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Seis destaques da acachapante cassação de Cunha

13 set 2016 - 02h17
(atualizado às 07h56)
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O plenário da Câmara dos Deputados aprovou por 450 a favor, 10 contra e 9 abstenções a cassação do mandato do deputado afastado Eduardo Cunha
O plenário da Câmara dos Deputados aprovou por 450 a favor, 10 contra e 9 abstenções a cassação do mandato do deputado afastado Eduardo Cunha
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O até há pouco tempo todo poderoso Eduardo Cunha foi cassado nesta segunda-feira pela ampla maioria de seus colegas, perdendo seu mandato de deputado e direitos políticos. Foram 450 votos pela cassação, dez contra e nove abstenções.

Com a perda do foro privilegiado, o peemedebista agora pode ser condenado e preso a partir da decisão de um juiz de primeira instância, como Sérgio Moro, por exemplo. Fica também oito anos sem poder disputar eleições.

A maioria da Casa entendeu que Cunha quebrou o decoro parlamentar ao negar ter contas no exterior durante depoimento na CPI da Petrobras, no ano passado. Em seu discurso de defesa, o peemedebista disse que sua cassação era uma vingança por ter dado andamento ao pedido de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff.

Abandonado

Cunha foi eleito em fevereiro de 2015 para ser presidente da Câmara com apoio de 267 deputados, garantindo sua vitória em primeiro turno, algo raro.

Construiu seu prestígio com uma agenda de valorização de Poder Legislativo ante o Planalto. Sua postura de enfrentamento culminou no processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, mas também lhe rendeu desgaste.

Foi também determinante para sua perda de prestígio político as inúmeras denúncias de que teria recebido propina desviada da Petrobras e em outros esquemas de corrupção.

Mesmo partidos que eram majoritariamente aliados a Cunha em peso pela cassação, como PMDB, PP e PR, salvo raras exceções.

Foi o caso, por exemplo, de Arthur Lira (AL-PP), Wellington Roberto (PR-PB) e Carlos Marun (PMDB-MS) - esse último o principal porta-voz de sua defesa na sessão desta segunda. Apenas ele e o deputado delegado Edson Moreira (PR-MG) subiram à tribuna para falar contra a cassação de Cunha.

O peemedebista já estava afastado do seu mandato por decisão do STF desde maio.

Sem fatiamento

A cassação de Cunha já era esperada, mas ele tinha esperança de manter seu direito político a disputar a próxima eleição.

Seus aliados apresentaram um requerimento tentando mudar o formado de votação para permitir que emendas pudessem ser apresentadas à proposta de cassação. O objetivo era assim tentar "fatiar" a votação da cassação de Cunha, como ocorreu no julgamento de Dilma pelo Senado - a petista foi condenada, mas acabou tendo seus direitos políticos preservados.

A maioria dos deputados, porém, rejeitaram a proposta e mantiveram a votação "fechada" do parecer do relator do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que defendia a cassação de Cunha, com consequente perda dos direitos políticos.

Defesa

Cunha compareceu pessoalmente para discursar em sua defesa. Antes da votação, ele tentou sensibilizar seus pares dizendo que sua cassação seria um precedente contra os demais deputados. Segundo ele, cerca de 160 enfrentam denúncias.

"Amanhã é contra vocês", alertou.

Cunha afirmou também que a proposta de cassação era uma "vingança" por ele ter aceitado o pedido de impeachment.

Quando Cunha deu abertura ao trâmite contra Dilma, a representação contra ele já tramitava no Conselho de Ética, em estágio inicial de análise.

"O PT quer um troféu para dizer que é golpe. (...) Eu estou pagando o preço por ter dado andamento ao impeachment. É o preço que estou pagando por ter livrado o Brasil do PT", afirmou.

O advogado de Cunha Marcelo Nobre também teve direito a uma fala final. Ele voltou a sustentar que o peemedebista não era dono de contas no exterior, mas apenas "beneficiário" de recursos depositados em "trust".

Acusação

Antecipando o resultado que viria ao final da sessão, diversos deputados discursaram pedindo a cassação de Cunha.

Marcos Rogério, que relatou o caso no Conselho de Ética, disse que todas as provas analisadas, como extratos bancários, depoimentos de testemunhas e documentos do Ministério Público suíço, comprovaram que o parlamentar possui conta, patrimônio e bens no exterior não declarados à Receita Federal.

"Os trusts criados pelo representado (Eduardo Cunha) não passam de empresa de papel, de instrumentos criados para evasão de divisas, lavagem de dinheiro e recebimento de propina", discursou.

Ele argumentou também que Cunha teve amplo direito à defesa. Todo o processo contra o peemedebista durou 314 dias.

"A querida já foi"

Após a cassação, Cunha deixou o plenário sustendo um leve sorriso no rosto, apesar das hostilidades dos demais deputados, que gritavam contra ele.

A BBC Brasil captou o momento em que ele respondeu um deles dizendo "a querida já foi", em referência ao impeachment de Dilma. Em resposta, ouviu: "E o querido está indo para Curitiba, tchau tchau".

A provocação foi uma referência ao risco que Cunha agora enfrenta de ser preso por decisão do juiz federal da Curitiba Sérgio Moro.

Durante seu discurso, Cunha fez questão de ressaltar seu papel central na queda de Dilma.

"Alguém tem dúvida de que não fosse minha atuação teria processo de impeachment?", questionou.

"Globo, governo e PT"

Cunha deu breve entrevista em que apontou culpados por sua cassação - "o binômio governo (de Michel Temer) e (TV) Globo, associado ao PT".

Segundo ele, a maior emissora do país teria feito campanha contra ele. Já o governo Temer, afirmou, teria aderido ao movimento por sua cassação ao ter patrocinado a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) como presidente da Câmara, contra o candidato apoiado por Cunha, Rogério Rosso (PSD-DF).

Apesar disso, Rosso também votou pela perda do mandato do deputado.

"Estou culpando o governo. (O governo) tem a responsabilidade na medida em que patrocinou uma candidatura do presidente da Câmara junto com o PT com esse compromisso (de aprovar sua cassação)", afirmou.

Questionado sobre o que faria agora, Cunha disse que escreverá um livro sobre o impeachment. Ele voltou a dizer que não pretende firmar um acordo de delação premiada.

"Só faz delação quem é criminoso", afirmou.

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