Sem nova data: com pneumonia, Lula adia viagem à China
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adiou a viagem que faria para a China neste fim de semana por orientação médica, que menciona "broncopneumonia bacteriana e viral por influenza A"
Diagnosticado com uma broncopneumonia, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cancelou a viagem que faria à China neste domingo (26/3).
A visita oficial a Pequim era planejada por Lula antes mesmo da posse e previa que o mandatário brasileiro fosse recebido em jantar por Xi Jinping no Palácio do Povo. Lula estaria acompanhado de uma comitiva de mais de 30 políticos e 200 empresários - incluindo os irmãos Joesley Batista e Wesley Batista, da JBS. Parte da comitiva j chegou à capital chinesa.
Lula, no entanto, desenvolveu sintomas gripais nos últimos dias e precisou ir ao hospital na quinta (23/3), segundo o Palácio do Planalto. Os médicos diagnosticaram uma pneumonia causada por bactérias e pelo vírus da gripe A.
Por conta do quadro, Lula chegou a adiar em um dia o embarque a Pequim, porém não foi o suficiente. "Após reavaliação no dia de hoje e, apesar da melhora clínica, o serviço médico da Presidência da República recomenda o adiamento da viagem para China até que se encerre o ciclo de transmissão viral", diz a nota assinada pela médica Ana Helena Germoglio, do Hospital Sírio Libanês, divulgada neste sábado.
De acordo com a presidência, as autoridades chinesas já foram informadas do cancelamento do compromisso e a remarcação da viagem será feita, mas ainda não há data prevista para o encontro entre os presidentes.
A viagem à China era uma das mais importantes na agenda de Lula, que se lançou em uma campanha de política internacional para restabelecer relações com parceiros estrangeiros brasileiros com quem o governo Bolsonaro teve atritos. Foi o caso da Argentina, visitada por Lula ainda em janeiro, e dos EUA, onde o presidente brasileiro esteve em fevereiro. Lula seria o primeiro líder estrangeiro a ser recebido por Xi desde que ele foi reconduzido pelo partido comunista a um terceiro mandato.
A notícia frustrou a diplomacia dos dois países e o empresariado brasileiro, que contava com um evento com a presença de Lula para impulsionar os negócios com os chineses.
"Se ele adiar, eu volto ao Brasil só pra buscá-lo e trazer aqui", afirmou à BBC News Brasil um empresário do ramo de calçados quando a possibilidade de Lula desmarcar a viagem surgiu.
Segundo este empresário, que também veio a Pequim junto com o então presidente Jair Bolsonaro, o comércio entre os dois países sofreu os impactos de insultos sinofóbicos disparados por bolsonaristas, como o então chanceler Ernesto Araújo e o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
"O volume de negócios não diminuiu, mas não cresceu como poderia, e a vinda do Lula agora é crucial para esquentar a economia brasileira. Eu hoje opero só com 60% da capacidade instalada, temos que aproveitar esse mercado".
Embaixadores brasileiros qualificavam a visita como uma "refundação" das relações com a China. "Em 48 anos de laços diplomáticos, os chineses nunca tinham visto ruídos de política doméstica atrapalharem o relacionamento. E note que as relações foram estabelecidas na ditadura, por (Ernesto) Geisel, que não pode ser acusado de comunista. Então eles estão ressabiados e contando com gestos do Brasil", descreveu um embaixador com conhecimento das negociações com os chineses antes do anúncio do cancelamento.
Na mesa, havia ao menos 20 acordos a serem firmados pelos dois líderes. O Brasil também parecia inclinado a aderir à Iniciativa Cinturão e Rota, um plano de investimentos chinês em infraestrutura em dezenas de países ao redor do mundo que completa dez anos em 2023.
Do ponto de vista econômico, mesmo sem aderir à iniciativa, o Brasil já é o país que mais recebe investimento chinês no mundo (foram quase US$6 bilhões em 2021). Logo, o ingresso no dispositivo seria um ato de deferência política aos chineses. E irritaria Washington, que vê no plano um modo de a China expandir sua influência política e econômica na América Latina.
Em negociação, estavam ainda o lançamento do satélite Cbers 6, capaz de monitorar a Amazônia mesmo em dias chuvosos, quando demais satélites têm dificuldade de captar imagens. O acordo incluiria não só investimento chinês como transferência de tecnologia ao Brasil. Outro projeto avaliado pelos chineses seria a compra da planta da automotiva Ford, em Camaçari (BA), pela gigante chinesa de carros elétricos BYD.
Chineses e brasileiros iriam ainda lançar um mecanismo de cooperação ambiental inédito entre os dois aliados, aos moldes do que o Brasil já tem com europeus e americanos.
O Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, veio à China antes da comitiva presidencial, no início da semana, e negociou o fim do embargo sobre a carne bovina, imposto há quase um mês por conta de um caso de vaca louca no rebanho brasileiro. Outros quatro frigoríficos nacionais foram credenciados a exportar para a China. Há ainda negociações em curso quanto à exportação de carne bovina. "A diplomacia amistosa faz muita diferença para os negócios. Em 2021, quando tivemos um caso de vaca louca, levou 4 meses até que os chineses liberassem a carne do Brasil. Agora resolvemos em 29 dias", comemorou Fávaro.
Na viagem, Lula ainda acompanharia a ex-presidente Dilma Rousseff a Shanghai, onde ela assumirá a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos BRICS. Uma das expectativas é que a nova gestão Dilma facilite linhas de créditos para o agronegocio brasileiro a juros mais competitivos. A expectativa agora é que Dilma assuma o posto sem a presença de Lula.
O governo chinês disse que o Brasil comunicou a decisão de adiamento da viagem de Lula devido a sua condição de saúde e manifestou "compreensão e respeito" e "desejo de rápida recuperação" a Lula. "A parte chinesa continuará a manter contato com o lado brasileiro sobre questões relacionadas à visita", informou.
Leia a íntegra da nota divulgada pela Secretaria de imprensa da Presidência da República:
Em função de orientação médica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu adiar sua viagem à China. O adiamento já foi comunicado para as autoridades chinesas com a reiteração do desejo de marcar a visita em nova data.
Nota médica abaixo:
O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu entrada no Hospital Sirio-Libanês - unidade Brasília, em 23/3/2023 com sintomas gripais. Após avaliação clínica, foi feito diagnóstico de broncopneumonia bacteriana e viral por influenza A, sendo iniciado tratamento.
Após reavaliação no dia de hoje e, apesar da melhora clínica, o serviço médico da Presidência da República recomenda o adiamento da viagem para China até que se encerre o ciclo de transmissão viral.
Dra. Ana Helena Germoglio