Quem é o grupo que mandou flores e champanha para Aécio após salvação no Senado
Movimento 'Tucanos com Aécio em ação' acredita na inocência do senador e ataca conduta de procuradores e delatores.
Há um ano, o sonho de um hoje restrito grupo de brasileiros parecia uma obviedade no mundo político: uma nova candidatura de Aécio Neves à presidência, que, em 2014, rendeu ao tucano pouco mais de 51 milhões de votos na disputa em que foi derrotado pela petista Dilma Rousseff.
Mas enquanto esta não vem, o movimento "Tucanos com Aécio em Ação" teve a chance de brindar um feito mais modesto e resolveu enviar ao senador mineiro flores, champanha e um cartão em comemoração à devolução do seu mandato - decidida pelo Senado no último dia 17, revertendo o afastamento da Casa determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em meio a investigações por corrupção. Diferente das manchetes negativas, Aécio teve uma trégua e pôde ler palavras de apoio.
"Seus eleitores e admiradores estarão sempre torcendo por seu merecido sucesso e te acompanhando em cada passo desta caminhada. Desejamos vê-lo na Tribuna do Senado fazendo um belo e caloroso discurso que será alentador para quem se solidarizou com você nestes dias tão sombrios", diz um trecho da mensagem enviada pelos Tucanos com Aécio em Ação ao senador.
Segundo sua "líder", a estudante Walleska da Costa, de 28 anos, integrantes do grupo - que ela prefere não quantificar, mas que somam pouco mais de 1,2 mil no Facebook - fizeram uma vaquinha para comprar os mimos, encomendados em uma floricultura. A escolha pelo champanha faz referência a um capítulo de Aécio na Lava-Jato: o afastamento do senador de seu mandato, em setembro, determinado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e derrubado pelo Senado na semana passada. Segundo o colunista da Rede TV! Reinaldo Azevedo, o ministro Luís Roberto Barroso teria aberto uma garrafa de champanha em seu gabinete após votar pelo afastamento. Barroso nega o relato. O movimento quis dar a Aécio a chance de estourar a champanha por último.
"O Aécio está sendo usado como bode expiatório. Lula e Gleisi [Hoffmann, senadora do PT] continuam soltos. Já o Aécio está sempre sendo malhado, então quisemos mandar um agrado de boas vindas", aponta Costa, moradora do Rio Grande do Sul. "Em Minas Gerais, ele foi um excelente governador, com 92% de aprovação no final do mandato".
A avaliação positiva por 92% dos entrevistados foi divulgada pela campanha de Aécio em 2014, mas, segundo checagem do projeto Truco, da Agência Pública, a informação é enganosa. O valor, atribuído a pesquisa do instituto Vox Populi em 2010, soma o percentual de eleitores que consideraram o governo de Aécio regular (16%) aos que o avaliaram como ótimo ou bom (76%). O tucano foi governador de Minas Gerais entre 2003 e 2010.
De acordo com Costa, muitos dos integrantes do grupo são de Minas Gerais. Por outro lado, nem todos são filiados ao PSDB, como ela. O grupo foi formado após a denúncia feita contra Aécio pela Procuradoria Geral de República (PGR), em junho deste ano. Costa diz que o grupo se reúne apenas virtualmente, no Facebook e WhatsApp - mas planeja reuniões presenciais para o futuro.
Referências à Venezuela
Na página no Facebook, os aecistas divulgam memes, vídeos e referências a Tancredo Neves, avô de Aécio que morreu logo após ser eleito presidente. No início deste mês - antes, portanto, do Senado devolver o mandato a Aécio -, uma miscelânea de vídeos traz participantes do grupo protestando contra as medidas cautelares determinadas pelo STF contra Aécio e dizendo a frase "Eu não sou filhote de Maduro. AI-5 não. Aécio no Senado!". A trilha sonora ao fundo traz uma voz feminina cantando a música religiosa Além do átrio, cujos versos falam de inocência: "Passa-me pela multidão/ Os sacerdotes que te louvam/ Pois tenho sede de Justiça/ Só aqui posso encontrar".
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, não é a única referência ao país vizinho feita na página. Membros da oposição venezuelana também aparecem nas postagens, como em uma colagem em que aparecem, lado a lado, fotos de Leopoldo López, detido desde 2014 na Venezuela, e de Aécio, com os dizeres: "Não vamos permitir que façam com Aécio Neves o que fizeram com Leopoldo Lopez. Aqui não é Venezuela! #AécioNoSenado".
Aqui, para o grupo, a perseguição a Aécio teria como origem o papel do senador no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
"Acreditamos na inocência do senador", diz Costa. "Com certeza foi uma vingança da esquerda [pelo impeachment]. Não queremos que esse país vire uma Venezuela."
A hashtag #AcordaBrasil, que frequentemente aparece nas postagens da página, remete inclusive a um dos motes usados por movimentos que pediam o impeachment de Dilma.
