Refugiado sonha com retorno: ‘Amo o Brasil, mas sou cubano’
No Brasil há quatro anos, casal abriu restaurante com pratos cubanos e charutos legítimos à venda
Foi no Riacho Fundo, bairro periférico de Brasília, que o casal Guillermo Perez, 60, e Loida Barrabi, 44, escolheu para reconstruir a vida depois de deixar Cuba, há quatro anos. Ativista de direitos humanos em Havana, Perez foi preso três vezes por um período que, somado, chega a dez anos. A primeira vez foi aos 15 anos. Fui preso em três ocasiões: em 1968, quando eu era um garoto, em 1982 e 1998. Isso tudo só por falar”, relembra. “Tenho o sangue muito quente para ficar calado.”
A primeira vinda ao Brasil foi em 2007, com visto de turista, mas o casal teve de voltar a Cuba para buscar a filha mais nova. “Quando retornei (a Cuba) foi pior, porque eles consideram as pessoas que saem do país e retornam como contaminados com o capitalismo”, reclama Perez. O status de refugiado político no Brasil levou cerca de uma ano e meio para ser concedido.
Apesar de gostarem da sua terra natal, Perez e Loida não pensam em voltar. Pelo menos, enquanto o regime ditatorial se mantiver na ilha. “Quando você decide emigrar, você não se esquece das suas coisas, sua pátria, nem sua terra”, afirma Loida. “É preciso virar a página e começar do zero.”
Aparentemente, eles conseguiram. Hoje são proprietários de um restaurante com nome que homenageia a filha dos dois: Laura. É um self-service simples. Aos domingos, a casa serve comida típica cubana. Outro produto da terra natal presente no estabelecimento é o charuto, vendido a R$ 30.
Para o casal, a adaptação ao Brasil tem sido fácil. Em parte, atribuem à hospitalidade dos brasileiros. Guillermo Perez também vê outra razão: “Quando você sai de um país ruim e vem para um país ótimo, você nem se dá conta de mudança”.
No entanto, ele sonha em voltar ao país natal, mas não enquanto os irmãos Castro governarem a ilha. “Se verdadeiramente se Cuba se tornar uma democracia, como a que há no Brasil, em países europeus ou em muitos países da América Latina, eu retorno na hora. Amo o Brasil, mas sou cubano”, conclui.