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'Se Cunha é malvado, é meu malvado favorito', diz Marco Feliciano

13 abr 2016 - 16h39
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Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

"Você vai falar com o pastor agora." Quando o assessor passa o telefone ao deputado Marco Feliciano (PSC-SP), avisa que, além do político, está ali a liderança religiosa. E ela é parte importante das opiniões de Feliciano, membro da comissão de impeachment para quem Deus e as igrejas tiveram um papel na crítica ao governo.

"As igrejas começaram a se mover. Elas eram apolíticas, né? Até que começaram a perceber que a política podia (se) movimentar atrapalhando a fé delas."

Figura polêmica por suas posições contrárias ao casamento homossexual e ao aborto, o deputado votou na segunda-feira pela aprovação do parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO), favorável à abertura do processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff.

Em entrevista à BBC Brasil, ele diz que "seu sonho primário" é ver o PT perder o governo e chama o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de "meu malvado favorito", elogiando-o por ter aceitado o pedido de impeachment.

"O Cunha, todo mundo chama de malvado, né? Se ele é malvado, para mim é meu malvado favorito. Porque ele colocou o impeachment para andar."

O deputado também defendeu as várias menções religiosas durante a última reunião da comissão, que começou com seu presidente, o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), entoando a oração de São Francisco de Assis. Para Feliciano, isso não feriria o princípio do Estado laico.

"Graças a Deus por o Estado ser laico. O Parlamento não começa a sessão sem o presidente ficar de pé e dizer: 'sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro'."

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

BBC Brasil - Como você avalia a aprovação do parecer de Jovair Arantes na comissão do impeachment?

Marco Feliciano - Foi uma surpresa. Nós temos um grupo que trabalha de manhã, de noite, de madrugada, em prol do impeachment. E acreditávamos que teríamos entre 33 e 35 votos. Tivemos 38. Isso nos deixou com muita esperança de que o impeachment vai ser aprovado no dia 17.

BBC Brasil - Essa surpresa se deve a deputados que não tinham revelado sua posição?

Marco Feliciano - Exato. Foram deputados que nem acreditávamos que estavam em dúvida, acreditávamos que estavam do lado do governo. De repente, estava no painelzinho o nome deles, votando a favor. Foi muito legal.

A princípio tivemos um pouco de receio porque alguns partidos tinham declarado que iriam liberar o pessoal dentro da comissão (para votar como quisessem) e na hora desistiram, votaram contra o impeachment. Subiu aquele friozinho na boca do estômago, né? Mas de repente ficou melhor do que o esperado, exatamente por essa atitude do partido de ter traído os próprios deputados. Isso criou uma revolta e os deputados votaram pelo Brasil.

BBC Brasil - Depois desse resultado, acredita que o impeachment vai passar na Câmara?

Marco Feliciano - O trabalho é árduo, porque o governo está jogando pesado. Tem muito deputado que deixou de decidir, porque sabe que pode ter algum benefício com o governo. Nosso sentimento é que o deputado que tiver juízo não vai querer dar um tiro no pé, a exemplo do impeachment do Collor. Dos deputados que votaram contra (o afastamento do presidente em 1992), só temos dois no Congresso.

O restante não se elegeu nem para síndico de prédio, com exceção de um, o (senador Ronaldo) Caiado (DEM-GO), que está no Senado. Todos que votaram contra o impeachment foram punidos pela população. Neste momento, o Parlamento tem que ouvir o grito do povo.

BBC Brasil - O presidente da comissão começou sua fala na segunda-feira citando uma oração de São Francisco. Houve críticas de que isso não seria adequado porque o Estado é laico. O que acha dessas ponderações?

Marco Feliciano - É um mantra recitado pela esquerda, de que o Estado é laico. É de fato e graças a Deus por o Estado ser laico. O Estado laico protege o seu direito de fé e o meu. Posso fazer o que quiser em nome da minha fé e ninguém pode tolher meu direito. O preâmbulo da nossa Constituição Federal começa com Deus. O Parlamento não começa a sessão sem o presidente ficar de pé e dizer: “sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro”. Se você olhar atrás do presidente da nossa Casa, vai ver uma imagem de Cristo pendurada.

