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'Terceira via' de Marina ainda é uma incógnita, dizem analistas

20 ago 2014 - 04h59
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Hugo Bachega

Da BBC Brasil em Londres

Apontada como "terceira via" entre os candidatos à Presidência da República, Marina Silva entra na corrida oficialmente nesta quarta-feira com políticas e ideias que permanecem em grande parte uma incógnita.

O termo "terceira via" tem sido associado a Marina pela própria, além de imprensa e analistas. Entretanto, a expressão reflete um conceito baseado na reconciliação da direita e esquerda, com políticas sociais progressistas e ações econômicas ortodoxas. Teve como representantes recentes o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, trabalhista, e o ex-presidente americano Bill Clinton, democrata.

Especialistas vêem Marina mais como uma "terceira opção" à polarização PT x PSDB que tem dominado o pleito nacional há 20 anos. Bandeira que sua campanha deverá reforçar ao enfrentar a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) na eleição presidencial.

"A terceira via implica algum compromisso entre a social-democracia e o neoliberalismo, uma nova tentativa de achar resultados positivos sociais junto com parcerias com o setor privado", disse à BBC Brasil Anthony Pereira, diretor do Brazil Institute do King’s College de Londres.

"Realmente não está claro se Marina representa isso. Acho que por enquanto a terceira via dela representa uma opção diferente com um conteúdo indefinido."

A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será oficializada nesta quarta-feira como candidata do PSB à Presidência, substituindo o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo há uma semana.

Ruptura

Desde 2010, quando foi candidata ao Palácio do Planalto pelo Partido Verde - finalizando no terceiro lugar com cerca de 20 milhões de votos, uma surpresa -, Marina já se colocava como alternativa à política convencional. Criticava o "fisiologismo" da "velha política" e defendia uma "ruptura".

Quando tentou sair candidata investindo no lançamento do seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade, a ex-senadora disse não ser "nem de esquerda, nem de direita".

Com o fracasso no lançamento da legenda, surpreendeu o cenário político se aliando a Campos como candidata a vice, numa plataforma com pontos favoráveis a investidores. Aliados de ambos relataram choques de ideais entre os grupos.

"Ela como pessoa, sem dúvida, é uma terceira via. Agora, uma sustentação conceitual, programática, de planos de governo, é uma coisa que ainda estamos esperando para ver", disse Marcos Troyjo, diretor do BricLab, da Universidade de Columbia, em Nova York.

Para Anthony Pereira, "fora da área do meio ambiente, não vejo um conteúdo muito concreto que possa chamar de terceira via".

Ambientalista de posições firmes, a candidata é vista como defensora do desenvolvimento econômico com proteção ambiental. O desafio será vender esta postura como possível, diz Pereira.

"O Brasil pode ter políticas públicas sustentáveis mas também orientadas ao crescimento forte. Este pode ser um argumento muito interessante."

'Marinês'

Marina é vista por muitos analistas como herdeira dos votos de eleitores descontentes com o atual cenário político. Mas muitos creem que os ideais que ela representa ainda são desconhecidos, gerando incertezas.

Uma pista do que pensa a futura candidata é dada por aqueles que a cercam, diz Troyjo, que aponta nomes "muito competentes" assessorando Marina, como os economistas André Lara Resende e Eduardo Gianetti da Fonseca.

"Mas tem gente também que tem, do ponto de vista ambientalista, uma visão tão preservacionista dos recursos naturais que eu acho que é um obstáculo ao tipo de velocidade e proporção de crescimento econômico que o Brasil precisa", disse.

Os discursos de Marina passaram a chamar atenção na reta final da campanha de 2010, com o crescimento dela nas pesquisas. Muitos se depararam com palavras difíceis, com poucos conceitos ou projetos concretos.

"Não é bem claro, por exemplo, as políticas públicas que ela quer adotar. As pessoas associam ela com o meio ambiente, mas ela também é associada a políticas mais conservadoras em temas sociais, por exemplo, contra casamento gay, aborto", disse Pereira.

Agora, alçada ao centro da disputa, com exposição maior na mídia e forçada a participar de debates com os outros candidatos – que não deverão poupá-la de ataques e críticas – a atenção será ainda maior.

"Vai haver, de fato, maior atenção ao que ela diz. É óbvio que para ela subir mais, e se manter lá em cima nas pesquisas, não é uma coisa banal, porque as contradições vão começar a aparecer", disse João Augusto de Castro Neves, diretor para América Latina da consultoria de risco político Eurasia, em Washington.

"Tanto Dilma como Aécio já estão sofrendo este tipo de fiscalização há muito tempo já. A Marina agora vai sofrer isso", disse.

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