"Sem a Samarco, Mariana vai parar", diz prefeito
Em entrevista à DW, Duarte Junior admite extrema dependência do município dos impostos pagos pela mineradora, que representam 80% da arrecadação. Prefeito teme pelo futuro da cidade. "O momento é de extrema preocupação."
A dependência da mineração representa uma ameaça ao futuro do município de Mariana, em Minas Gerais. Em entrevista à DW Brasil, o prefeito Duarte Junior admite que um possível fechamento da mineradora Samarco faria a cidade "parar".
As atividades da empresa foram suspensas após o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão, no dia 5 de novembro, que destruiu vilarejos e deixou ao menos 11 mortos e 15 desaparecidos.
Preocupados com o futuro da cidade, moradores de Mariana têm saído às ruas para exigir a retomada imediata do funcionamento da mineradora.
A subsidiária da Vale e da anglo-australiana BHP emprega cerca de 4 mil funcionários. Além disso, cerca de 80% da arrecadação municipal depende dos impostos pagos pela Samarco.
"Se eu falar em fechar a Samarco eu estou falando em fechar a prefeitura", afirma Duarte Junior. "Se a mineração parar, os recursos vão cair."
O prefeito admite que as administrações municipais também têm responsabilidade pelas consequências econômicas da tragédia. "Nunca tivemos diversificação econômica, somos totalmente dependentes da mineração."
DW: O município é dependente da mineração. Como fica a relação de Mariana com a Samarco depois do acidente?
Duarte Junior: Nós entendemos que a Samarco é responsável por essa tragédia. Ela tem que arcar com todos os prejuízos e indenizar as pessoas. Nós entendemos que a Samarco é responsável pelas pessoas que perderam a vida também. A culpa nós vamos deixar para o Judiciário decidir: se foi uma falha humana, se foi do Estado ou das autoridades que cuidam das licenças ambientais. A gente vai diferenciar as coisas: a responsabilidade é da Samarco e a culpa será apurada pelo Judiciário para entender o que aconteceu.
Mas como a cidade e seus moradores olham para a empresa agora?
Hoje existe o sentimento de muita tristeza pelas vidas que se perderam, por essa tragédia. Mas se eu falar em fechar a Samarco eu estou falando em fechar a prefeitura, porque 80% de arrecadação é da mineração. Nesse momento, as pessoas começam a perceber a importância da empresa. Existem alguns movimentos que querem fazer a passeata, porque entendemos que é preciso suspender o serviço [da Samarco] nesse momento para descobrir os culpados pela tragédia. Mas falar em parar a mineração é falar em fechar o município de Mariana.
Nós também temos que assumir a nossa responsabilidade. Nós nunca tivemos diversificação econômica, somos totalmente dependentes da mineração. Sempre entrou muito dinheiro no município por meio do CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais). Nunca nos preocupamos em ter um distrito industrial, por exemplo. Então que isso sirva de lição para nós, que estamos administrando os municípios, para que possamos agir com firmeza e ser menos dependentes.
Havia uma preocupação anteriormente com a segurança dessas barragens de rejeitos por parte do município?
As licenças para esse funcionamento ficam a cargo do governo do estado. Sempre foi colocado que essas barragens eram as mais seguras, que havia todo um controle. Mas ficou demonstrado que não, que essas barragens não são assim tão seguras, porque a que rompeu [Fundão] trouxe um enorme prejuízo para todo o nosso país.
E quanto à assistência dos governos federal e estadual?
O governo federal e estadual disponibilizaram a mão de obra necessária para nos ajudar. Nós solicitamos ao governo estadual e federal que abrissem mão de uma parte do CFEM para que 100% do tributo fique no município. Eles não concordaram e disseram que eu deveria cobrar da Samarco que a empresa mantivesse a receita do município. Se os governos federal e estadual tivessem aberto mão do tributo acho que seria um gesto de nobreza com o município de Mariana. Apenas 2% do valor do minério retirado do município fica aqui.
Como o senhor vê agora o futuro de Mariana?
Com muita preocupação. Porque isso é uma bola de neve. Se a mineração parar, os recursos vão cair e a cidade vai parar. O comércio local também depende da mineração. São mais de 4 mil funcionários só na Samarco. Os recursos que advêm da mineração passam da casa dos 6 milhões de reais por mês. Então o momento é de extrema preocupação com o futuro de Mariana.