Senador propõe a jornalista que entregue documentos sobre espionagem
Glenn Greenwald garantiu que tem publicado tudo o que sabe sobre os documentos que tratam da espionagem feita pelos Estados Unidos
O jornalista norte-americano Glenn Greenwald voltou nesta quarta-feira a prestar depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Espionagem, no Senado. Glenn garantiu que tem publicado tudo o que sabe sobre os documentos que tratam da espionagem que a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos fez sobre as comunicações brasileiras.
O senador Pedro Taques (PDT-MT) propôs ao jornalista que entregasse à CPI os documentos que tem sobre o Brasil para serem analisados pelo colegiado. "Nós não podemos ficar sendo pautados por programas de televisão", disse o senador. Taques propôs que a documentação fique sob a guarda da CPI com a ressalva de que o jornalista tenha acesso a eles para continuar publicando as reportagens.
"São documentos onde há ao menos indício de crimes. E documentos onde há indício de crimes podem ser objeto de busca e apreensão. Então sugiro que ele deixe esses documentos sob a guarda do Senado, desta CPI, e possa ter acesso a eles para executar seu trabalho", completou.
Glenn não aceitou a proposta de entregar os documentos. Ele alegou que vem se expondo a riscos ao buscar e publicar os documentos que comprovam a espionagem americana, e que prefere manter o trabalho jornalístico apartado do governo.
"Estou publicando todas as informações com muito risco. Eu não estou segurando documentos relevantes, eu não estou segurando informações importantes. Toda informação que eu tenho sobre espionagem contra o Brasil eu estou publicando, não estou segurando. O governo e o jornalismo são separados e devem ficar separados", declarou.
O jornalista voltou a ressaltar que a espionagem da NSA não é voltada para o combate ao terrorismo ou a crimes como a pedofilia e, sim, para interesses comerciais e geopolíticos. "Na Petrobras não há pedófilos, nem no gabinete da presidente Dilma Rousseff. Então não é para combater a pedofilia que a NSA está fazendo isso", disse.
A CPI também ouviu o companheiro de Glenn, David Miranda, que passou mais de nove horas preso no aeroporto de Heathrow, em Londres, em julho. Miranda disse que, durante o episódio, foi comunicado de que poderia ser preso se não entregasse todas as informações solicitadas e considerou que foi vítima de preconceito por ser brasileiro. "Eu fui preso porque sou brasileiro. Esses países, como a Inglaterra e os Estados Unidos, ainda olham o Brasil e os outros países da América do Sul como colônias", declarou.
Miranda cobrou ações mais rigorosas do Itamaraty em relação ao incidente e às prisões arbitrárias de brasileiros na Inglaterra sob o pretexto da lei antiterrorismo britânica. "Eu fiquei decepcionado com a resposta de imediato que a gente teve do Itamaraty, porque foi rápida, mas não foi suficiente. E até agora não vi nenhuma reposta concreta para que isso não se repita com outros brasileiros", disse.
Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.
Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.
Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.
Monitoramento
Reportagem veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos de espionagem.
De acordo com a reportagem, entre os documentos está uma apresentação chamada "filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil". Nela, aparecem o nome da presidente do Brasil e do presidente do México, Enrique Peña Nieto, então candidato à presidência daquele país quando o relatório foi produzido.
O nome de Dilma, de acordo com a reportagem, está, por exemplo, em um desenho que mostraria sua comunicação com assessores. Os nomes deles, no entanto, estão apagados. O documento cita programas que podem rastrear e-mails, acesso a páginas na internet, ligações telefônicas e o IP (código de identificação do computador).