Senador boliviano 'perdoa' Morales e diz que deve liberdade ao Brasil
O senador opositor Roger Pinto, que fugiu da Bolívia depois de 454 dias trancado na embaixada do Brasil à espera de um visto de saída, afirmou em uma carta divulgada nesta segunda-feira por seu partido político em La Paz que deve sua liberdade ao Brasil. No documento redigido em Brasília, Pinto afirma que "perdoa" o presidente boliviano, Evo Morales, a quem acusa de persegui-lo politicamente, mas ressalta que "seu coração e sua consciência continuarão se rebelando contra o obscuro poder que (Morales) representa".
"Minha saída prova a Evo Morales que o bem finalmente se impõe, e que não há na Terra poder mais abjeto do que aquele que usa os votos que um país generosamente o concedeu para humilhar, perseguir e matar aqueles que pensam diferente", escreveu Pinto, que garante que continuará combatendo o narcotráfico, a corrupção, o abuso de poder e a humilhação sofrida pelos bolivianos que pensam diferente de Morales.
Pinto está sendo julgado em seu país por várias acusações e já foi condenado a um ano de prisão por corrupção, em um processo que está em fase de apelação.
Na mesma carta, Pinto agradece a todas as pessoas que possibilitaram sua fuga no domingo passado, em circunstâncias ainda não esclarecidas, e que o governo boliviano prometeu investigar.
Pinto agradece na carta de duas páginas à presidente Dilma Rouseff pela concessão do asilo que ele havia solicitado em maio de 2012. Ele também se refere ao embaixador brasileiro Marcel Biato. "(Biato) me protegeu e deu segurança e abrigo. Sofreu pessoalmente os rigores deste poder irracional ao qual denuncio, pelo único fato de ter me recebido e, com isso, cumprir com um compromisso internacional", disse o senador boliviano.
O senador opositor faz menção especial ao encarregado de negócios Eduardo Saboia, que ficou responsável no Brasil pela decisão de ter retirado disfarçadamente Pinto do país em um veículo diplomático. Ele chama Saboia de "homem corajoso e inteligente", que sabia do risco a que estava se expondo. Saboia disse no Brasil que havia ajudado Pinto porque o senador estava tão deprimido que "começou a falar de suicídio". "Com isto (sua liberdade), termina uma longa jornada de protesto contra as violações dos direitos humanos na Bolívia", acrescentou Pinto em sua "carta aberta ao povo da Bolívia".