Rio 2016: Abertura deve ter Fernanda Montenegro, Judi Dench e Mangueira
A seis dias para o início das Olimpíadas, cresce a expectativa pela cerimônia de abertura, marcada para a noite da próxima sexta-feira no Maracanã, no Rio de Janeiro.
Guardada a sete chaves, a festa ainda tem detalhes em segredo, mas o diretor de cerimônias do Comitê Rio 2016 revelou, em entrevista exclusiva à BBC Brasil, que as atrizes Fernanda Montenegro e Judi Dench, estrelas do teatro brasileiro e britânico, terão papel de destaque.
Leonardo Caetano disse ainda que Mangueira, Portela e Mocidade Independente estarão no segmento das escolas de samba e que a história do Brasil será contada de forma "moderna e dinâmica".
Os números da cerimônia são imponentes: cinco anos de preparação, 400 mil horas de trabalho, 500 horas de ensaios, 36 quilômetros de tecido para 12 mil figurinos, 5 mil voluntários em cena, 300 pessoas na produção, 2 mil canhões de luz, 3 mil quilos de fogos de artifício, 300 dançarinos profissionais, 2 mil contratados terceirizados, 12 mil atletas, 109 projetores, 14 quilômetros de cabos, 45 chefes de Estado, 60 mil espectadores no estádio, milhares de jornalistas e 3 bilhões de pessoas assistindo pela TV no mundo.
Além dos números, alguns nomes estão sendo revelados. "Fernanda Montenegro e Judi Dench aceitaram o convite para declamar um poema conhecido em um momento sobre o qual não posso dar detalhes, mas certamente muitos o conhecem e lembrarão", diz Caetano.
Sobre a parte da cerimônia em que escolas de samba deverão se apresentar no campo do Maracanã, Caetano diz que Mangueira, Portela e Mocidade Independente deverão participar.
Os cantores Gilberto Gil, Caetano Veloso, Elza Soares, Anitta, MC Soffia e as modelos Gisele Bündchen e Lea T. são nomes confirmados na abertura.
Celebridades convidadas, afirma o diretor, poderão surgir na cerimônia em papeis surpreendentes. "Os artistas e cantores não serão apenas uma atração por si só. Podem ter algum papel. Caetano Veloso pode ser um 'descobridor do Brasil', cada um pode aparecer de uma forma diferente", adianta.
A entrada dos 12 mil atletas, chamados por ordem alfabética pelo nome de cada país, também deve ter novidades. "Vamos ter uma surpresa. Vai ser algo inusitado, mas não posso dar detalhes", diz.
Sensualidade, críticas e 'sala de aula'
A história do Brasil deve ser contada, tanto do ponto de vista da formação do país quanto da miscigenação racial que levou à formação do povo brasileiro, incluindo indígenas, africanos, europeus, asiáticos, árabes e judeus. Mas a sequência cronológica tradicional, com entrada e saída de segmentos passo a passo, deve sofrer alterações.
O trabalho artístico contou com a produção executiva de Abel Gomes e a direção artística de Fernando Meirelles, Daniela Thomas, Andrucha Waddington e Rosa Magalhães, além de coreografias de Deborah Colker.
"Não vamos ter sequência cronológica e nem essa coisa meio 'sala de aula' de 'entra índio, sai índio, entram os imigrantes europeus, saem os africanos'. Mostraremos tudo isso de forma moderna e dinâmica. Será uma releitura do Brasil", diz Caetano. Na prática, a cerimônia deve ter uma narrativa dividida em três frentes.
"A gente terá um momento em que vamos mostrar o brasileiro, o jeito brasileiro de receber as pessoas. O segundo é o 'jardim'. O Brasil vive sobre a maior reserva verde do mundo e isso é um assunto importante para nós. O terceiro é sobre a criatividade, a capacidade do brasileiro de fazer mais com menos", explica.
Sobre a imagem do Brasil que será transmitida ao exterior, o diretor diz que elementos tradicionais da cultura brasileira estarão presentes, mas afirma que o trabalho procurou evitar clichês e estereótipos.
"Para o mundo vai ser uma visão atualizada do que é ser carioca, do que é ser brasileiro. Uma oportunidade para o mundo entrar em contato com o resultado atual da nossa história e da nossa miscigenação", diz.
Reportagens na imprensa internacional já cogitaram excessos de sensualidade, bumbuns de fora, mulatas e clichês na cerimônia de abertura, que poderiam ser alvo de críticas, mas Caetano diz que não houve exagero.
"Agora, é claro que estamos no Rio de Janeiro e no Brasil, e há elementos que são da nossa cultura que não podemos deixar de mostrar, mas essa coisa de nudez e abuso da sensualidade certamente não será problema", diz.
Orçamento apertado
Em fevereiro, o vice-presidente do consórcio responsável pelos eventos da Olimpíada, Flávio Machado, disse que o corte de 30% no orçamento do Comitê Rio 2016 não havia afetado a abertura dos Jogos.
Ele negou que as cerimônias fossem ser "simples", mas reconheceu que as verbas eram muito menores do que as de Londres (2012) e Pequim (2008), por exemplo, e que diretores artísticos precisariam ter criatividade por não poderem "esbanjar".
Além dos recursos reduzidos, outra dificuldade é que o Maracanã não é um estádio olímpico, com a pista de atletismo, mas sim um estádio de futebol, muito menor.
Os organizadores dizem que foi necessário lidar com as dimensões reduzidas do acesso ao campo e que o palco teve que ser adaptado para que o espaço pudesse comportar todos os participantes.
"Tínhamos verba muito menor do que as últimas duas cerimônias e não podemos fazer uma abertura britânica nem uma abertura chinesa, mas sim uma abertura carioca e brasileira, que apostou na criatividade e no improviso. É isso que estamos fazendo, e estamos fazendo bem feito", diz Leonardo Caetano.
As cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro são organizadas pela Cerimônias Cariocas, uma união entre a agência brasileira SRCOM, que já montou eventos como o Réveillon de Copacabana, e o Brazilian Day, em Nova York, e a italiana Filmmaster Group, responsável pela abertura dos Jogos de Inverno de Turim, na Itália, em 2006.