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Política

Quem é Rocha Loures, que passou de aliado fiel a possível 'homem-bomba' do governo Temer

Apelido se espalhou em Brasília devido a potencial explosivo de eventual delação premiada - que poderia desvelar as negociações por trás da mala de R$ 500 mil que recebeu da JBS.

2 jun 2017 - 06h11
(atualizado às 07h39)
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Apelido de "homem-bomba" é usado entre políticos em Brasília para falar de Rocha Loures
Apelido de "homem-bomba" é usado entre políticos em Brasília para falar de Rocha Loures
Foto: Divulgação

O último ano havia sido bom para Rodrigo Rocha Loures. Com a ascensão de Michel Temer à Presidência, o aliado ganhou, em setembro passado, uma sala no mesmo andar do presidente, atuando como assessor especial de Temer. Na mesma época, sua mulher engravidou. Poucos meses depois, Rocha Loures voltou à Câmara dos Deputados, assumindo, por ser suplente, a vaga de Osmar Serraglio quando este foi nomeado para o Ministério da Justiça.

Com o retorno de Serraglio à sua cadeira na Câmara, na quinta-feira, Rocha Loures perdeu o foro privilegiado que tinha como deputado, aumentando a expectativa de que venha a se tornar um "homem-bomba" para o governo Temer.

O apelido se espalhou em Brasília devido ao potencial explosivo de uma eventual delação premiada - que poderia desvelar as negociações por trás da mala de R$ 500 mil que Rocha Loures recebeu da JBS, e qual seria o destino final da propina. Delatores da empresa afirmaram que os recursos seriam destinados ao presidente.

Na quinta-feira à noite, a Procuradoria-Geral da República reiterou o pedido de prisão de Rocha Loures ao STF.

A perda da imunidade parlamentar e sua situação familiar - e a gravidez da companheira, que já soma 8 meses - alimentam a expectativa de que o ex-assessor de Temer venha a falar.

Do smoking aos gritos de 'ladrão'

A maré virou na noite em que o escândalo das delações da JBS explodiu no Brasil. Rocha Loures estava longe, em Nova York. Na véspera, vestira smoking para prestigiar João Doria, no jantar de gala em que o prefeito de São Paulo recebeu o prêmio de Personalidade do Ano pela Câmara do Comércio Brasil-EUA.

Na volta da viagem, em que aconselhou potenciais investidores americanos sobre as reformas no Congresso, Rocha Loures desembarcou em Guarulhos sob gritos de "ladrão", já afastado da Câmara por decisão do Supremo Tribunal Federal.

A alcunha de "homem-bomba" está muito distante do apelido de vida toda, o de Rodriguinho - filho de "Rodrigão", o conhecido empresário paranaense Rodrigo Costa da Rocha Loures, fundador da Nutrimental e presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade, na Fiesp.

A empresa, que teve faturamento de R$ 400 milhões em 2014, é pioneira das barrinhas de cereais no Brasil, que começou a desenvolver ao ser procurada por Amyr Klink nos anos 1980. O ilustre navegador buscava opções de alimentação saudável para abastecer suas longas travessias marítimas.

Hoje, é mais conhecida pela marca que nasceu dessa história, a Nutry - que Rodrigo, o filho, ajudou a desenvolver nos anos que passou à frente da empresa, antes de enveredar pela política.

'Choque' entre conhecidos

Quem acompanhou a trajetória do político e administrador de empresas nascido em 1966 entre os Rocha Loures - uma tradicional família do Paraná - diz que foi um "choque", uma "surpresa", ver e rever as imagens do ex-deputado saindo da pizzaria Camelo, em São Paulo, com a mala de R$ 500 mil.

Agentes da Polícia Federal apreenderam documentos no gabinete de Rocha Loures
Agentes da Polícia Federal apreenderam documentos no gabinete de Rocha Loures
Foto: Agência Brasil

Semanas antes disso, Rocha Loures fora indicado pelo presidente Michel Temer ao empresário Joesley Batista - quanto este lhe perguntou quem poderia lhe ajudar a resolver um problema da empresa.

"No Paraná, todos tinham uma boa impressão do Rodrigo", diz o deputado federal João Arruda, que pertence à bancada do PMDB do Estado na Câmara.

"Todos foram pegos de surpresa. Ninguém poderia imaginar que o Rodrigo estaria envolvido... Não estou fazendo aqui um pré-julgamento, ainda temos esperar até que ele se defenda. Mas o flagrante coloca ele em uma situação muito difícil."

