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Haddad tenta superar transferência de votos de Lula

PT fará movimento para descolar as imagens do candidato e do ex-presidente

8 out 2018 - 23h07
(atualizado em 9/10/2018 às 08h24)
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Depois de uma reunião tensa de avaliação de erros e tentativas de traçar um caminho para o segundo turno, o conselho político de campanha do PT concordou em usar as próximas semanas para construir uma imagem de um Fernando Haddad independente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e levar o candidato petista a assumir as rédeas da campanha e impor seu discurso.

A nova postura da campanha era uma cobrança de aliados e de parte do PT, mas enfrentava resistência de partes do partido que acreditavam que a transferência de votos do ex-presidente ainda não estava finalizada.

"Haddad chega muito como a substituição do Lula. Agora o Haddad do segundo turno é o Haddad. Tem um primeiro momento que foi a transferência, mas agora ninguém vive só do que foi. As pessoas em uma eleição vivem fundamentalmente do que vai ser. Agora é a hora do presidente Haddad dizer 'o meu programa de governo'", disse o senador eleito Jaques Wagner que, com sua eleição resolvida na Bahia, foi chamado por Haddad para se integrar à coordenação da campanha.

O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad
Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

Convencidos de que o caminho é esse, parte dos petistas tenta explicar agora a resistência inicial de que Haddad tomasse as rédeas da campanha. Logo que assumiu a candidatura, nos primeiros programas eleitorais, parte do PT queria evitar até que o currículo de Haddad como ministro da Educação e prefeito fosse explorado.

"Nós tínhamos 15 dias. Se tivéssemos que ao mesmo tempo transferir votos e buscar afirmar Haddad nós teríamos perdido no primeiro turno. Tínhamos que assegurar a transferência primeiro. Agora é uma nova fase", admitiu uma fonte.

A transferência, especialmente no Nordeste, região onde o PT tem tradicionalmente uma boa votação, funcionou. Agora, Haddad ganhou em oito dos nove Estados do Nordeste --perdeu apenas no Ceará, para Ciro Gomes (PDT), que tem no Estado seu reduto eleitoral. O petista ganhou ainda no Pará.

A diferença de votos a favor de Bolsonaro --cerca de 18 milhões de votos-- e a situação "difícil" para o segundo turno levou o PT a passar a tarde em reuniões em São Paulo, que devem se estender pelos próximos dois dias, para encontrar um caminho para esse segundo turno. Uma das estratégias é mostrar mais Haddad que, segundo o próprio, tinha mais "cara de tucano que de petista".

A ideia é mostrar o lado mais "soft" do candidato, mais palatável a uma parcela dos eleitores que se incomoda com as radicalizações petistas, mas tem ojeriza a Jair Bolsonaro, e ter "Mais Haddad e menos Lula".

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, admitiu que Haddad pode visitar menos o ex-presidente em Curitiba --os encontros semanais são uma das armas do adversário, que o acusa de ir "ouvir ordens de um presidiário".

"Não vemos problema nenhum em consultar o presidente Lula, como a qualquer outra liderança política, nem Haddad vê. O presidente é uma das maiores lideranças desse país. Mas não sei como vai ser, depende do tempo, disposição para ele conversar. Se for possível, ele vai. Mas nós já temos a linha da campanha", afirmou Gleisi.

A ideia da campanha não é esconder ou esquecer o ex-presidente, mas reafirmar Haddad como candidato, mostrar o currículo e sua capacidade e encontrar seu próprio discurso.

O próprio Lula deu liberdade a Haddad para desenvolver sua identidade como candidato, conversar com diferentes partidos, sem se limitar à centro-esquerda e tentar formar uma frente democrata, contou uma fonte.

Lula mandou o ex-prefeito "ir para a rua e fazer campanha", segundo relato de Haddad ao conselho político.

Alianças

Outra estratégia do partido é tentar ampliar alianças para fora dos já esperados PDT, de Ciro Gomes, PSB e PSOL, mesmo que seja recebendo apoios individuais.

"O que está em jogo é a democracia, vamos vetar alguém? Claro que não", disse a fonte.

Wagner, encarregado de fazer esses contatos, aponta para a possibilidade de adesões individuais, além de partidos.

"Muita gente, na minha opinião, que não é petista, que não é lulista, mas que é amante da democracia sabe que de um lado tem alguém que fala uma porção de impropérios. A gente precisa de todo mundo que queira consertar problemas do presente sem que seja essa beligerância declarada. Na bala ninguém vai resolver nada", disse o senador eleito.

Considerado bom negociador e "jeitoso", pelo partido, Wagner foi agregado à coordenação política da campanha e a partir desta segunda ficará próximo de Haddad em todas as negociações.

Antes mesmo de chegar a São Paulo, Wagner já conversou com Cid Gomes, o irmão do pedetista e seu principal interlocutor. O senador eleito revela que gostaria que Ciro participasse ativamente da campanha, uma ideia que o PDT resiste até agora.

"Ele tem um papel importante, é uma pessoa que formula. O próprio jeito dele, contundente, também é importante. Quando você está em um momento excepcional tem que ter uma forma diferenciada de entrar. Então eu espero que ele tope vir", disse Wagner.

Além do contato de Wagner com Cid Gomes, nesta segunda, Haddad se reuniu com o ex-ministro Mangabeira Unger, um dos formuladores do projeto de governo de Ciro.

Haddad, que assumirá a interlocução direta com o pedetista junto com Wagner, gostaria de incorporar Ciro à campanha e a um futuro governo, mas Ciro já afirmou que pretende dar um "apoio crítico" ao PT, sem participar da campanha.

Agenda

O PT continua em reuniões na terça e deve decidir nos próximos dias qual será a estratégia de viagens e eventos externos do candidato. Ainda não está claro para o partido se deve investir em mais viagens ao Nordeste para recuperar espaço perdido na região ou tentar entrar no Sudeste e Sul, onde Bolsonaro domina.

Segundo uma das fontes, é necessário as duas coisas. O partido tem que reaver votos perdidos além de conquistar novos, de candidatos derrotados e manter os que têm para tentar reverter o resultado do primeiro turno, quando ficou muito atrás de Bolsonaro.

O partido admite que a situação é complicada. Jaques Wagner por exemplo defende que Haddad viaje menos e faça mais entrevistas, vídeos e mídias sociais, que atingiriam um público maior.

"Essa campanha é muito curta. Eu creio que era muito importante ele se dedicar ao debate, à gravação. Quando você fala na televisão tem 500 mil, um milhão (de telespectadores)", defendeu. "Mas eu venho aqui trazer a minha opinião. Mas serão confrontadas com as dele, ele que comanda a campanha. A cara da campanha é a dele."

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