostas. Seu adversário, Fernando Collor de Mello, foi o único escoador possível para quem queria garantir a derrota de Lula.

Com a alta rejeição da presidente Dilma Rousseff (PT), que busca a reeleição, e um grande desejo de mudança, conforme mostram as pesquisas de opinião, e com dois candidatos competitivos disputando o segundo lugar, o eleitor pode fazer um voto casado. Ou seja, votar já no primeiro turno em quem ele acha que tem mais condições de derrotar Dilma na segunda rodada, optando desde agora pelo voto útil.

No primeiro levantamento depois da morte de Campos, o Datafolha divulgado na madrugada de segunda-feira, Marina apareceu como essa pessoa. Na sondagem ela tinha 47 por cento das intenções de voto contra 43 por cento de Dilma na simulação de segundo turno, no limite da margem de erro de 2 pontos percentuais. Já Aécio tinha 39 por cento contra 47 de Dilma, sendo derrotado pela petista.

Para o primeiro turno, Dilma tinha 36 por cento das intenções de voto, enquanto Marina aparecia com 21 por cento e Aécio com 20 por cento.

Eleitores que querem muito a derrota de Dilma podem mudar seu voto no primeiro turno para quem eles veem com mais chances de ganhar na segunda rodada.

Mas não se deve fazer prognósticos com base nesta primeira pesquisa. Ela foi feita no calor da hora da morte de Campos, que tinha Marina como vice na chapa do PSB.

A comoção pela morte trágica certamente diminuirá. Além disso, Aécio tem bem mais tempo que Marina no horário eleitoral de rádio e TV e uma estrutura de campanha e alianças estaduais mais fortes e abrangentes.

Por outro lado, Marina representa a chamada terceira via, a possibilidade de quebrar a polarização PT X PSDB que dura desde 1994 nas eleições presidenciais. Ela personifica em boa medida o espírito das manifestações populares de junho de 2013 e ainda tem um alto recall, pelos quase 20 milhões de votos que teve em 2010, quando foi candidata à Presidência pelo PV.

As próximas semanas, quando a poeira sobre a morte de Campos tiver assentado e os primeiros efeitos da propaganda obrigatória tiverem se manifestado, devem deixar mais claras as chances de cada um.

Enquanto isso, Marina e Aécio têm que fazer um esforço para não deixar que um ou outro desgarre nas intenções de voto para o primeiro turno ou nas chances de vencer Dilma num segundo, de modo a evitar o voto útil para seu oponente direto em 5 de outubro.

Se acontecer de pesquisas mostrarem um deles num segundo lugar mais folgado na primeira rodada, mas com menos chances de derrotar Dilma no segundo turno, pode haver uma migração. Se as sondagens mostrarem eles embolados para 5 de outubro e um deles se destacando para a votação de 26 de outubro, a migração pode ser ainda maior.

Ainda mais porque, além do voto útil, é bastante comum no Brasil a preocupação de eleitores que não querem "perder o voto", ou seja, votam em quem acham que vai ganhar.

* Esta coluna foi publicada no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters, na quinta-feira, 21 de agosto.

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