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PSD surge como a 3ª maior bancada na Câmara de Deputados

8 out 2011 - 10h06
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Daniel Favero

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o governador de SC, Raimundo Colombo, participaram da inauguração da sede do partido em SC
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o governador de SC, Raimundo Colombo, participaram da inauguração da sede do partido em SC
Foto: Fabrício Escandiuzzi / Especial para Terra

Antes mesmo do prazo final para filiação de políticos que pretendem concorrer a cargos eletivos no ano que vem, o Partido Social Democrático (PSD) tem recebido um grande número filiações e já conta com a terceira maior bancada no Congresso Nacional.

São 52 deputados, a maioria vinda do DEM, além de dois senadores, segundo afirma o líder da legenda na Câmara, o deputado federal paulista Guilherme Campos. Com isso, o partido passa o PSDB, que passaria a ter 51 deputados, e fica atrás apenas do PT, com 88 deputados, e do PMDB, com 78. No entanto, especula-se a saída de cinco peemedebistas da legenda para se filiar ao partido criado pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.

Nos Estados, o partido conta com dois governadores, seis vice-governadores e centenas de deputados federais, segundo afirma a própria legenda. Campos diz que existe ainda muita movimentação na Câmara entre os parlamentares. Na legislatura atual, que tomou posse no começo do ano, foram eleitos 88 deputados do PT, 78 do PMDB, 52 do PSDB, 44 do PP e 43 do DEM. "Tem movimentação em todos eles. Vamos ter que esperar o resultado final para ver que tamanho e a composição que a bancada vai adotar na Câmara", afirma.

Analistas especulam que o partido pode se tornar grande a ponto de disputar a presidência da República e rachar o curral eleitoral petista em regiões como o Nordeste.

PSD = Partido Só da Dilma

O líder da legenda diz o partido vai desempenhar um papel independente na Câmara dos Deputados. No entanto, nem todos acreditam na independência. "O PSD é o Partido Só da Dilma", brinca o professor de ciência política licenciado da Universidade Federal de Brasília e consultor de empresas Paulo Kramer.

Para ele o surgimento do PSD como uma das maiores bancadas, antes de qualquer eleição, mostra problemas na legislação eleitoral brasileira. "É uma coisa espantosa, que reflete o irrealismo da nossa legislação eleitoral e partidária, o fato de um partido que não tem um voto ter mais de 50 deputados e dois senadores".

Já o mestre em ciências sociais e pesquisador associado do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da USP (NUPP) Edison Nunes diz que Kassab realizou uma manobra muito astuta, do ponto de vista estratégico, ao criar o PSD, já que seu antigo partido, o DEM, não tinha muita expressão em São Paulo e ele não tinha espaço ou cacife político para surgir como liderança nacional entre os caciques. O sentimento de alienação, segundo Nunes, parece ter sido o mesmo entre os novos filiados. "Quando se arrasta 10% dos deputados, deve haver um sentimento de relativa alienação desses deputados quanto ao sistema decisório no parlamento."

Nunes faz uma análise mais ampla e diz que o surgimento do PSD é um reflexo do fenômeno de despolitização pela qual passam os partidos brasileiros, a não ser em casos de disputa eleitoral. "É um sistema de competição, que tem como realidade prática, fundamentalmente, a moeda administrativa", diz ele se referindo as medidas aprovadas no Legislativo, que se resumem as orientações gerais de saúde e educação, por exemplo, deixando de lado as discussões verdadeiramente políticas. "O que resulta disso é que você tem uma sobrevalorização da atividade de metas administrativas, e não políticas", completa.

Kramer diz que apesar do PSD acomodar muitas lideranças oposicionistas que estavam insatisfeitas em seus antigos partidos, a legenda será uma terceira via, mais amena, na base política da presidente Dilma, uma vez que ela sofre muitas pressões de seu próprio partido, o PT, e do PMDB, principal aliado.

"O PSD acomoda, ou promete acomodar, outras situações, inclusive a do José Serra, caso ele não venha a ser preterido pela máquina do seu partido para concorrer a governador ou presidente da República. É um partido que, apesar de não ter nenhum voto, ainda tem muito futuro, tendo em vista os interesses que ele promete acomodar, tanto da parte do governo, quando da parte da oposição."

Segundo Kramer, o PSD não seria um partido despolitizado, mas sim uma "moldura vazia na qual os políticos colocam o quadro que querem", um PMDB escancarado, "refletindo ai o destino do PMDB que é essa federação frouxa de interesses de oligarquias regionais", critica.

Já Edison Nunes prefere deixar o julgamento moral de lado e atribui o surgimento de novos partidos, como o PSD, a uma saída legítima e racional para os políticos sem espaço, já que o "sistema estimula isso". "O político que não faz parte da base aliada fica com a margem de manobra restrita. Daí a necessidade, de tempos em tempos, de fazer um rearranjo de quem vai sistematicamente sendo excluído desse núcleo. Uma das formas é criar uma nova sigla."

O PSD e a presidência
"O partido do Kassab pode gerar, a curto prazo, ambições muito maiores. Suponha que ele se relacione com algum governador do Nordeste que hoje é aliado de alguma sigla federal. É capaz que ele faça um nome para disputar a presidência da República. Isso seria um problema grande para o PT, porque racha o curral eleitoral. Seria uma jogada, do ponto de vista estratégico, muito brilhante", especula Nunes.

Ele diz que o partido se assemelha um pouco ao PMDB, mas não deve ofuscar o principal aliado do governo federal pelo histórico de pactos e alianças. "Dificilmente podemos pensar que ele vai substituir o PMDB, mas ele pode sim trazer uma proposta de disputa do Executivo federal que, de repente, pode ser exitosa. A realidade, que sempre é mais criativa do que nós analistas, mostra que a solidez desmancha", metaforiza. Segundo ele, Kassab percebeu que existe uma terceira ou quarta via de disputa ao governo federal após a expressiva votação de Marina Silva (ex-PV).

Fonte: Terra
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