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Relatório aponta que 99% do desmatamento no Brasil em 2019 foi ilegal

25 mai 2020 - 12h34
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Levantamento inédito mostra que áreas mais atingidas são a Amazônia e o Cerrado. Cerca de 11% dos alertas foram registrados em unidades de conservação e quase 6% em terras indígenas.Um relatório mostra que 99% do desmatamento no Brasil em 2019 foi ilegal. Ao longo do ano passado, 12 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa foram destruídos e o país teve 56 mil pontos de desmatamento. Os dados são do MapBiomas, iniciativa que reúne dezenas de entidades, como universidades, ONGs e empresas de tecnologia. A pesquisa será divulgada na íntegra nesta terça-feira (26/05).

Somente na região de Altamira, no Pará, 4 milhões de árvores foram derrubadas.
Somente na região de Altamira, no Pará, 4 milhões de árvores foram derrubadas.
Foto: DW / Deutsche Welle

O Fantástico, da Rede Globo, teve acesso ao relatório e antecipou alguns dados. Embora tenha afetado todos os biomas, o maior impacto foi no Cerrado e na Amazônia. Além disso, 11% dos alertas foram registrados em unidades de conservação e quase 6% em terras indígenas.

Os dados foram obtidos porque, pela primeira vez, o MapBiomas conseguiu analisar todas as imagens de satélites dos alertas de desmatamento emitidos por várias fontes, incluindo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Em Altamira, no Pará, estão as áreas mais invadidas por madeireiros, muitas delas habitadas por índios isolados, extremamente vulneráveis. Também em Altamira, foi detectado o maior desmatamento do Brasil: 4 milhões de árvores foram derrubadas sem que os criminosos fossem impedidos, apesar dos alertas.

O relatório também revela que dois terços das áreas de desmatamento têm dono reconhecido ou declarado, possibilitando relacionar o local com algum CPF ou CNPJ, o que poderia resultar em multas ou embargo de terras aos criminosos.

O programa do MapBiomas cruza as informações da área com títulos de propriedade, com o Cadastro Ambiental Rual (CAR), com o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) e com Terras Indígenas, entre outros dados.

Embora o sistema tenha sido desenvolvido em uma cooperação firmada há dois anos com o Ministério do Meio Ambiente, o Ibama e o Serviço Florestal para facilitar punição dos envolvidos em desmatamento, o governo brasileiro demonstra que caminha para o lado contrário.

O presidente Jair Bolsonaro já demonstrou diversas vezes desprezo pelo meio ambiente e o descaso com a situação da Amazônia. No ano passado, a abordagem da questão ambiental pelo governo ganhou contornos de crise mundial quando a Amazônia passou a ser castigada por queimadas.

A reação do governo foi tratar o caso como uma invenção de mídia e interferência externa. Bolsonaro acusou o Inpe de manipular dados de desmatamento e demitiu seu diretor. Também culpou, sem qualquer prova, ONGs pelos incêndios. Ainda arrumou tempo para atacar a ativista sueca Greta Thunberg e o ator Leonardo DiCaprio.

Em meio à crise, a Noruega suspendeu repasses ao Fundo Amazônia, reclamando de mudanças unilaterais promovidas pelo Brasil na gestão do programa. O governo alemão, por sua vez, suspendeu verbas de programas de preservação. Bolsonaro reagiu com virulência e chegou a dizer que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, deveria usar as verbas para reflorestar a Alemanha.

No primeiro trimestre deste ano, o desmatamento na Amazônia já foi recorde. De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), somente em abril, 529 quilômetros quadrados de florestas foram desmatados, um aumento de até 171% em relação ao mesmo período do ano passado.

Os dados do MapBiomas vem à tona dois dias após se tornarem públicas as declarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante reunião ministerial com Bolsonaro, em 22 de abril.

Na reunião, Salles sugeriu que o governo aproveitasse que a atenção da imprensa está voltada para a pandemia de covid-19 para avançar algumas mudanças radicais nas leis ambientais, que em circunstâncias normais poderiam ser recebidas com fortes críticas pela mídia e pela opinião pública.

"Nós temos a possibilidade neste momento, que a atenção da imprensa está voltada quase que exclusivamente para covid-19... A oportunidade que nós temos, que a imprensa está nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação, simplificação, todas as reformas que o mundo inteiro cobrou", disse o ministro.

A fala gerou notas de repúdio por parte de entidades ambientalistas internacionais, como o Greenpeace.

O MapBiomas é um sistema de validação e refinamento de alertas de desmatamento, degradação e regeneração de vegetação nativa com imagens de alta resolução, que são usadas, por exemplo, pelo Ministério Público. O objetivo é gerar uma documentação para alertas de desmatamento que seja semelhante à foto da placa do carro no registro de uma infração de trânsito. Com as imagens, é possível traçar claramente um "antes e depois", auxiliando na punição dos criminosos.

LE/ots

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