RS: peritos retiram gás para depois remover restos mortais de Jango
Antes de remover os restos mortais do ex-presidente da República João Goulart, os peritos fazem nesta quarta-feira a retirada do gás encontrado dentro do jazigo. O trabalho de exumação começou por volta das 7h no cemitério Jardim da Paz, em São Borja, a 594 quilômetros de Porto Alegre (RS). Os exames fazem parte dos esforços da Comissão Nacional da Verdade (CNV) para determinar se Jango foi ou não assassinado durante a ditadura militar.
O gás é resultado da decomposição da matéria orgânica e estava previsto durante o processo. Para retirá-lo, os peritos fizeram um buraco na sepultura e usam uma bomba para coletar a substância, que deve ser concluída perto do meio-dia. Somente depois é que os peritos vão abrir efetivamente a sepultura e retirar os restos mortais do ex-presidente. Em seguida, esse gás será encaminhado também para análise.
"Fizemos a retirada da tampa do jazigo. Posteriormente, toda a identificação. Tudo estava de acordo com o que esperávamos, segundo as informações que nós tínhamos, e agora estamos no processo de coleto de material gasoso de dentro da sepultura", explicou o chefe dos peritos, Amauri de Souza Junior.
De acordo com Jorge Peres, perito cubano que trabalhou na exumação do revolucionário Ernesto Che Guevara, a retirada do gás está dentro das metodologistas internacionais aplicadas nesses casos. "Nós eliminamos qualquer possiblidade de perda de material que pudesse, porventura, causar algum desconforto por não ter sido buscado, ou algo parecido. É um processo normal, já esperado", completou.
"(A Cruz Vermelha) vem prestar seus serviços para dar o máximo de garantias de respeito aos interesses da família, à dignidade humana no processo dos protocolos científicos do mais alto padrão e dos procedimentos mais avançados. Nossa missão é um marco de cooperação dentro de uma equipe internacional", afirmou Felipe Donoso, da Cruz Vermelha.
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), e a ministra da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Maria do Rosário, acompanharam o início da exumação. "É um dever político do governo esclarecer esse fato", afirmou o governador, citando que pediu a abertura da investigação quando ainda era ministro da Justiça. Os dois foram embora de São Borja pouco antes das 11h.
A Casa Militar do Estado organizou um esquema de segurança para que familiares e autoridades acompanhem o procedimento. Porém, apenas os peritos têm acesso ao jazigo. Depois do procedimento, o corpo de Jango será levado a Santa Maria, de onde sairá na quinta-feira rumo a Brasília, com honras de chefe de Estado. No dia 5 de dezembro, o corpo de Jango voltará ao Rio Grande do Sul, onde será recebido no Palácio Piratini pelo governador Tarso Genro. No dia seguinte, data que marca os 37 anos da morte do ex-presidente, será levado de volta a São Borja.
A exumação servirá para apurar a suspeita de que Jango tenha sido morto por envenenamento, durante exílio na Argentina em 1976, o que contraria a versão oficial de que ele foi vítima de um ataque cardíaco. Christopher Goulart, neto e advogado da família, diz que não há dúvidas de que o avô foi assassinado durante a ditadura. A exumação do corpo de um ex-presidente é um fato inédito no Brasil.