Relatório: desorganização prejudica mais o SUS do que falta de verba
Um relatório elaborado pelo Banco Mundial, divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo nesta segunda-feira, aponta que os problemas de acesso e cuidados especializados no Sistema Único de Saúde (SUS) têm mais a ver com desorganização e ineficiência do que com falta de dinheiro. Especialistas costumam citar a tese de que o subfinanciamento é um dos principais responsáveis pelas deficiências do sistema. O Banco Mundial reforça isso: mais da metade dos gastos com saúde no País se concentra no setor privado, e o gasto público (3,8% do PIB) está abaixo da média de nações em desenvolvimento. O relatório, porém, afirma que é possível fazer mais e melhor com o mesmo orçamento. "Diversas experiências têm demonstrado que o aumento de recursos investidos na saúde, sem que se observe a racionalização de seu uso, pode não gerar impacto significativo na saúde da população", diz Magnus Lindelow, líder de desenvolvimento humano do banco no Brasil.
Um exemplo citado no relatório é a baixa eficiência da rede hospitalar. Estudos mostram que os hospitais poderiam ter uma produção três vezes superior à atual, com o mesmo nível de insumos. Mais da metade dos hospitais brasileiros (65%) são pequenas unidades, com menos de 50 leitos (a literatura internacional aponta que, para ser eficiente, é preciso ter acima de cem leitos). Nessas instituições, leitos e salas cirúrgicas estão subutilizados (com taxa média de ocupação de 45%, enquanto a média internacional é de 70% a 75%). As salas de cirurgias estão desocupadas em 85% do tempo. Ao mesmo tempo, os poucos grandes hospitais de referência estão superlotados. Além disso, dois estudos citados pelo Banco Mundial estimam que em 30% das internações no Brasil os pacientes poderiam ter sido atendidos em ambulatórios por se enquadrarem em emergências "de baixo risco".