Arruda, sobrinho do senador Roberto Requião (PMDB), conviveu com Rocha Loures quando ele iniciava sua trajetória política, em 2002.

Na época, o ex-assessor de Temer participou ativamente da campanha de Requião ao governo do Paraná. Com sua vitória, tornou-se chefe de gabinete do então governador em 2003 e lá permaneceu até 2005.

'Persona non grata'

Quando o escândalo veio à tona, Requião falou no Twitter sobre a decepção com o antigo protegido. O senador apoiara a primeira candidatura de Rocha Loures, ajudando-o a obter o cargo de deputado federal, que assumiu em 2007.

"Rodrigo Rocha Loures, idealista, meu amigo. O que fizeram de você, Rodrigo Rocha Loures? Vejo tudo com indignação e muita tristeza. CANALHAS!", escreveu o senador.

Tweets do Senador Roberto Requião no dia em que Loures foi preso
Tweets do Senador Roberto Requião no dia em que Loures foi preso
Foto: Reprodução/ Twitter

A decepção foi expressa também por estudantes da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. Foi lá que Rocha Loures se formou, em 1988, em administração de empresas; e presidiu o diretório acadêmico do curso (DAGV) durante um ano. Agora, a atual gestão do diretório publicou uma carta declarando-o persona non grata.

"Mais novo, era como qualquer aluno da Fundação. Hoje tornou-se um criminoso nacionalmente conhecido", diz a carta.

"A grande pergunta é: o que separa o nosso futuro, hoje alunos e alunas, do que foi o futuro para Rodrigo Rocha Loures, aluno ontem?"

O DAGV afirma que "apenas a moral" poderia impedir os estudantes de hoje a se tornarem também "um criminoso."

"Rodrigo fez uma opção. Pelo poder se corrompeu, ou por ele mostrou o que realmente era. Em tempos de crise e fora dela, tomaremos decisões que influenciarão o nosso futuro e o futuro de outros. Que nenhuma delas seja como as de Rodrigo Rocha Loures", declarou o DAGV.

Advogado contrário a delações

Rocha Loures está sendo investigado por ter negociado, de acordo com delatores da JBS, o pagamento de propinas semanais por até 25 anos em troca da intermediação de um acordo em benefício ao grupo J&F com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Seu advogado anterior teria buscado informações junto à Procuradoria-Geral da República sobre uma eventual delação premiada. No início desta semana, entretanto, Rocha Loures contratou um novo advogado, Cezar Roberto Bitencourt, que tem posição contrária ao instrumento da delação.

À Folha de S. Paulo, o criminalista disse nesta semana que negociar um acordo de colaboração premiada seria a "última opção", e que o flagrante com a mala teria sido provocado deliberadamente, o que seria ilegal. "Criaram uma armadilha, uma situação fantasiosa para incriminar alguém", afirmou.

Procurado pela BBC Brasil, o advogado não quis conceder entrevista. Sua assessoria de imprensa afirmou que ele está focado na defesa do cliente.

'Belíssima figura da vida pública'

Rocha Loures nasceu em Curitiba dois anos antes de seu pai fundar a Nutrimental, em 1968. Passou a infância com a família em São Paulo, estudando na escola de elite Dante Alighieri e formando-se depois na FGV.

Após obter o diploma da faculdade de administração, em 1988, voltou ao Paraná e assumiu a empresa do pai em São José dos Pinhais, ficando na direção da empresa até 2002, período marcado pela expansão de produtos da marca Nutry.

No primeiro mandato na Câmara dos Deputados, entre 2007 a 2010, teve atuação nas áreas ambiental, de energias renováveis e de educação, entre outras. Habilidoso em articulações políticas, tornou-se vice-líder do PMDB na Câmara.

Foi nesta época que começou a se aproximar de Michel Temer - então presidente da casa.

Quando Temer foi eleito vice-presidente na chapa com Dilma Rousseff, Rocha Loures foi chamado para trabalhar como chefe de Relações Institucionais da Vice-presidência, em 2011.

Em 2014, tentou se eleger novamente para a Câmara dos Deputados, mas só conseguiu 58 mil votos, 30 mil a menos que na primeira candidatura; o suficiente, entretanto, para ficar como suplente.

Contou, entretanto, com apoio de peso. Dos R$ 3 milhões que arrecadou para a campanha, R$ 200 mil foram doados pelo então vice-presidente, Michel Temer; e R$ 50 mil pelo prefeito de São Paulo João Doria, de acordo com registros do TSE.