O envolvimento em protestos de rua, inicialmente em 2013 e depois em manifestações pelo impeachment, levaram o estudante Hugo Ferreira, de 32 anos, ao voluntariado no grupo. Para ele, as "injustiças com Aécio" são até anteriores ao impeachment - remontando à disputa presidencial em 2014. Ferreira, morador de Belo Horizonte, chama o episódio de "fraude eleitoral".
"Conheço a trajetória do Aécio, sei o tanto de coisa boa que ele fez para Minas Gerais. Esse inconformismo não é só meu: a cada dia a gente tem provado que é uma mentira o que está sendo propagado. Os verdadeiros culpados são outros", diz o estudante.
Perguntado sobre a identidade dos "culpados", Ferreira menciona "governos passados". O atual, do presidente Michel Temer, é visto com bons olhos pela maioria do grupo — para quem a política econômica da equipe do peemedebista se destaca.
Ataques à PGR e às delações
Além do PT, são alvo de ataques para os "Tucanos com Aécio em Ação" integrantes da Procuradoria Geral de República e os executivos da J&F Joesley Batista e Ricardo Saud, autores de delações, hoje suspensas, que colocaram Aécio sob graves acusações de corrupção.
A denúncia oferecida pela PGR acusa o senador de obstrução de Justiça e corrupção passiva - segundo as delações, Aécio teria solicitado aos executivos propina no valor de R$ 2 milhões. Em uma gravação de conversa entre o senador e Joesley Batista, a PGR afirma revelarem-se a solicitação e tratativas para o pagamento da propina em parcelas.
Acusações contra procuradores e delatores também são parte dos argumentos usados por políticos da oposição investigados por corrupção. Mas, para os aecistas, as evidências de condutas ilegais são muito mais contundentes no caso dos petistas do que no de Aécio.
Para Walleska da Costa, o tucano estaria sendo vítima de uma "armação" que compromete injustamente seu futuro político - agora diante da incógnita sobre a presidência do partido, posto do qual Aécio está licenciado e sofre pressão para abrir mão.
"Tínhamos ele como futuro candidato [presidencial] novamente. Sabemos que pela situação atual, isso é inviável. Mas eu acho que muita coisa pode acontecer. Ele é um político articulador, inteligente e tem muito a contribuir para o país. Nosso objetivo é não deixá-lo sair do cenário político. Queremos reerguê-lo", afirma. "Ele deve permanecer na presidência do partido. As pessoas estão virando as costas para ele, mas o auge político do PSDB deve-se muito a ele."
Seu companheiro na administração do grupo, Hugo Ferreira concorda.
"Aécio não deve renunciar [à presidência do PSDB] de forma alguma. O partido era muito menor antes dele. Onde ele vai, ele cria desenvolvimento. Como tirar esse líder? É uma injustiça", aponta Ferreira, que ainda vê potencial para Aécio como presidente da República. "Se ele assumisse, ia dar certo: haveria um choque de gestão nacional."
Futuro político para Aécio
Com o fim do mandato de senador em 2018, muito vem sendo especulado sobre o futuro político de Aécio. Bastidores dão conta de que ele poderá rumar para uma nova candidatura ao Senado ou a uma vaga na Câmara dos Deputados. Reconhecendo a dificuldade de uma candidatura presidencial, Costa e Ferreira falam de uma "nova estratégia" que está sendo pensada para a carreira de Aécio e que não envolve o Congresso - mas preferem fazer segredo sobre qual caminho seria este.
Diante dos principais nomes do PSDB que vêm sendo apontados como possíveis candidatos presidenciais - João Doria, prefeito de São Paulo, e Geraldo Alckmin, governador do Estado de SP -, o grupo não tem uma opinião consensual.
"Nosso foco é Aécio Neves. Vamos apoiá-lo em qualquer candidatura. O nosso sonho de vê-lo presidente apenas está adormecido. Se não for agora, vai ser em 2022", afirma Costa.
Para um integrante do PSDB que não quis se identificar, porém, os escândalos de corrupção aos quais o nome de Aécio foi vinculado possivelmente comprometerão por toda a carreira do tucano - e principalmente suas ambições para ocupar o Palácio do Planalto.
"É inexorável que o papel político dele vá diminuindo ao longo do tempo. Diminuir, porém, não quer dizer que seu papel será extinto. Ele tem muitos laços no partido, é bastante hábil e vem de Minas Gerais, um cenário muito importante."
"A chance de (Aécio) ser candidato a presidente de novo é quase zero, mas ele poderá voltar a ser uma liderança nacional", afirmou à BBC Brasil um integrante do partido que pediu para não ser identificado. "Quem diria, em 1992, que Collor se tornaria senador? Aécio é muitas vezes mais talentoso do que Collor. Hoje, diria que há mais chances de Aécio vir como deputado federal em 2018."