Quem é Carlos Decotelli, 3° ministro da Educação de Bolsonaro em menos de um ano e meio
Oficial de reserva da Marinha e de perfil mais moderado, ele assume MEC depois da polêmica gestão de Weintraub.
O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quinta-feira (25) seu novo ministro da Educação: Carlos Decotelli, oficial de reserva da Marinha, será o terceiro ocupante do comando do MEC no atual governo, depois da demissão de Abraham Weintraub e de Ricardo Vélez.
A nomeação de Decotelli é vista como mais um aumento de protagonismo militar no governo Bolsonaro - neste caso, particularmente, da Marinha.
De perfil mais moderado que seu antecessor, Decotelli é um acadêmico e também o primeiro ministro negro de Bolsonaro.
Durante alguns meses no ano passado, entre fevereiro e agosto, ele comandou o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia ligada ao MEC que costuma ser alvo de disputas em qualquer governo, por gerir um orçamento bilionário (de R$ 55 bilhões em 2019) e ser responsável por financiar alguns dos principais programas da educação básica pública nos municípios, como transporte e infraestrutura escolar.
Um dos programas priorizados na época pelo fundo, o Educação Conectada, ganhou as manchetes meses depois, quando a Controladoria-Geral da União encontrou inconsistências em um edital de R$ 3 bilhões de um pregão para a compra de equipamentos de tecnologia educacional.
Em agosto, Decotelli havia sido demitido do FNDE e alocado para a Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp), também no MEC.
https://www.facebook.com/jairmessias.bolsonaro/photos/a.250567771758883/1986942701454706/?type=3
Segundo seu perfil escrito no site do FNDE, Decotelli é financista, professor e coautor de livros de administração bancária e financeira. Tem doutorado em administração financeira pela Universidade Nacional de Rosário (Argentina) e pós-doutorado na Bergische Universitat Wuppertal, na Alemanha, também de acordo com o órgão.
A Agência Brasil destaca que ele participa do governo Bolsonaro desde a transição e atuou como professor nas Forças Armadas. Também tem passagem como docente por universidades como a Fundação Dom Cabral e a FGV.
Surpresa com nome
Até esta quinta-feira, seu nome não estava entre os mais ventilados publicamente para o comando do MEC, que eram os de Renato Feder, secretário de Educação do Paraná (quem havia se reunido com Bolsonaro nesta semana) e Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização do MEC.
Para Daniel Cara, membro da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação e professor da Faculdade de Educação da USP, Decotelli "não é uma referência" no setor por ser um nome muito pouco conhecido nas discussões de políticas educacionais,
Cara enxerga com preocupação preocupação o fato de Decotelli ser visto como alguém que agrade ao ministro da Economia, Paulo Guedes, pelo temor de mais cortes de gastos orçamentários ou privatizações na educação.
Por sua vez, Priscila Cruz, presidente da organização Todos Pela Educação, opina que Decotelli tem "o perfil certo" para reconstruir pontes do MEC com Estados, municípios e com o Congresso, depois da polêmica gestão de Weintraub.
"Tive pouco contato com ele no FNDE, (mas) é uma pessoa de excelente trato, muito educada, o oposto de Weintraub. Tem como característica marcante ser muito austero, sério e voltado para gestão", diz Cruz à BBC News Brasil. "Uma de suas principais tarefas será reconstruir as pontes que Weintraub explodiu".
Outros desafios urgentes diante de Decotelli serão a retomada das aulas presenciais após a quarentena, atualmente sendo definidas pelos Estados e municípios com praticamente nenhuma participação do MEC; a realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), em meio ao aumento das desigualdades educacionais por conta da pandemia; e a aprovação do Fundeb, fundo bilionário de recursos para a educação básica que, por determinação de lei, expira neste ano.
Abraham Weintraub foi demitido após meses de polêmicas políticas que aumentaram o desgaste do governo com outros Poderes - entre elas, a principal foi o fato de Weintraub ter chamado de "vagabundos" os ministros do Supremo Tribunal Federal durante a reunião ministerial de 22 de abril que teve seu sigilo suspenso.
Antes dele, Ricardo Vélez havia ocupado o cargo durante apenas três meses.