Testemunhas relatam horror e heroísmo durante atentado em Londres
Criminosos atropelaram e esfaquearam as vítimas pelas ruas e bares da região; sete morreram e outros 48 ficaram feridos.
As testemunhas do atentado em Londres, que deixou sete pessoas mortas e pelo menos 48 feridas, relatam cenas de horror e atos de heroísmo nos momentos do ataque na região de London Bridge, no centro da cidade.
O atentado ocorreu por volta das 22h10 (18h10 em Brasília) quando uma van branca, dirigida por um homem ainda não identificado, subiu na calçada instantes antes de atingir as vítimas. Logo depois, três homens teriam descido do carro e esfaquearam várias pessoas na região do Borough Market, um mercado que fica a poucos metros da ponte, cercado por bares e restaurantes.
Um policial que não estava trabalhando no momento do ataque e foi um dos primeiros a chegar à cena do atentado é uma das 48 vítimas. Ele também é jogador de rúgbi e está em estado crítico depois de ser esfaqueado tentando enfrentar, sem armas, os criminosos.
Outro policial, funcionário da British Transport Police (BTP), usou apenas o cassetete para enfrentar os responsáveis. Ele também foi atingido, mas já se encontra estável. Segundo o chefe da BTP, Paul Crowther, a coragem que ele demonstrou foi "impressionante".
A chefe da Metropolitan Police, Cressida Dick, agradeceu as "ações extraordinárias e corajosas dos policiais na ativa ou que estavam fora do trabalho e que chegaram logo à cena do ataque, correndo para o perigo".
'Eles saíram esfaqueando todo mundo'
Além dos policiais, pessoas comuns também tentaram ajudar as vítimas e salvar suas próprias vidas, em meio ao horror que presenciavam.
Uma das testemunhas disse que os responsáveis estavam "esfaqueando todo mundo" pelas ruas da região, inclusive dentro de bares e restaurantes.
Gerard Vowls disse à BBC que tentou impedir a ação dos responsáveis jogando objetos contra eles.
"Eles estavam esfaqueando todo mundo - na rua, em bares, pubs. Eu e outras jogamos copos, garrafas, cadeiras e mesas contra eles. Eu tentei ajudar o maior número de pessoas que pude, mas eu não tinha como defender. Se eu caísse no chão, eles provavelmente me matariam. Eu vi três deles atacando uma menina, e eu não podia fazer nada. Depois disso, esfaquearam outra garota, eu estava em choque. Todo mundo começou a gritar: "são terroristas, corram, corram. Eles esfaquearam uma menina muitas vezes e diziam "isso é para Alá".
A repórter da BBC Holly Jones estava na ponte no momento em que ocorreu o incidente com a van, que seguia no sentido do centro de Londres. Segundo ela, a van era conduzida por um homem e estava a cerca de 50 milhas por hora (80 km/h) e atingiu pedestres que caminhavam pela calçada.
"A van passou por mim e atingiu cerca de seis pessoas. Quatro delas estavam gravemente feridas e sendo atendidas por paramédicos. Vi que era um homem que dirigia a van, mas não sei o que aconteceu com ele".
'Como você testemunha isso?'
Outra testemunha, Michael Territt, estava jantando quando viu pessoas esfaqueadas caindo no chão do lado de fora do restaurante.
"Vi pessoas no chão, e outra ainda gritando por ajuda. Também pude ver dois homens sangrando muito. Eu precisava fazer alguma coisa e corri para a rua para ajudar. Eu consegui chamar a atenção de um policial e de um médico e disse que precisávamos de ajuda no restaurante. Ele então veio, fechou as cortinas porque sabíamos que tinha alguém na rua esfaqueando pessoas. Todos estavam em pânico. As pessoas gritavam sobre o terrorismo e estavam muito nervosas. Minha adrenalina estava muito alta - mas eu queria manter todos calmos. Foi horrível, uma das vítimas estava recebendo CPR, mas não estava respondendo - era alguém que estava perdendo a vida. Como você testemunha isso?".
Os policiais mataram três suspeitos pelos ataques durante a ação logo depois do atentado. Segundo a premiê britânica Theresa May, os suspeitos teriam sido baleados apenas oito minutos após a polícia ter recebido a primeira ligação no serviço de emergência sobre o incidente.
Uma estudante de jornalismo que estava com outros dois amigos perto da estação de metrô London Bridge no momento do ataque disse que a polícia agiu rapidamente.
"Os policiais foram muito rápidos. Tinha carros de polícia, muitos na rua armados. Ai vimos um grupo de policiais abrindo as portas da van, e, ao sair do veículo, ele disse para todos saírem das ruas, e começaram a correr atrás dos criminosos".
Ajuda médica
Giovanni Sagristani também jantava com amigos no restaurante El Pastor, quando um dos responsáveis pelo ataque entrou no local e esfaqueou o peito de uma mulher.
"Ele entrou gritando e a esfaqueou", disse.
O parceiro de Sagristani, Carlos Pinto, que trabalha em uma enfermaria em Londres, ajudou nos primeiros socorros da vítima junto com outro amigo, também enfermeiro.
"Eles pegaram gelo, alguns panos e tentaram parar o sangramento. Ela perdeu muito sangue no começo e ele tentou pressionar o ferimento".
Segundo ele, outros clientes do restaurante conseguiram empurrar o criminoso para fora do local jogando cadeiras e garrafas. Logo depois que ele saiu, os funcionários abaixaram o portão de segurança para manter as pessoas trancadas dentro local, em segurança.
"Depois de um momento de pânico inicial, todos tentaram ajuda-la e ficaram calmos. Nós estávamos na parte de trás do restaurante e ouvimos tiros sendo disparados do lado de fora".
Segundo ele, os paramédicos demoraram duas horas para conseguir chegar até onde a vítima estava.
"Nós a mantemos consciente, foi muita sorte os enfermeiros estarem lá", disse.
Em outras partes, também há relatos de generosidade e solidariedade com os funcionários e agentes do serviços de emergência e as vítimas.
Generosidade
Um paramédico que trabalhou no local no momento do ataque disse que o gerente de uma lanchonete fechou o estabelecimento e deu toda a comida que estava disponível, além de água, para os agentes.
O encanador Paul Ashworth pedalou 35 quilômetros da cidade onde mora, na região de Surrey, para ajudar os policiais e entregar água a quem estava trabalhando. Ele ficou pedalando na região de London Bridge fazendo a distribuição de água gelada.
"Isso não é nada em comparação ao que eles fazem, mas eu queria retribuir de alguma forma. Eles estão nos protegendo e defendendo nossas vidas".