Sete presidenciáveis e vários vices foram oficializados neste fim de semana; saiba quem são
Sete pré-candidatos foram confirmados por seus partidos ao longo do dia; e outras três legendas anunciaram apoios
A política brasileira foi movimentada ao longo deste fim de semana pelo encerramento da temporada de convenções partidárias. Nada menos que sete pré-candidatos presidenciais foram confirmados na disputa por suas legendas. Três candidatos definiram seus vices, e várias outras siglas decidiram apoiar candidatos de outros partidos - e o PSB decidiu não apoiar formalmente nenhuma candidatura.
O fim de semana também trouxe o desfecho para a "novela" dos vices de alguns candidatos - o pedetista Ciro Gomes anunciou a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) como sua vice; e Jair Bolsonaro (PSL) oficializou o general Antônio Hamilton Mourão, do PRTB, como seu companheiro de chapa - o PRTB desistiu de lançar o pré-candidato Levy Fidelix em nome do apoio a Bolsonaro.
Depois de fracassar nas negociações com o PT, Manuela D'Ávila (PC do B) anunciou como vice o sindicalista Adilson Araújo, atual presidente da central sindical CTB e também filiado ao PC do B.
No sábado, em São Paulo, o PT confirmou o ex-presidente Lula como seu candidato presidencial - mesmo preso em Curitiba, Lula influiu no debate sobre seu companheiro ou companheira de chapa. A Executiva Nacional do partido está reunida desde o começo da tarde deste domingo, em São Paulo, e deve definir quem será o vice do ex-presidente. Integrantes da Comissão disseram à BBC News Brasil, sob condição anonimato, que o nome mais provável era o de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo.
Em Brasília, Marina Silva foi aclamada no sábado como a candidata da Rede Sustentabilidade, e Geraldo Alckmin tornou-se o candidato oficial do PSDB à Presidência, também no sábado.
Na parte de baixo das pesquisas de intenção de voto, Álvaro Dias foi ungido candidato presidencial do Podemos (antigo PTN); e o liberal João Amoêdo oficializou-se candidato pelo Novo. No domingo, o partido Patriota (antigo PEN) lançou o deputado federal Cabo Daciolo (RJ) como candidato à presidência.
No domingo, o Partido Pátria Livre oficializou a candidatura de João Goulart Filho à presidência, num evento em São Paulo. O candidato do PPL é filho do ex-presidente João Goulart, o Jango (1919-1976), cujo mandato foi interrompido pelo golpe militar de abril de 1964.
O tucano Geraldo Alckmin recebeu o apoio formal de mais dois partidos neste sábado: o PR (legenda com 34 deputados federais eleitos em 2014) e o PPS (10 deputados eleitos). O Partido Humanista da Solidariedade (PHS), que elegeu 5 deputados em 2014, oficializou o apoio a Henrique Meirelles (MDB) - e ele próprio participou do evento na sede da sigla, também em Brasília, no sábado.
Abaixo, um resumo dos fatos mais importantes deste fim de semana:
Lula (PT)
A convenção do PT ocorreu neste sábado na Casa de Portugal, um espaço de eventos no bairro da Liberdade, em São Paulo. Sem seu principal líder presente, o partido recorreu a máscaras de Lula distribuídas aos militantes com o rosto de Lula - além de uma profusão de camisetas, botons e bandeiras com a imagem do ex-presidente. Mesmo preso em Curitiba desde o dia 7 de abril deste ano - e virtualmente impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa - Lula foi aclamado como candidato pelos cerca de 600 votantes da convenção.
Marcada de início para às 9h30, a cerimônia do PT atrasou cerca de uma hora e meia: antes da convenção, foi realizada uma reunião da Comissão Executiva Nacional do partido, na qual o principal assunto era a discussão sobre quem será o candidato ou candidata à vice-presidência na chapa de Lula. Como não houve qualquer decisão no sábado, uma nova rodada de reuniões da cúpula petista está em andamento desde às 17h deste domingo.
Há quem defenda que o posto fique com Fernando Haddad, cotado para ser o substituto de Lula na cabeça de chapa, quando sua candidatura for negada pela Justiça Eleitoral.
Outra corrente de opinião prefere a atual presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) como vice de Lula. Ela atuaria como uma espécie de anti-candidata, divulgando o que o PT entende como uma injustiça na eleição deste ano - a exclusão de Lula.
Durante a manhã de sábado, integrantes da Comissão receberam ligações de dirigentes do PC do B, que desejavam que o PT anunciasse Manuela D'Ávila como vice de Lula já na convenção de ontem - mas as negociações fracassaram.
Lula enviou uma carta à convenção, que foi lida pelo ator Sergio Mamberti - o mestre de cerimônias do evento. "Esta é a primeira vez em 38 anos que não participo pessoalmente de um encontro nacional do nosso partido", começa a missiva.
"Já derrubaram uma presidenta eleita; agora querem vetar o direito do povo escolher livremente o próximo presidente. Querem inventar uma democracia sem povo", continua Lula, referindo-se ao impeachment de Dilma em 2016. "A decisão de hoje vai nos conduzir a uma luta sem tréguas pela democracia, pelo povo brasileiro e pelo Brasil. E a vitória dependerá do empenho de cada um de nós", diz o texto.
Apesar do clima de unidade em torno da figura de Lula, alguns militantes da juventude do partido puxaram palavras de ordem para questionar decisões recentes da cúpula petista - principalmente o acordo desta semana com o PSB, que resultou na retirada da candidatura de Marília Arraes (PT) ao governo de Pernambuco. Alguns empunhavam cartazes com o nome de Marília, hoje vereadora em Recife.