Temer chegou a gravar um depoimento em vídeo para a campanha de Rocha Loures, elogiando sua atuação como deputado federal e afirmando que, em seu gabinete, ele o "ajudou enormemente".

"É com muito gosto que eu cumprimento os paranaenses e dou este depoimento verdadeiro, real, em relação a esta belíssima figura da vida pública brasileira, que é o Rodrigo Rocha Loures", conclui Temer no vídeo de campanha, de 2014.

Ascensão após impeachment

Apesar da proximidade do presidente, Rocha Loures é descrito como um aliado conhecido mais pela fidelidade do que pela influência nos bastidores.

"Ele acompanhou a ascensão do presidente Michel Temer, fazia parte do grupo de pessoas que acompanhavam o presidente já há algum tempo", diz o deputado João Arruda.

"Mas nunca foi cotado para ser ministro pelo PMDB, não nunca teve espaços importantes. Nunca imaginamos que tivesse grande influência nas decisões do presidente e sua equipe", considera Arruda. "Não consigo ver nele um negociante nem um intermediário para fazer esse jogo para alguém. Para mim o que aconteceu foi chocante, para mim e para todos nós do Paraná, porque eu imaginava que ele não tinha esse perfil."

Outro político que trabalhou com Rocha Loures no Paraná e conviveu com ele "socialmente", mas prefere não se identificar, diz que Rocha Loures foi ganhando espaço à medida que outros articuladores de peso foram derrubados pelas investigações da Lava Jato - como o ex-assessor José Yunes e o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá.

"Ele é um deslumbrado. Vendia uma coisa que não entregava, um prestígio que não tinha", diz antigo colega de Loures (à dir.)
"Ele é um deslumbrado. Vendia uma coisa que não entregava, um prestígio que não tinha", diz antigo colega de Loures (à dir.)
Foto: Divulgação

"Ultimamente ele andava por ministérios e pelo Congresso falando em nome do presidente. Mas nunca teve atuação muito expressiva", considera.

"Ele não um grande quadro do PMDB. Era uma pessoa meio inocentona. Queria estar sempre perto das pessoas certas, sempre aparecer nas imagens", diz.

"Sinceramente? Ele é um deslumbrado. Vendia uma coisa que não entregava, um prestígio que não tinha", afirma o antigo colega.

Ainda assim, o conterrâneo diz que o flagrante da mala foi "uma absurda surpresa." "Para mim ele podia ser todas essas coisas, mas picareta ele não era."

Um conhecido em Brasília afirma que Rocha Loures vinha dando sinais de cansaço com a vida política.

"Ele falava em fazer um mestrado no exterior, ir para algum lugar como Harvard", lembra o conhecido, que diz ter ficado chocado ao vê-lo envolvido no escândalo.

'Tradicional família paranaense'

A família Rocha Loures é uma das mais antigas do Paraná, de acordo com o sociólogo Ricardo Costa de Oliveira, professor e coordenador do Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP), da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Estudos traçando a genealogia da família indica que ela remonta aos clãs patriarcais fundadores de Curitiba, há mais de 300 anos, e faz parte da elite dominante do Estado desde o século 17, aliando poder econômico e político - como constata o artigo "Um exemplo de 'Old money' no Paraná: a família Rocha Loures", de Ana Vanali e Katiano Miguel Cruz, publicado na revista do NEP.

"O Rodrigo representa essa oligarquia familiar tradicional de Curitiba, com o pai empresário, parentes com cargos no Legislativo, no Judiciário, donos de cartórios, boa circulação entre a elite", afirma Oliveira.

Ele diz que esse entrelaçamento entre poder econômico, político e conexões sociais contribui para que elas se mantenham no topo do estrato social ao longo de gerações - assim como ocorre com dezenas de famílias oligárquicas brasileiras.

Agora com o escândalo enfrentado por Rocha Loures, Oliveira diz que a reação em Curitiba é de "silêncio", diferente da reação "de ódio" que, acredita, seria vista se a acusação fosse contra o PT.

"As pessoas não querem comentar, procuram invisibilizar e seguir adiante. É um mal-estar, mas o fato é silenciado", afirma. "Não teve protesto, ninguém bateu panela, querem superar esse assunto o mais rápido possível."

"Mas não há uma reação de indignação com o escândalo, nem de exigir uma atitude ou uma renúncia. Não, as pessoas apenas batem a mão na cabeça, como quem diz, 'ele fez algo errado'", diz o sociólogo.

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