PSB vai para oposição a Temer e foca em aprovar PEC das diretas
O PSB anunciou neste sábado que está na oposição ao governo de Michel Temer e vai atuar para paralisar a pauta de votação do Congresso até a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que permite convocação de eleições diretas no caso de queda do presidente.
O partido, que até então atuava como "independente" do governo, defende a imediata renúncia de Temer. Já o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que integra o PSB, ainda não deu qualquer declaração indicando se sairá do governo.
A saída do PSB é reflexo do forte desgaste enfrentado por Temer desde que foi revelada uma conversa entre ele e o dono da JBS, Joesley Batista, na qual o empresário relata suas tentativas de obstruir a Justiça. Temer, que na gravação da conversa aparece dando consentimento à conduta criminosa de Batista, diz em sua defesa que não acreditou no que o empresário dizia e o acusa de ter manipulado o áudio.
Com a decisão desse sábado, o PSB se une assim aos esforços de outras sigas que já estavam na oposição, como PT, PCdoB, PDT, PSOL e Rede, no objetivo de aprovar a PEC. O mais novo partido oposicionista tem a sétima maior bancada da Câmara, com 35 deputados, e a quarta maior no Senado, com sete representantes.
Pela Constituição, se o cargo de presidente e vice ficarem vagos ao mesmo tempo após já ter decorrido metade do mandato, duas novas pessoas devem ser escolhidas pelo Congresso Nacional para os postos.
Por enquanto, integrantes da base de Temer, como PSDB, DEM e PMDB, parecem preferir, no caso de queda do peemedebista, uma eleição indireta que permita eleger um presidente alinhado com a aprovação das reformas propostas pelo atual governo. Dois nomes que têm sido especulados são o do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Embora reconheça que a aprovação da PEC das diretas deve encontrar resistência, o deputado federal Julio Delgado (PSB-MG) diz que a oposição hoje já tem tamanho suficiente para obstruir a pauta de votação, lançando mão de instrumentos como requerimento de retirada de pauta, apresentação de destaques e tempo de fala das lideranças dos partidos.
"A gente sabe da dificuldade disso (de aprovar a PEC), mas ele resistindo (a renunciar), o que a gente tem que fazer é andar", defende Delgado.
"Num momento crítico como esse, a legitimidade maior que temos é a do eleitor originário, do cidadão. Não é um Congresso com mais de 100 parlamentares investigados que deve escolher o novo presidente", acrescentou.
O deputado disse à BBC Brasil que o novo pronunciamento de Temer feito neste sábado, no qual ataca Joesley Batista e o acusa de "quebrar o Brasil", não convence, já que o mero fato de ter recebido uma pessoa sob investigação no Palácio do Jaburu, sem registro oficial, já revelaria a inconsistência de sua defesa.
"Achei que o presidente foi contundente ao sair atacando. Joesley é realmente uma figura desconsiderável. Agora, quem deu relação, quem deu oportunidade para ele (o empresário) ir à casa (de Temer) sem se identificar, para ter uma conversa na garagem, no subsolo do Jaburu?", questiona.
"Isso já demonstra a proximidade deles. A relação deles não é de hoje, é desde o governo Dilma, quando ele era o vice e nunca criticou os empréstimos do BNDES (para o grupo JBS)", afirmou.
Desfacelamento da base?
Para Delgado, a tendência é que mais partidos deixem o governo. Outro que já anunciou sua ida para oposição foi o Podemos (novo nome do PTN), que conta com 13 deputados.
Já no PPS, embora a direção do partido tenha anunciado o desembarque da base aliada, apenas um dos seus ministros entregou o cargo, o deputado federal Roberto Freire, da pasta da Cultura. Ainda assim, ele manteve compromisso com a votação das reformas no Congresso.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, por sua vez, disse em nota que "irá permanecer na função pela relevância de sua área de atuação de segurança do Estado brasileiro neste momento de crise e indefinições".
A expectativa recai agora sobre o destino do PSDB, principal aliado do PMDB no governo Temer. A previsão é que os tucanos, e também o DEM, anunciem no início da próxima semana se saem ou não.
Caso decidam sair, a situação do presidente fica ainda mais delicada, elevando a pressão por sua renúncia ou para que o Tribunal Superior Eleitoral casse seu mandato ao julgar a legalidade da chapa de Dilma Rousseff e Temer na eleição de 2014. O julgamento está marcado para 6 de junho.