Ustra afirma que Dilma queria implantar o comunismo no Brasil
Ex-chefe do DOI-Codi defendeu trabalho do Exército e negou mortes sob seu comando
O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna do 2º Exército em São Paulo (DOI-Codi/SP) entre 1970 e 1974, afirmou nesta sexta-feira em depoimento à Comissão Nacional da Verdade que a presidente Dilma Rousseff participou de organizações terroristas que tinham como objetivo implantar o comunismo no Brasil.
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“Todas as organizações terroristas, em todos os seus estatutos, tinham claramente que o objetivo final era a implantação de uma ditadura do proletariado, o comunismo. Derrubar os militares e implantar o comunismo. Isso consta de todas as organizações. Inclusive nas quatro organizações terroristas que nossa presidenta da República participou. Ela participou de quatro organizações terroristas que tinham isso, de implantar o comunismo”, disse Ustra.
O ex-chefe do serviço de repressão da ditadura em São Paulo chegou à Comissão Nacional da Verdade com um habeas corpus que lhe garantia o direito de permanecer em silêncio. No entanto, Ustra, visivelmente irritado, rebateu as acusações de queria conhecimento das mortes que ocorreram no DOI-Codi durante seu comando e defendeu que o Exército lutou pela democracia.
“Estávamos lutando pela democracia e estávamos lutando contra o comunismo. Se não fosse a nossa luta, se não tivéssemos lutado, eu não estaria aqui porque eu já teria ido para o 'paredón'. Os senhores teriam um regime comunista, um regime como o de Fidel Castro (ex-presidente de Cuba)”, afirmou.
Sustentando a versão oficial apresentada pelo Exército, Ustra disse que toda a verdade já foi apresentada em seu livro, no qual detalha como eram feitas as prisões, os inquéritos e operações de combate aos militantes dos movimentos revolucionários. O coronel afirmou que foi um militar exemplar e que nunca assassinou ou torturou ninguém e que apenas cumpria ordens.
“O meu depoimento está ali (no livro). Agi com consciência, agi com tranquilidade, nunca ocultei cadáver, nunca cometi assassinatos, sempre agi dentro da lei e da ordem. Quem deveria estar sentado aqui é o Exército brasileiro, não eu. Nunca fui um assassino, graças a Deus nunca fui”, rebateu o coronel diante de questionamentos feitos por um dos integrantes da comissão, o ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles.
Fonteles confrontou Ustra com um documento secreto que seria uma espécie de relatório de atividades do DOI-Codi feito pelo então Serviço Nacional de Informações (SNI) durante seu comando. As estatísticas citadas por Fonteles dão conta que pelo menos 50 pessoas teriam morrido nos porões do DOI-Codi entre outubro e dezembro de 1973, quando Ustra comandava o serviço de repressão política.
“Se o Exército omitisse o número de mortos, as machetes seriam “o Exército esconde número de mortos”. Esses números foram divulgados pela imprensa em 2004. No meu comando, ninguém foi morto lá dentro do DOI. Eles foram mortos pelo DOI em combate. A mentira me revolta. Dentro do DOI não houve nenhuma morte. Foram mortos de arma na mão na rua”, rebateu Ustra.
Bate-boca
Quase no final do depoimento, Ustra e vereador Gilberto Natalini (PSDB-SP) protagonizaram um bate-boca que provocou o encerramento da sessão. Questionado por Fonteles se faria uma acareação com Natalini, Ustra disse que não encontraria com “nenhum terrorista”. Natalini, que estava no auditório, levantou e acusou Ustra.
“Eu não sou terrorista. Terrorista é o senhor. Assassino”, gritou o vereador.
Mais cedo, Natalini contou na Comissão Nacional da Verdade que foi torturado pessoalmente pelo então capitão Ustra, em 1972, nas dependências do DOI-Codi, na capital paulista. Então estudante de Medicina, Natalini ficou dois meses preso e contou que fazia poesias que tinham também como conteúdo temas ligados à democracia e repressão. Ustra decidiu, então, torturá-lo da seguinte maneira.
“O Ustra mandou me despir, me colocou em pé numa poça d´água numa cela e com aqueles fios de choque pelo meu corpo. Chamou para testemunhar vários agentes e soldados e exigiu que eu declamasse minhas poesias. Durante horas, ele, com uma espécie de vara de marmelo na mão, me batia. Outros vinham e me davam telefone (tapa com as mãos nos ouvidos) e muito eletrochoque”, narrou Natalini.