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RJ: militares acusados de matar Mário Alves pedem para faltar audiência

Três militares acusados de tortura e morte do dirigente do PCBR entram com petição contra as comissões Nacional e Estadual da Verdade

14 ago 2013 - 11h41
(atualizado às 15h55)
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Grupo protesta na escadaria da Alerj antes da audiência, no Rio
Grupo protesta na escadaria da Alerj antes da audiência, no Rio
Foto: André Naddeo / André Naddeo

Os ex-tenentes do Exército Luiz Mário Correia Lima, Roberto Duque Estrada e Dulene Garcez entraram com petição junto às comissões Nacional e Estadual da Verdade do Rio de Janeiro para se ausentarem da audiência pública desta quarta-feira, no plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que apura a morte de Mário Alves. Ele é um dos primeiros casos de desaparecidos políticos da ditatura e teria sido torturado e assassinado no DOI-Codi do Rio em janeiro de 1970, na época em que atuava como dirigente do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Apenas o ex-major do Corpo de Bombeiros Valter da Costa Jacarandá, o quarto acusado, não entrou com pedido contra a anulação de seu depoimento, muito embora não se encontre na abertura da audiência. 

<a data-cke-saved-href="http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/desaparecidos-da-ditadura/" href="http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/desaparecidos-da-ditadura/">Desaparecidos da ditadura</a>

Um grupo de manifestantes de grupos antitortura do Rio de Janeiro, após a abertura dos trabalhos na casa, iniciou um protesto na plenária com gritos de ordem contra a ditadura e foram reprimidos pelos seguranças da Alerj, que tomaram as faixas com palavras de ordem. Após um empurra-empurra e um princípio de briga generalizada entre as partes, todos se acalmaram para o prosseguimento do trabalho da comissão. 

Manifestantes causam tumulto com seguranças da Alerj:

“O advogado deles veio com essa petição dizendo que eles já prestaram depoimento em esferas nacionais, e dizem que já estão sendo processados na Justiça Federal, mas vamos entrar junto ao Ministério Público Federal com uma ação penal por crime de desobediência. Desobedecer a ordem de convocação é crime”, atestou o presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio, Wadih Damous. 

“Vejo como uma omissão com o Estado. O motivo é inconsistente. Foi um desaparecimento forçado e assassinato com violência sexual. Algo inexplicável e desnecessário para instalar o estado do terror na época para destruir a vida das pessoas”, afirmou Rosa Cardoso, presidente da Comissão Nacional da Verdade, que apura os crimes do período em que o Brasil viveu sob o regime militar (1964-1985). 

Rodrigo Rocca, advogado dos militares acusados, explicou que “não se trata de desprestígio com a comissão, mas de convicção. Os outros já depuseram pelo mesmo fato. Por este motivo, que eles se reservam ao silencio de nada mais a declarar. Eles já respondem por esse mesmo episódio perante à Justiça Federal” . 

A audiência teve início às 10h40 e ouvirá, ao longo do dia, diversas testemunhas que comprovarão em depoimento as seguidas torturas pela qual passou o jornalista e dirigente do PCBR. A filha de Mário Alves, Lúcia Vieira, foi a primeira a abrir os trabalhos do dia com um emocionante depoimento na qual contou a trajetória política do pai. 

Antes disso, ela conversou com a reportagem do Terra, resignada da atitude dos miliares acusados do desaparecimento do seu pai – na época do assassinato, em 1970, ela tinha 19 anos. “Era algo que a gente já esperava. Essa gente não entende nossa dor, nunca vão entender, até porque não é do interesse deles”, lamentou. 

O jornalista Mário Alves de Souza Vieira
O jornalista Mário Alves de Souza Vieira
Foto: Reprodução / Comissão da Verdade do Rio

Depoimento de Lúcia Vieira contando a trajetória do pai:

“O jornalista Mário Alves de Souza Vieira (1923-1970), baiano de Sento Sé, fez o curso secundário em Salvador e iniciou sua militância política aos 16 anos. Foi um dos fundadores da União dos Estudantes da Bahia. Durante o Estado Novo, ele participou de congressos e atividades da UNE. Aos 23 anos, formou-se em Ciências Sociais na primeira turma da então Faculdade de Filosofia da Bahia. 

Ingressou no Partido Comunista Brasileiro em 1945 e em 1957 foi eleito para o Comitê Central. Após o golpe de 1964, tornou-se um dos líderes da corrente de esquerda dentro do PCB. Foi preso a primeira vez em julho de 1964, no Rio de Janeiro, libertado um ano depois. Com a suspensão de seus direitos políticos em 1966, seguida de uma condenação à revelia a sete anos de prisão, passou a viver e atuar na mais completa clandestinidade tornando-se um dos dirigentes das organizações de esquerda mais procurados pela ditadura. 

(...) Como desfecho da luta interna travada dentro do PCB, rompeu com o partido em 1968. Ao lado de Apolônio de Carvalho e outros membros dissidentes da direção, fundou o PCBR, do qual se tornou principal dirigente. Em 16 de janeiro de 1970, perto das 20h, despediu-se de sua mulher, Dilma, e saiu de casa, no subúrbio carioca de Abolição para encontrar um companheiro num ponto que o conduziria a uma reunião do Comitê Central – e nunca mais voltou”.

Fonte: Terra
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