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Sete erros que levaram Jean Charles à morte há dez anos

Eletricista brasileiro estava sendo seguido por agentes à paisana da polícia de Londres após ser confundido com um suspeito de terrorismo

21 jul 2015 - 07h26
(atualizado às 08h29)
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Menos de 10% dos policiais da Scotland Yard estão autorizados a portar armas
Menos de 10% dos policiais da Scotland Yard estão autorizados a portar armas
Foto: BBC

Quando desceu do ônibus da linha 2 em uma manhã de Londres há dez anos, o eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes não sabia que estava sendo seguido por agentes à paisana da Polícia Metropolitana da cidade (Scotland Yard) - e muito menos que lhe restavam pouco mais de cinco minutos de vida.

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Ele estava prestes a ser executado a bordo de um trem do metrô de Londres, na estação de Stockwell, depois de ser confundido com um suspeito de terrorismo.

A tragédia, por volta de 10h da manhã de 22 de julho de 2005, foi o ponto culminante de uma sucessão de erros que envolveu falhas em todos os níveis das forças de segurança responsáveis pela operação que buscava evitar novos ataques terroristas em Londres. Veja sete erros que resultaram na morte do brasileiro:

Identidades misturadas

Jean Charles de Menezes teve o azar de morar no mesmo bloco de apartamentos em Tulse Hill, no sul de Londres, onde vivia o etíope Hussain Osman, que, no dia 21, tinha participado de um atentado frustrado a trens do metrô nos moldes do ataque que duas semanas antes tinha deixado mais de 50 mortos e mais de 500 feridos. Um documento de Hussain teria sido encontrado na mochila que ele usara para tentar explodir uma bomba de fabricação caseira - que não detonou.

Segundo o inquérito que apurou as causa da morte do brasileiro, divulgado em 2008, a equipe de operações especiais da polícia, de codinome S012, teve acesso a uma imagem de baixa resolução de Osman - uma reprodução da foto de seu passaporte. Nem todos os agentes que vigiavam o bloco de apartamentos tinha cópias da imagem. Isso teria ajudado os agentes a confundir Jean Charles com o etíope.

Retrato composto apresentado pela polícia de Londres
Retrato composto apresentado pela polícia de Londres
Foto: Scotland Yard

Posto ausente

A confusão com as identidades poderia ter sido evitada caso outra fatalidade não tivesse deixado o time de vigilância exposto. Um agente, de codinome Frank, estava na "tocaia" do bloco de apartamentos e tinha equipamento fotográfico e em vídeo para registrar o movimento de entrada e saída de pessoas. Mas no momento em que Jean Charles deixou o local, Frank, que estava numa van, tinha largado o equipamento para urinar. Se ele tivesse fotografado ou filmado Jean Charles, isso poderia ter ajudado a identificá-lo de forma correta.

A missão que nunca veio

O plano original da operação era de que equipes de policiais armados estariam em Tulse Hill para interrogar quem saísse do bloco de apartamentos. O problema é que a ordem jamais foi informada aos agentes. Em vez disso, apenas equipes de vigilância, sem treinamento em abordagem de suspeitos, estavam no local.

Policiais armados não participaram da vigilância a Jean Charles
Policiais armados não participaram da vigilância a Jean Charles
Foto: BBC

'Drible'

Jean Charles pegou o ônibus da linha 2, mas os agentes jamais deveriam tê-lo deixado entrar em um veículo de transporte público, se imaginavam que ele poderia ser Hussain. A falha deixou a polícia ainda mais nervosa, especialmente porque as informações sobre a identidade do objeto de interesse dos agentes ainda eram desencontradas.

'Drible II'

O brasileiro se dirigia à estação de Brixton, mais próxima de sua casa, mas que ele a encontrou fechada. Jean Charles voltou ao ônibus imediatamente e isso despertou suspeitas dos agentes que o seguiam, pois é um truque conhecido para tentar despistar possíveis perseguidores.

A comandante da operação, Cressida Dick, foi quem deu autorização para o uso de força letal
A comandante da operação, Cressida Dick, foi quem deu autorização para o uso de força letal
Foto: BBC

Entrada em Stockwell

Assim como no caso do ônibus, a polícia falhou em permitir que o eletricista mineiro entrasse na estação de Stockwell. Especialmente porque a comandante da operação, Cressida Dick, tinha dado ordem para que Jean Charles fosse impedido "a qualquer custo" de chegar até o metrô. No entanto, agentes que participaram da vigilância disseram durante o inquérito que em nenhum momento receberam ordens para interceptar o suspeito.

O túmulo de Jean Charles de Menezes, em Gonzaga (MG)
O túmulo de Jean Charles de Menezes, em Gonzaga (MG)
Foto: BBC

Rádios ruins

O cenário agora era caótico: além de haver dúvidas sobre a identidade do suspeito, agentes da equipe de agentes armados C019 afirmaram, em seus depoimentos, que a recepção nos rádios que utilizavam para se comunicar com os outros agentes e a central de comando era muito ruim, a ponto de, às vezes, o sinal sumir de vez. Um dos homens que executou o brasileiro, identificado apenas como C2, disse ter ouvido dos agentes que seguiam Jean Charles de que se tratava de Hussain. Mas "Ken", um dos homens que seguia "no cola" do brasileiro, negou que a confirmação tenha sido dada.

Em todo caso, C2 e o colega C12 terminaram por descarregar suas pistolas automáticas na cabeça do brasileiro, seguindo o protocolo "Kratos", criado em 2003 pela Scotland Yard para lidar com a ameaça de ataques suicidas e que prevê atirar para matar em casos do gênero.

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