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Uruguai prepara novo dossiê detalhando vigilância a Jango

14 nov 2013 - 20h11
(atualizado às 21h35)
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O Uruguai está preparando um segundo dossiê detalhando como o presidente João Goulart era "vigiado" pelos serviços de inteligência durante o exílio no país vizinho. A informação foi antecipada à BBC Brasil pela Secretaria de Direitos Humanos para o Passado Recente, ligada à Presidência da República uruguaia.

O presidente João Goulart, conhecido como Jango, seguiu para o Uruguai, após ser deposto pelo golpe militar de 1964. Ele viveu depois na Argentina, onde morreu em 1976.

Suspeitas de que Jango morreu envenenado fizeram o governo brasileiro pedir a exumação do corpo enterrado em São Borja, no Rio Grande do Sul. Os restos mortais foram recebidos com honras de Estado em Brasília pela presidente Dilma Rousseff. Amostras serão colhidas por especialistas no Distrito Federal.

Segundo Graciela Jorge, diretora da secretaria, o Uruguai "entregará este ano um dossiê ao governo brasileiro". "Estive pessoalmente em Brasília com uma equipe do Uruguai", disse Graciela. "Agora estamos preparando um novo dossiê com mais indícios de que o ex-presidente era vigiado", afirmou, por telefone, de Montevidéu.

Segundo Graciela, Jango foi bastante vigiado antes do golpe militar no Uruguai, em 1973. "As equipes de inteligência viam com desconfiança todos os que tinham perfil mais progressista, como era o caso de Jango", afirmou. Segundo ela, Jango "aparece em vários arquivos de inteligência da época".

Documentos

O novo dossiê, assim como o primeiro já em poder das autoridades brasileiras, conta com documentos da polícia uruguaia no período em que o ex-presidente do Brasil viveu como exilado no país vizinho.

Também há documentos de quando Jango já vivia na Argentina e continuava visitando o Uruguai. Na ocasião do exílio, o país vizinho ainda vivia sob um regime democrático. "Eu era jovem e lembro que ficamos chocados com o que ocorreu no Brasil. Depois foi aqui. Mas a história uruguaia (de interferência na democracia) começou mesmo antes do golpe de 1973", conta Graciela.

Nos livros didáticos do país, historiadores lembram que as práticas repressivas tiveram início antes da "ditadura cívico-militar de 1973" do Uruguai. "Nós aqui no Uruguai aplaudimos a iniciativa brasileira de descobrir realmente do que (Jango) morreu. Nós aplaudimos e participamos desta investigação, a pedido do Brasil. Antropólogos uruguaios participam da investigação no corpo do ex-presidente e queremos reunir todo arquivo possível que possa ajudar a esclarecer o que de fato ocorreu", afirmou Graciela.

Morte

Jango morreu em 1976 na localidade de Mercedes, na província argentina de Corrientes, na fronteira com o Brasil. Na ocasião, não foi realizada autópsia no seu corpo, como lembrou sua viúva Maria Tereza, na cerimônia em Brasília.

Em 2009, segundo arquivos de imprensa, o governo uruguaio entregou às autoridades brasileiras as primeiras pastas com documentos que indicaram como Jango era vigiado. Em 2002, o ex-agente uruguaio Mario Ronald Barreiro Neira, disse que o ex-presidente teria sido assassinado dentro do Plano Condor, na denominada "Operação Escorpião", decidida por Uruguai, Brasil e Estados Unidos.

Uruguai e Argentina já trabalharam em conjunto para desvendar casos de desaparecidos políticos, com bancos de dados e troca de informações sobre o período ditatorial - na Argentina ocorreu entre 1976-1983.

"Aqui no Uruguai temos 10 antropólogos que analisam as escavações feitas diariamente na busca por desaparecidos políticos. Temos um banco de dados genéticos aqui e estudos feitos conjuntamente com a Argentina", disse. "Ainda há muito por ser descoberto sobre as ditaduras em nossos países", afirmou.

Para ela, neste contexto, não se pode descartar que Jango tenha sido envenenado pelos militares. "É sim uma hipótese a ser levada em consideração por tudo o que ocorre naquele período. Não temos tudo investigado e certamente podem surgir surpresas sobre aqueles anos", afirmou.

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