Roberto Jefferson e Daniel Silveira: os alvos da Justiça tratados como presos políticos por bolsonaristas
Daniel Silveira e Roberto Jefferson, investigados em inquéritos sobre atos antidemocráticos, foram exaltados em manifestações bolsonaristas de 7 de setembro.
Cumprindo suas prisões preventivas longe das ruas, os políticos Daniel Silveira (PSL-RJ) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) tiveram seus nomes e rostos lembrados em manifestações favoráveis a Jair Bolsonaro em 7 de setembro, nas quais camisas e cartazes os chamavam de "presos políticos" e pediam sua liberdade.
Os dois aliados de Bolsonaro foram presos neste ano em meio a inquéritos que investigam atos antidemocráticos e a propagação de notícias falsas na internet. Em comum, Silveira e Jefferson tiveram também sua liberdade restrita após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes — um dos principais alvos dos bolsonaristas atualmente.
Fabrício Queiroz, também alvo de investigações e ex-assessor de Flávio Bolsonaro, filho do presidente, postou em uma rede social uma foto fazendo gesto de continência em direção a um boneco de papelão representando Roberto Jefferson. A foto foi tirada em manifestação no Rio de Janeiro, onde Queiroz foi filmado pela TV Globo ao lado de um manifestante com camisa preta que estampava: "Daniel Silveira & Roberto Jefferson & Zé Trovão & Wellington Macedo & LIBERDADE".
Nesta e nas manifestações de Brasília e São Paulo, Silveira e Jefferson foram defendidos junto com os nomes do caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, e do blogueiro Wellington Macedo, entre outros.
Gomes e Macedo são alvo de inquéritos no STF relatados por Alexandre de Moraes, que determinou em 3 de setembro a prisão preventiva deles após pedido da Procuradoria-Geral da República. Macedo já foi preso pela Polícia Federal e Zé Trovão está foragido — e mesmo assim seguiu postando provocações em suas redes sociais, desafiando Moraes a prendê-lo.
O caminhoneiro e o blogueiro, assim como o cantor Sérgio Reis, foram alvo de operação da PF em agosto, autorizada por Moraes, e são investigados por incitar a violência contra as instituições democráticas, sobretudo na organização dos atos de 7 de setembro.
"As condutas dos investigados, narradas pela Procuradoria Geral da República, revelam-se ilícitas e gravíssimas, constituindo ameaça ilegal à segurança dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e aos membros do Congresso Nacional", escreveu o ministro Alexandre de Moraes ao autorizar a operação da PF em agosto.
Já o presidente nacional do PTB e ex-deputado Federal Roberto Jefferson foi preso preventivamente em 13 de agosto em meio a investigação conduzida pela Polícia Federal e que vem sendo chamada de inquérito das milícias digitais. A prisão preventiva foi autorizada por Alexandre de Moraes.
No último dia 4 de setembro, o ministro do STF autorizou a transferência de Jefferson para um hospital no Rio de Janeiro, onde recebe tratamento para uma infecção urinária e dores na lombar. Moraes determinou que Jefferson use uma tornozeleira eletrônica no hospital e volte à prisão quando tiver alta.
A PF aponta indícios de crimes em falas de Jefferson como em uma entrevista na qual ele convocou interlocutores a "concentrar as pressões populares contra o Senado e, se preciso, invadir o Senado e colocar para fora a CPI a pescoção". Em outra, o ex-deputado afirmou que o Brasil precisa "fazer uma limpeza, começando pelo Supremo, ninho de bruxas e urubus".
Também foi incitando a destituição de ministros do STF e exaltando a ditadura militar que um vídeo divulgado pelo deputado federal Daniel Silveira fez com que ele tivesse sua prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes em fevereiro, decisão depois foi confirmada pelo plenário do Supremo.
Em março, Moraes concedeu prisão domiciliar a Silveira, mas em junho o deputado voltou à cadeia após a Procuradoria-Geral da República demonstrar que ele violou mais de 30 vezes medidas restritivas como o uso da tornozeleira eletrônica.
No último dia de agosto, o ministro do STF negou um pedido de restabelecimento da prisão domiciliar para Daniel Silveira.
Em entrevista à BBC News Brasil por telefone, o advogado de Silveira, Jean Cleber Garcia Farias, afirmou que seu cliente "cometeu excessos de linguagem, na adjetivação, mas nada que beire a um crime contra o estado democrático de direito". Ao longo de toda a ligação, o advogado mencionou o nome de Alexandre de Moraes.
"Meu oponente hoje é o Alexandre de Moraes, não é o STF", disse Farias. "Eu entendo que toda essa manifestação (de 7 de setembro) deveria servir para sensibilizar as pessoas que estão agindo em sentido contrário ao que é o estado democrático de direito. Mas não adianta: hoje o Alexandre está entorpecido pelo poder."
A reportagem pediu também posicionamentos da assessoria de imprensa de Roberto Jefferson e do STF em nome de Alexandre de Moraes, mas não havia recebido resposta até a última atualização desta reportagem.
Discursando em São Paulo no Dia da Independência, Jair Bolsonaro também dedicou boa parte de sua fala para atacar Moraes — contra quem apresentou um pedido de impeachment em 20 de agosto, que foi rejeitado no Senado.
"Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade", disse Bolsonaro a apoiadores, sem citar nomes específicos destes presos. "Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá."