'Politicamente, seria bom' se Lula disputasse Presidência, diz Meirelles em Londres
Apesar de defender a candidatura - para eliminar "discussão no futuro" sobre o assunto -, Meirelles ressaltou que a Justiça é "soberana e independente" para julgar o ex-presidente.
Possível candidato à eleição presidencial, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta segunda-feira, em Londres, que, "politicamente, seria bom" que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participasse da disputa.
Na próxima quarta, dia 24, o Tribunal Regional Federal da 4 Região (TRF-4) decide se mantém ou não condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP).
Uma decisão contrária ao ex-presidente pode torná-lo inelegível. A Lei da Ficha Limpa impede a candidatura de pessoas com condenação por órgãos colegiados.
"É um processo normal da Justiça, com consequências políticas. Mas eu não tenho olhado isso com foco. Do ponto de vista político, seria bom que ele, evidentemente, disputasse", disse Meirelles, após agenda de um dia em Londres que incluiu reunião com investidores e presidentes de fundos de pensão.
O ministro destacou, porém, que o Judiciário é "independente" e tomará decisão com base nas provas. "Do ponto de vista da Justiça, é outra história. A Justiça é soberana e independente e vai tomar sua decisão baseada nas evidências disponíveis."
Perguntado sobre por que considera que eventual candidatura de Lula seria boa "do ponto de vista político", Meirelles respondeu:
"Porque isso elimina essa discussão no futuro. Disputou e tal. Ganhou ou perdeu? Tudo bem."
"Politicamente, quanto mais candidatos, melhor", acrescentou.
"Não só ele. Qualquer um. Todos os candidatos que queiram disputar, que tenham representatividade, do ponto de vista político, é bom. Agora, do ponto de vista judicial, é outra coisa", completou.
Meirelles também disse que os investidores com os quais se reuniu nesta segunda manifestaram preocupação com os possíveis resultados da eleição presidencial e chegaram questionar se ele seria ou não candidato.
"Existe sim (uma preocupação). Existe uma maior ênfase no processo eleitoral. E em como será a política do Brasil, a política fiscal, a política econômica, a partir de 2019."
"O que eu disse a eles é que tomarei uma decisão sobre isso no começo de abril. Portanto, eu não estou pensando sobre isso. Estamos trabalhando com foco total na economia", ressaltou.
Embora não tenha querido dar detalhes sobre a própria pretensão de se candidatar, Meirelles defendeu que o presidente que se eleja mantenha as reformas econômicas propostas pelo atual governo.
"O Brasil está num processo de reforma. O país está crescendo como resultado disso, e eu de fato penso que a grande tendência é que o Brasil prossiga nessa linha. Portanto, que seja eleito um presidente que seja comprometido com esse processo de reformas da economia, de modernização da economia em andamento."
Previdência
Sobre a reforma da Previdência, Meirelles afirmou que foi pressionado pelos investidores, na reunião desta segunda, a especificar as chances de aprovar em fevereiro a proposta que, entre outros pontos, fixa uma idade mínima para a aposentadoria.
"Eles me perguntaram: 'Mas então tem pelo menos 50% de chance?' E eu: 'Tem, tem, sim'. Mas a nossa expectativa é maior do que essa. É que deverá ser aprovada", disse.
"O que se discute não é se haverá uma reforma da Previdência, mas sim quando. Idealmente agora. Se não for, depois. Que será feita uma reforma da previdência, não tem dúvida, porque o déficit não é sustentável".
Relação com Reino Unido e fórum em Davos
Meirelles também se reuniu com membros do governo britânico e adiantou que o Reino Unido tem interesse em negociar um acordo de livre comércio com o Brasil, mas que isso só ocorreria após a conclusão do Brexit, em 2019.
Ainda nesta segunda, Meirelles embarca para Davos, na Suíça, que sediará o Fórum Econômico Mundial. Lá, ele tentará passar a mensagem de que o Brasil segue em trajetória de crescimento econômico e que as bases da economia devem ser mantidas, embora haja incertezas quanto ao resultado na eleição presidencial de outubro.
"A retomada do crescimento econômico já é um fato. A gente deve crescer 3% esse ano", ressaltou.
"Existe uma preocupação normal do que será o Brasil em 2019, por causa do processo eleitoral. E isso deve ser endereçado da mesma forma como fizemos aqui. Acredito que o Brasil manterá a estratégia de modernização da economia."