Os constituintes de 1988 que disseram que o Estado era laico permitiram que houvesse a fé cristã. Nosso país é laico, mas temos 90% de pessoas cristãs, então esse mantra recitado pela esquerda entra na cabeça e às vezes acaba quase convencendo, sabia? É a mesma coisa quando dizem que todo mundo prega o ódio. Na verdade, não é ódio. É indignação. Quando você fala um pouco mais áspero, eles chamam de fascista. Não é fascismo, é indignação.

BBC Brasil - Indignação contra o governo?

Marco Feliciano - Eles estão com metade do povo deles presa. A presidenta nunca soube de nada, os ministros do Lula caíram todos por corrupção e ninguém viu nada. Parece até magia negra, viu?

O Estado é laico, mas não é laicista. Laicismo é ateísmo. Se vivêssemos num Estado ateu, se você falasse o nome de Deus poderia ser apedrejada na rua. O Estado é laico, graças a Deus. Só Deus para ajudar a gente.

BBC Brasil - O senhor vê um elemento divino nessa questão do impeachment?

Marco Feliciano - Agora vai falar o pastor e não o deputado. Acredito que há um mundo espiritual que de vez em quando entra em contato com o mundo natural. A presidenta não disse um dia que se faz o diabo para se manter na política? Pois bem. Se ela pode usar o diabo para se manter na política, só tem uma força que contrapõe o diabo: é Deus. Então, a gente ora. Temos um grupo de pastores, de deputados cristãos, tem a frente católica que faz a missa. E a nossa oração é para que Deus ilumine nosso país. Creio que Deus resolveu olhar para o nosso país.

Depois que esse governo tocou nas nossas crianças com a ideologia de gênero implantada nas escolas, depois que começou a pregar um Estado marxista através das universidades... Para o comunista o Estado tem que ser Deus. Só que esse pessoal esbarra numa força invisível. Quando o fiel tem um problema, não vai bater na porta do governo, vai para uma igreja e sai fazendo uma oração. E, quando faz uma oração, não me pergunte como, as coisas melhoram.

BBC Brasil - Quando você diz que “Deus resolveu olhar para o país”, fala especificamente da marcha do processo de impeachment?

Marco Feliciano - Três anos atrás a presidente Dilma tinha 75% de aprovação. O país era a 6ª maior economia do mundo. Quem olhava para o Brasil, o via como a esperança do mundo.

Em 2013, fui perseguido por movimentos sociais que são mantidos pelo PT, PCdoB e PSOL. Então, tenho uma visão (sobre isso). Fiquei 90 dias em todos os jornais por causa de uma comissãozinha (ele foi presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias) que não prestava para nada.

Um homem que nunca fez mal a ninguém, sendo perseguido em avião! Enquanto (os movimentos) estavam tocando no político, estava tudo bem. Mas quando a mídia tendenciosa, os intelectuais e os políticos deram asa para esses movimentos, que começaram a entrar nas igrejas, tirar roupa, dar beijo na boca... Eles pararam de tocar no político e começaram a tocar naquilo que há de mais puro: a fé do ser humano. Nesse momento, cometeram um erro terrível.

BBC Brasil - Quais acha que foram as consequências?

Marco Feliciano - Começou a descambar. A perseguição comigo começou em março e foi até maio. Terminou quando eu disse que sairia da comissão se o José Genoíno e o João Paulo Cunha fossem presos, se deixassem a Comissão de Constituição e Justiça. Eles estavam condenados e foram presos. Depois pararam de me perseguir. O William Boner falou no Jornal Nacional e o Brasil virou do meu lado, porque falei uma verdade. No dia 5 de junho houve a primeira manifestação em Brasília. Quem fez? Nós, evangélicos. Foi o evento (por) toda a perseguição que eu sofria. Uma semana depois, começaram as manifestações de rua.

Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

A primeira grande manifestação do Brasil não foi dos movimentos sociais, fomos nós, evangélicos, (que fizemos). Duas semanas depois começou o Movimento Passe Livre e não parou mais. De lá para cá, olha o que aconteceu com o governo.

A fé foi tão forte que olha quem Deus usa: um elemento surpresa, um juiz do Paraná. Que vai procurar um negócio de Lava Jato e de repente puxa um fio. Já viu juiz se dobrar em cima de ações? Mas esse menino resolveu ler e, no meio da leitura, saltou um nome, que era o da Petrobras.

Foram forças que estão fora do controle do homem. O nosso governo aparelhou tudo, é só você olhar os votos do Supremo Tribunal Federal. Mas não conseguiu aparelhar um juizinho lá do Paraná. E hoje virou uma personalidade tão forte que o brasileiro encontrou nele uma esperança de honestidade.

BBC Brasil - Qual é o papel das igrejas no movimento pró-impeachment?

Marco Feliciano - As igrejas começaram a se mover. Elas eram apolíticas, né? Até que começaram a perceber que a política podia (se) movimentar atrapalhando a fé delas. Por exemplo, o PL 122, a lei que criminalizava a homofobia. Havia artigos que proibiam você de citar qualquer texto que fosse contrário ao homossexualismo. Como ficaria a Bíblia? Um padre ou pastor que falasse qualquer coisa poderia ser preso. As igrejas começaram a acordar.

Todavia, não é unanimidade. Temos dentro do movimento os evangélicos progressistas. É parecido com aquele grupo da Igreja Católica que ajudou a fundar o PT, a Teologia da Libertação. Eles são contra (o impeachment). Mas a grande maioria do movimento neopentecostal aderiu ao movimento. Você vê, o PRB (que vai votar a favor do impeachment) é da Igreja Universal. Era da situação, tinha ministério. Deixaram tudo e vieram para cá.

BBC Brasil - Muitas reportagens mostraram que boa parte dos deputados integrantes da comissão de impeachment são réus em processos e receberam doações de empresas da Lava Jato. O senhor recebeu doação da OAS e teve a prestação de contas reprovada. Como responde a isso?

Marco Feliciano - Nas minhas prestações de contas, vencemos tudo, graças a Deus. Tenho uma pendência na Justiça que é por culpa do PT. Em 2013, o PT, junto com o PSOL, me processou por racismo, homofobia, danos morais. Me acusaram de ter pastores dentro do meu gabinete, como se fosse crime.

Meu reduto é evangélico. Quem pode ser meu assessor senão aqueles que são evangélicos? (Mas não tenho) nenhum processo por improbidade, desvio. Sobre as empresas que estavam na Lava Jato: meu partido parece que recebeu alguma coisa da OAS, né? Na minha conta, acho que mandaram R$ 6 mil. Isso entrou na prestação de contas de maneira legal.

BBC Brasil - Após o processo de impeachment, como consideraria ideal para o futuro do país? Um governo Temer, novas eleições?

Marco Feliciano - O que almejo nesse momento, meu sonho primário, é ver o PT perder o governo. Esse é o meu sonho. O que vier daí, qualquer coisa, é lucro. Não é que eu queira o Temer, só que qualquer coisa é melhor do que o PT.

Alguém perguntou para mim: o que você acha do Cunha? O Cunha, todo mundo chama de malvado, né? Se ele é malvado, para mim é meu malvado favorito. Porque foi ele colocou o impeachment para andar. Não importa o porquê, o motivo, o que importa é que ele teve coragem, peitou esse governo. Na política, você tem que ter um lado. Não pode ficar em cima do muro. Tenho dois lados na política: o ruim e o menos ruim. Neste momento, estou com o menos ruim.

BBC Brasil - Você vai se candidatar à prefeitura de São Paulo pelo PSC?

Marco Feliciano - Está tudo certo ainda. Lançamos meu nome e eu sai até bem pontuado na primeira pesquisa. Estou dependendo de um sinal verde do partido. Por mim, já estou dentro. Vamos para briga.

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