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Queimadas em Roraima disparam em 2024 e avançam sobre terras indígenas

29 fev 2024 - 14h49
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Os focos ativos de queimadas em Roraima dispararam nos dois primeiros meses de 2024 e praticamente já alcançaram o mesmo patamar de todo o ano passado, segundo dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), respondendo até o momento por quase 30% de todos os registros no país.

Os dados apontam ainda que as queimadas no Estado avançam sobre terras indígenas como o Território Yanomami, a maior do país e que atualmente convive com uma grave crise humanitária decorrente principalmente do garimpo ilegal de ouro.

Do início do ano até 27 de fevereiro, segundo dados do Inpe, foram 2.605 focos ativos de queimadas identificados em Roraima. O número é quase o total de focos que o Estado registrou durante todo o ano passado, 2.659.

Somente em fevereiro até o último dia 27, foram registrados 2001 focos em Roraima, um recorde histórico da série iniciada em 1998. Um único dia, 20 de fevereiro, teve impressionantes 538 registros. O mês de janeiro, com 604 focos, foi o pior resultado desde 2017.

Desde o início do ano, o Estado responde por 29,8% dos registros de focos de queimadas do Brasil, seguido por Mato Grosso, com 17,4% (1.525), e Pará, com 10,1% (554).

Apenas no bioma Amazônia, conforme os dados, Roraima responde por 53% dos focos identificados.

Dos 15 municípios do Estado, nove tiveram reconhecido no início da semana situação de emergência pelo governo federal devido à seca e às queimadas. Essa iniciativa facilita às prefeituras terem acesso a recursos para mitigar os efeitos.

As queimadas também avançam sobre terras indígenas no Estado. Dos 10 maiores focos registrados nesse tipo de território este ano, sete estão em Roraima, com os três primeiros lugares: respectivamente, TI Yanomami, com 250 focos somente no Estado, sem contar a parte amazonense; TI Raposa Serra do Sol, com 205 focos; e TI São Marcos, com 71 registros.

O tuxaua Cesar da Silva, liderança indígena da comunidade Tabalascada, afirmou que os focos de incêndio têm ocorrido na terra dele e de outras TIs, causando prejuízo a todos.

"Este ano é um ano atípico, desde o ano passado a gente tem sentido essa mudança muito grande. O ar está... a umidade está muito baixa e isso também tem acarretado problemas de doença nas famílias, principalmente nas crianças, e realmente a quentura ela está fora do normal", disse ele à Reuters.

Em meio à situação crítica, o governo federal inaugurou na manhã desta quinta-feira a Casa de Governo em Boa Vista, capital de Roraima, para coordenar ações no Estado, em especial de proteção ao Território Yanomami.

O ato contou com a presença de uma grande comitiva de 11 ministros, como a dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; do Meio Ambiente, Marina Silva; da Defesa, José Múcio Monteiro; da Justiça, Ricardo Lewandowski; da Saúde, Nísia Trindade; e da Casa Civil, Rui Costa.

Durante discurso de inauguração da Casa de Governo, Rui Costa admitiu que, ao chegar a Boa Vista, era "visível" a fumaça decorrente das queimadas ao respirar. Exortou uma ação conjunta dos governos estadual e federal e da população.

"As queimadas prejudicam o meio ambiente, a saúde pública é um péssimo método de aumentar a produtividade agrícola", disse Costa, para quem é preciso acabar com a "cultura do passado" de queimadas.

Também durante o lançamento da Casa, a ministra Marina Silva disse que as queimadas no Estado decorrem de uma "combinação terrível" do El Niño -- fenômeno climático que promove uma elevação da temperatura na região --; mas também de incêndios criminosos e a mudança do clima.

"Por isso, essa ação conjunta de conter desmatamento; conter a queimada é fundamental para que a gente não veja o nosso povo sofrendo", ressaltou, ao citar que os focos de incêndio, em sua maioria, ocorrem em áreas do Estado.

O governador de Roraima, Antonio Denarium, também presente, disse que o Estado está trabalhando "fortemente" para combater os desmatamentos ilegais e os incêndios florestais, mencionou o verão seco e afirmou ainda que agentes estaduais visitaram 6 mil propriedades rurais e indígenas para conscientizar sobre o uso do fogo.

"Tivemos também muitos incêndios criminosos aqui no Estado que a Polícia Civil está trabalhando para identificar essas pessoas", afirmou.

Questionada pela Reuters se há alguma investigação para apurar queimadas ilegais no Estado, a Superintendência da Polícia Federal em Roraima informou que a PF "está acompanhando a questão das queimadas e do desmatamento", mas, por ora, não pode dar informações no momento "a respeito de investigações em andamento".

COMPLEXO

O porta-voz do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista, disse que o problema das queimadas em Roraima é "complexo" e que envolve uma série de fatores como o El Niño; o período tradicionalmente menos chuvoso e mais quente no Estado; a greve do Ibama que reduziu operações contra queimadas ilegais; e a ação humana induzindo incêndios.

Para Batista, há um "estado de emergência" que levou ao aumento do número de queimadas que decorre também de ações -- ou falta de -- ações dos governos estadual e federal para preservar territórios indígenas e unidades de conservação, além da concessão de licenças temporárias para queimadas legais. Segundo ele, os governos poderiam ter se preparado melhor para enfrentar essas questões porque era previsível que ocorressem em 2024 diante da grande seca do ano passado.

O representante do Greenpeace disse que, se nada for efetivamente feito, o mês de março também poderá registrar recordes negativos em relação a queimadas.

"Historicamente, os meses que mais queimam são justamente fevereiro e março, a gente tem inclusive em Roraima que o recorde é no mês de março e, não havendo alteração climática, a gente pode esperar também bastante queimada", apontou ele, para quem o mais importante é evitar que essas queimadas aconteçam.

"Uma vez em um clima seco como está, quente, também é uma época que tem mais vento, tudo isso alimenta e dificulta demais apagar esse fogo", ressaltou.

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