Marina Silva (Rede)
Ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente (2003-2008) no governo Lula, Marina Silva foi aclamada candidata no evento da Rede Sustentabilidade - partido nascido oficialmente em 2015. Esta será a terceira vez que Marina disputa a presidência da República. Desta vez, Marina terá como companheiro de chapa o médico sanitarista Eduardo Jorge, filiado ao PV.
O evento ocorreu num antigo parque aquático e hotel de Brasília, a poucos quilômetros do Palácio da Alvorada.
Marina Silva discursou por cerca de uma hora. Comentando a fragilidade de sua aliança para a disputa presidencial, disse ser especialista em passar por "frestas" - citou o fato de só ter sido alfabetizada aos 16 anos de idade, e de ter sobrevivido a doenças como a hepatite. "A postura (pessoal) vai derrotar o mecanismo, as estruturas. O povo brasileiro não vai ser submetido aos 'centrões' de esquerda, de direita, de centro. Quem está no centro é o povo brasileiro!", disse, exaltada.
Geraldo Alckmin (PSDB)
Geraldo Alckmin, 65 anos, foi escolhido para ser o candidato do PSDB à presidência da República num evento neste sábado, em Brasília. Alckmin terá como vice a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS), cujo partido faz parte da mega-aliança de oito legendas que o apoiam. Além do PP de Ana Amélia, o tucano terá o apoio de DEM, PR, PRB, PSD, PTB, PPS e SD. Antes da convenção do PSDB, Alckmin discursou ontem nos eventos de outros dois partidos de sua coligação: o PR e o PPS.
"Um governo de qualidade requer espírito público, coesão. Requer alianças, para poder fazer o melhor", discursou Alckmin no evento do PSDB. "Nós vamos mudar o Brasil, não com bravatas (...), com gritaria e tumulto - aliás foram exatamente as bravatas e os radicalismos que criaram a criaram a coincidência trágica que o governo petista nos deixou: 13 milhões de desempregados", disse ele, referindo-se ao código eleitoral do PT. Dos 290 votos da convenção, Alckmin teve 288: recebeu também uma abstenção e um voto contrário.
O ex-governador tucano de São Paulo começou a trilhar o caminho até sua candidatura presidencial em novembro passado. Naquele mês, conseguiu que o senador Tasso Jereissati (CE) desistisse de concorrer à presidência do PSDB - em dezembro, Alckmin se tornou o presidente do partido. E em março deste ano, o paulista de Pindamonhangaba não teve concorrente nas prévias do PSDB. Seu rival, o senador Arthur Virgílio (AM), retirou a candidatura antes da disputa.
Esta é a segunda vez que Alckmin concorre à Presidência: em 2006, ele foi derrotado por Lula (PT), no segundo turno. Seus adversários fazem questão de lembrar que ele teve menos votos na segunda rodada da eleição que na primeira.
PSB decide ficar neutro, prejudicando Ciro
O Partido Socialista Brasileiro fez sua convenção no domingo, no Hotel Nacional, em Brasília. O partido decidiu como esperado pelo PT, e optou por permanecer neutro nas eleições presidenciais deste ano -a decisão prejudica a candidatura de Ciro Gomes (PDT), que esperava atrair o PSB para sua coligação.
Cerca de 350 pessoas votaram na convenção, e a maioria escolheu a neutralidade - de 13 dirigentes partidários na mesa do evento, só dois, incluindo o governador Rodrigo Rollemberg (DF) se levantou para defender o apoio a Ciro Gomes. No auditório, militantes dos diretórios de Brasília, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul traziam cartazes defendendo o apoio ao pedetista. No fim, prevaleceu a posição defendida pelos diretórios de Pernambuco e São Paulo.
Álvaro Dias (Podemos)
O Paraná é o berço político do candidato Álvaro Dias, e foi na capital Curitiba que o Podemos realizou sua convenção nacional neste sábado. O evento também oficializou o nome do ex-presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro (PSC), como candidato à vice-presidência. Castro chegou a ser pré-candidato à presidência pelo PSC, mas retirou seu nome para apoiar Alckmin na última quarta-feira. Álvaro Dias também terá o apoio de PRP e do PTC, partido do ex-presidente Fernando Collor (hoje senador por Alagoas).
Paulista de Quatá, Álvaro Dias fez carreira política no Paraná e está em seu sétimo partido político - já passou duas vezes pelo PSDB (de 1994 a 2001 e de 2003 a 2016), e pelo antigo MDB (1968-1989). Reeleito senador pela terceira vez consecutiva em 2014, Álvaro Dias voltará à Casa Alta caso seja derrotado na disputa presidencial.
João Amoêdo (Novo)
João Amoêdo foi lançado candidato por seu Partido Novo num evento em São Paulo, na tarde deste sábado. O evento ocorreu na Câmara de Comércio Americana (Amcham), na zona Sul da cidade. Ex-executivo de instituições financeiras, Amoêdo terá por vice o cientista político Christian Lohbauer, também filiado ao Novo.
Por enquanto sem alianças com outros partidos, o Novo se propõe a apresentar candidaturas ideologicamente identificadas com o liberalismo econômico. Em seu primeiro discurso como candidato, Amoêdo diz que o objetivo de sua sigla é "mudar o sistema (político)" do país. "Quando a gente começou, o que eu queria era ir para o setor público para tentar dar uma ajuda, Mas felizmente eu entendi que o sistema que está lá não foi feito para facilitar a vida do brasileiro. A missão era outra", disse Amoêdo.