Obra mais cara da Copa, Transcarioca é inaugurada inacabada
Orçada em cerca de R$ 2,2 bilhões – a previsão inicial de gastos era de R$ 1,610 bilhão –, a Transcarioca, obra mais cara construída para a Copa, foi inaugurada nesta quarta-feira ainda funcionando parcialmente. Ao todo, são 39 quilômetros de faixas seletivas, incluindo dez viadutos, nove pontes – duas estaiadas -, três mergulhões, 47 estações e cinco terminais de integração que ligam o aeroporto internacional do Galeão, na zona norte do Rio de Janeiro, ao terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, zona oeste.
A reportagem do Terra entrou no ônibus no terminal 2 do aeroporto às 10h31 e partiu rumo à Barra da Tijuca às 10h48. Dentro do coletivo se misturavam cariocas, em grande parte moradores da zona norte, que aproveitavam para fazer turismo, um grupo de motoristas que fazia o reconhecimento de campo da nova linha, e um que outro passageiro que deixava o aeroporto.
Durante o trajeto, que corta 27 bairros, um Rio longe do cartão postal. Ao invés de praias, a Igreja da Penha e os seus degraus, o mercadão de Madureira, um sem fim de favelas e montanhas e as estações inacabadas do BRT, nas quais funcionários do governo trabalhavam sem parar.
A professora de espanhol e moradora da Ilha do Governador Nazaré de Jesus, 54 anos, se divertia tirando selfies ao lado de uma amiga no ônibus.
Ela conta que o passeio estava combinado desde que anunciaram a linha. “Eu estava que era pura ansiedade”, diz. A sua frente, a aposentada Rose Mendes, 60 anos, que também resolveu pegar o Transcarioca “para conhecer”, olhava curiosa os bairros que ainda não conhecia. “Vim tirar o passaporte. Antes não tinha como fazer esse caminho em menos de duas horas, duas horas e meia”, diz.
Inicialmente, o prefeito Eduardo Paes havia se comprometido a entregar o BRT em maio. Com a Copa prestes a começar, apenas a ligação Galeão-Alvorada e Alvorada-Tanque, que conecta o terminal ao bairro de Jacarepaguá, foram entregues. Uma vez pronto, o sistema deve atender, segundo estimativas da prefeitura, 450 mil pessoas por dia.
O analista de sistemas Fabiano Gomes, 36 anos, que desceu de um voo vindo de Belém e seguia rumo a sua casa, no Recreio, espera que a linha funcione bem para além da Copa e chama a atenção para o intervalo de 25 a 30 minutos entre cada coletivo. “Moro no Recreio e em alguns momentos pegar o BRT que vai para o bairro chega a ser desumano tamanha a quantidade de gente no mesmo ônibus. Aqui, com o trajeto ainda mais longo e poucos ônibus, isso tende a piorar”, diz.
Entre os desafios da faixa seletiva, está a cultura do carioca, desacostumada a ruas exclusivas para ônibus. Enquanto passava pelo bairro da Penha o condutor se viu obrigado a buzinar durante boa parte do trajeto a fim de afugentar os pedestres que caminhavam pela pista, ignorando as grades e sinalização que impediam a passagem.
Até uma mulher, com a perna enfaixada e mancando, preferiu pular a cerca a atravessar na faixa. O inspetor de ônibus Nilton Guimarães, 52 anos, que viajava acompanhado de sete motoristas da sua empresa para conhecer o trajeto, diz que esse é um dos maiores problemas dos motoristas. “O BRT corta por dentro de muita área urbana, muita comunidade, tem que ir com muito cuidado para evitar acidentes”, diz.
Às 12h05, cerca de uma hora e vinte minutos depois, o ônibus chegou ao terminal Alvorada – a secretaria municipal de transportes promete diminuir a viagem para 50 minutos assim que os últimos detalhes forem acertados. Na Barra, uma nova fila com passageiros buscando conhecer a rota. Por todos os lados era possível localizar placar sinalizando para o Maracanã. Apesar dos cerca de 30 quilômetros que separam o estádio do terminal, até o dia 12 todos os caminhos levam ao Mundial.