Poupado em protestos, Congresso será alvo de ato da esquerda
Protestos convocados por entidades como CUT, MTST e MST, vão às ruas nesta quarta contra projeto de terceirização que tramita no Congresso
Poupado nas manifestações antigoverno dos dias 15 de março e 12 de abril, o Congresso deverá ser a bola da vez no primeiro grande protesto comandado por movimentos e entidades de esquerda, em São Paulo e em outras capitais, na noite de quarta-feira (14). O foco dos manifestantes é o projeto de lei 4330/2004, que terceiriza atividades-fim no mercado de trabalho e foi aprovado semana passada na Câmara. A matéria ainda precisa ser votada no Senado antes de seguir para sanção ou veto da presidente Dilma Rousseff (PT).
O ato é comandado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e pelo Movimento dos Sem Terra (MST), os quais apoiaram a reeleição de Dilma no segundo turno da eleição presidencial de 2014. Além deles, entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Central de Movimentos Populares e outras centrais sindicais também engrossarão o evento.
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Em São Paulo, a concentração será a partir das 17h no Largo da Batata, zona oeste da cidade. De lá, os manifestantes seguirão em passeata, mas o trajeto ainda não divulgado. Outras cidades também realizam o protesto, como Fortaleza, Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba, Teresina e Porto Alegre. Para o dia todo, porém, a CUT promete paralisações em empresas com trabalhadores de sindicatos pertencentes às centrais que participarão do ato – em portos, bancos, fábricas e comércio.
“A paralisação e o protesto com passeata são contra a votação do PL 4330 na Câmara e para que o Senado retifique essa decisão. O governo já vem se posicionando contra o projeto, uma vez que toda a bancada do PT votou contra; agora, tem que orientar sua bancada no Senado a também votar contrariamente”, definiu o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas.
“Temos que deixar claro o seguinte: o PL 4330 demite os trabalhadores, por isso somos contra. Toda a classe trabalhadora que tem acordo de trabalho vigente com sua empresa corre risco, porque o empresário poderá fazer contrato com outra empresa e trazer funcionários terceirizados para fazer o serviço. E por muito menos, e sem precisar pagar direitos trabalhistas como 13º salário, férias, recolhimento do FGTS”, avaliou Freitas, para completar: “Isso rasga a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)”.
Para o presidente da CUT, a ausência da pauta anti-terceirização nos protestos do dia 12 – menos de uma semana após a aprovação do projeto pela Câmara – não surpreendeu.
“Nenhuma das pautas dos trabalhadores estava nos protestos do dia 12 – não era a classe trabalhadora que estava lá. Só havia pauta conservadora: diminuição da maioridade penal, menos direitos a negros e homossexuais, impeachment... Até falam de combate à corrupção, mas não apontam um caminho – a CUT está apontando, quando pede, por exemplo, o fim do financiamento empresarial de campanha”, citou. “Se o Senado não rejeitar, ou se a presidente não vetar esse projeto, haverá um retrocesso e os trabalhadores irão para a rua por um motivo organizado e com muito mais gente do que havia nas ruas domingo”, declarou Freitas.
Por outro lado, o presidente da CUT avaliou que a pauta anti-PT dos atos do dia 12 não representariam o todo – mas uma “minoria conservadora, fascista e radical”. “Havia pessoas lá pedindo melhorias das condições de vida, protestando de fato contra a corrupção... queremos o apoio desses também, porque todo tipo de trabalhador é afetado por essas mudanças de regra nas terceirizações”, concluiu.
MTST também vai para as ruas
Crítico também de uma pauta supostamente conservadora dos protestos de domingo, o MTST vai aderir ao protesto com foco anti-Congresso e anti-terceirização. É a primeira vez que o movimento participará de ato com outras entidades de esquerda desde a reeleição de Dilma e os primeiros protestos contra ela e o PT, semanas depois do segundo turno.
“Essa manifestação será bastante representativa dos trabalhadores – e com uma pauta concreta. Não temos intenção de concorrer numericamente com os atos anti-PT e antigoverno, mas estamos em um momento delicado em que Renan Calheiros (PMDB) e Eduardo Cunha (PMDB) (respectivamente, presidente do Senado e da Câmara), denunciados em escândalos de corrupção, aprovam medidas completamente conservadoras. Precisamos ir para as ruas”, classificou uma das coordenadoras estaduais do MTST, Natália Zerneta.
Se a ausência da pauta contra a terceirização do protesto de domingo causou alguma surpresa? “Não, porque as ações dessa turma têm, em grande partem, o intuito de formar ódio ao PT e à esquerda, além de pedir o fim do PT e do governo. O objetivo deles não é melhorar a qualidade de vida do trabalhador, mas derrotar um partido – não achamos que esse seja o caminho”, pontuou.