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Temer deve montar novo ministério com segundo escalão

29 mar 2018 - 15h09
(atualizado às 15h39)
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As dificuldades para montar um novo ministério a partir de abril com nomes de peso político devem levar o presidente Michel Temer a aceitar um grupo formado, em sua maioria, por secretários-executivos ou técnicos, disseram à Reuters fontes que acompanham as negociações.

O governo ainda não conseguiu sequer fechar o cenário para a troca dos 13 ministros que serão candidatos nas próximas eleições, apesar do limite para deixarem seus cargos até 7 de abril.

Presidente Michel Temer durante cerimônia, em Brasília 27/03/2018 REUTERS/Ueslei Marcelino
Presidente Michel Temer durante cerimônia, em Brasília 27/03/2018 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, em pelo menos oito casos já está definido, ou pelo menos é a maior probabilidade, que ficará no comando da pasta o secretário-executivo ou algum outro técnico habilitado que tenha por trás uma indicação política.

A prática de colocar como titulares de ministérios os secretários-executivos no último ano do mandato do presidente era comum em governos anteriores, já que dificilmente se consegue nomes de peso na política que não sejam candidatos nas eleições. No entanto, na tentativa de segurar partidos da base em uma aliança para as eleições, Temer anunciou que os cargos continuariam nas mãos das siglas e daria a elas a possibilidade de fazer as indicações.

Até agora, o governo já tem praticamente certo o único nome que não depende de indicação política. Eduardo Guardia, secretário-executivo da Fazenda e escolhido pelo atual titular da pasta, Henrique Meirelles, para sucedê-lo.

Também está definido que Valter Casimiro Silveira, atual presidente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e ligado ao PR, irá assumir o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil no lugar de Maurício Quintella. O acerto foi feito essa semana entre Temer e o ex-deputado Valdemar Costa Neto, figura influente do PR.

Dois ministérios que perderam seus titulares ainda em dezembro, as pastas do Trabalho e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, devem manter os interinos, ex-secretários-executivos que foram indicados, respectivamente, pelo PTB e pelo PRB, para se manterem no cargo. A questão, nesse caso, é se os partidos continuarão ou não no governo.

"Eu não sei é se eles vão querer que a gente saia", disse à Reuters o presidente do PTB, Roberto Jefferson. "Uma coisa é a gente apoiar o governo, outra é candidatura. Nós não tínhamos compromisso de apoiar uma candidatura de governista."

O PTB já fechou, em sua maioria, apoio ao pré-candidato à Presidência do PSDB, Geraldo Alckmin, apesar de Jefferson ter indicado Helton Yomura, interino do Trabalho e ligado ao partido, para permanecer como ministro.

O PRB está na mesma situação. O partido acabou de filiar o empresário Flávio Rocha, presidente-executivo da Riachuelo, para ser candidato à Presidência pelo partido. Ao mesmo tempo, segundo uma fonte partidária, indicou o atual interino, Marcos Jorge, para permanecer à frente do MDIC.

"Agora eu não sei se o presidente vai mesmo condicionar o comando do ministério ao apoio à candidatura. Eu acho que deveria separar governo, que continua e tem muito o que fazer, e eleições", disse a fonte.

TENTATIVA DE GARANTIR APOIO

Há algumas semanas, em reuniões individuais com presidentes de partidos, Temer exigiu que aqueles que ficassem no governo se comprometessem em apoiar a candidatura governista -- à época ainda mais indefinida do que hoje.

Desde então, o próprio presidente colocou seu nome, que não entusiasma, ou o de Meirelles para esse papel. No entanto, boa parte da base já caminha para ter candidatura própria --como o DEM, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e o PRB, com Rocha-- ou para apoiar Alckmin ou Maia.

"Acredito que lá em agosto, quando vai se ver que candidaturas se firmaram, o governo poderá fazer esse ajuste. Agora é difícil", disse a fonte do PRB.

A exigência também dificulta que o governo encontre nomes políticos fortes em partidos que nem sabem se ficarão no governo.

Até agora, PP e MDB, o partido de Temer, são os que podem apresentar nomes mais pesados para os cargos que ocupam na Esplanada.

O PP apresentou o nome do presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, para substituir Ricardo Barros na Saúde, mas a troca foi inicialmente vetada pelo Planalto, que queria mantê-lo no banco público. A dificuldade maior seria encontrar um nome para a Caixa que fosse aprovado pela diretoria do Banco Central, uma nova exigência imposta pela equipe econômica.

No entanto, na quarta-feira o nome de Occhi voltou a circular pela dificuldade do PP em achar outra indicação, segundo uma fonte palaciana. Para substituí-lo poderia ser indicado Nelson de Souza, atual diretor de Habitação do banco. "Mas não tem nada definido ainda", salientou a fonte.

MDB

No caso do MDB, as disputas internas ainda não deixaram o governo chegar a uma definição nas pastas que cabem ao partido --Turismo, Minas e Energia, Integração Nacional, Esporte e Desenvolvimento Social. Neste último, a tendência é que assuma o secretário-executivo Alberto Beltrame no lugar de Osmar Terra, mas ainda é necessária a benção da bancada do partido na Câmara.

No Ministério de Minas e Energia, os senadores Eduardo Braga (AM) e Edison Lobão (MA) disputam o nome do novo ministro, mas, segundo a fonte palaciana, nenhum dos dois deve levar e a pasta deve ficar com um técnico. Lobão, contrário à privatização da Eletrobras, dificilmente seria contemplado.

No Esporte, a tendência também é que fique Rogério Sampaio, ex-judoca e secretário de Esportes de Alto Rendimento.

Já no Turismo, o partido tem três nomes --Vinícius Lummertz, presidente da Embratur; o chefe de gabinete da Secretaria de Governo, Carlos Henrique Sobral; e Teté Bezerra, secretaria de Qualificação do Turismo e mulher do deputado Carlos Bezerra-- mas não definiu a indicação.

Segundo uma fonte que acompanha a discussão, o atual ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, só deixará a pasta no último dia da desincompatibilização.

Até lá, o governo tenta encontrar uma solução para a disputa entre o presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE), de um lado, e os senadores Jader Barbalho (PA) --pai do atual ministro-- e Renan Calheiros (AL), de outro.

"Até o final do ano vai ser inaugurado a última fase da transposição do São Francisco, que leva água até Fortaleza. Eleitoralmente isso é muito importante para Eunício", disse a fonte. O presidente do Senado, que anda às turras com o Planalto, defende o nome de Marlon Cambraia, atual secretario de Desenvolvimento Regional, que é cearense como o senador.

Também devem ficar nas mãos de técnicos os Ministérios da Educação --de saída, Mendonça Filho (DEM) indicou sua secretária-executiva, Maria Helena Castro, filiada ao PSDB-- e Comunicação, Ciência e Tecnologia.

Na última quarta-feira, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou que Temer usará o feriado de Páscoa para tentar fechar os nomes e deve se reunir no domingo à noite com seus auxiliares mais próximos para acertar o quadro de novos ministros. "Até agora nenhuma decisão definitiva foi tomada", disse o ministro.

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DW entrevista Michel Temer em São Paulo:
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