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Venezuela convoca embaixador no Brasil: entenda escalada da crise

Decisão de Caracas é reação a veto do Brasil para ingressar como parceiro do Brics.

30 out 2024 - 18h54
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Maduro, em viagem à cúpula do Brics na Rússia, quando tentou impedir veto brasileiro
Maduro, em viagem à cúpula do Brics na Rússia, quando tentou impedir veto brasileiro
Foto: EPA-EFE/REX/Shutterstock / BBC News Brasil

O governo da Venezuela convocou nesta quarta-feira (30/10) seu embaixador no Brasil, Manuel Vadell, para consultas, em ato de repúdio à decisão brasileira de vetar o país como novo parceiro do grupo Brics.

Um parceiro dos Brics está na categoria inferior a de membro do bloco.

O governo de Nicolás Maduro também convocou o encarregado de negócios da embaixada brasileira em Caracas, o ministro conselheiro Breno Hermann, para manifestar sua indignação com a posição brasileira.

Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, condenou as "recorrentes interferências e declarações grosseiras" de representantes brasileiros contra o governo Maduro, segundo nota divulgada pelo órgão.

Houve críticas diretas ao ex-chanceler Celso Amorim, atualmente assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi chamado de "mensageiro do imperialismo norte-americano".

Na visão venezuelana, Amorim estaria se dedicando "impertinentemente a emitir juízos de valor sobre processos que só correspondem aos venezuelanos e venezuelanas e suas instituições democráticas".

As duas convocações são atos vistos, na diplomacia, como sinais de importante estremecimento na relação de dois países.

Apesar disso, a BBC News Brasil apurou junto a fontes do Itamaraty que o Brasil não pretende reagir às atitudes da Venezuela. A embaixadora brasileira na Venezuela, Glivânia Maria Oliveira, não deve ser convocada no momento.

Eleição sob suspeita e Brics: os capítulos da crise

Maduro viajou de surpresa para cúpula do Brics, mas não conseguiu evitar veto do Brasil
Maduro viajou de surpresa para cúpula do Brics, mas não conseguiu evitar veto do Brasil
Foto: EPA-EFE/REX/Shutterstock / BBC News Brasil

Ainda segundo o governo venezuelano, o ministro Yván Gil mencionou diretamente o veto do Brasil sobre os Brics ao diplomata brasileiro convocado.

"Denunciamos o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros, que, contrariando a aprovação dos demais membros do BRICS, assumiram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e punição coletiva de todo o povo venezuelano", informa a nota oficial.

A reação venezuelana é mais um capítulo da escalada de tensão entre Brasília e Caracas, apesar de o governo Lula ter retomado relações com o país, que haviam sido rompidas em 2019, no governo de Jair Bolsonaro.

A relação entre as duas nações vizinhas se deteriorou após o governo brasileiro não reconhecer a reeleição de Maduro no pleito presidencial de julho, devido à falta de provas de sua vitória.

O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) não apresentou o resultado da votação com transparência, enquanto a oposição apontou fortes indícios de fraude.

Edmundo González, candidato da oposição que alega ter recebido 67% dos votos a partir de uma contagem paralela, está exilado na Espanha, diante de ameaças de prisão pelo governo Maduro.

A decisão brasileira de não reconhecer a vitória de Maduro deixou seu governo extremamente irritado. O Itamaraty tampouco reconheceu a vitória da oposição, na tentativa de manter o diálogo aberto com Caracas, em busca de uma solução para o impasse eleitoral e de se colocar como mediador do conflito.

No entanto, o governo Maduro não abriu qualquer porta para negociações mediadas por Brasil e Colômbia, país que tem sido parceiro brasileiro neste processo.

Em meio a essa crise, a reação mais grave do governo Lula foi o veto à entrada da Venezuela como parceiro do Brics, grupo originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O bloco passou a contar também, no início deste ano, com Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Arábia Saudita - este último, ainda em processo de formalização.

A última cúpula do grupo, realizada na Rússia na semana passada, trouxe convites a novos países para se tornarem parceiros do Brics, uma categoria inferior a de membro.

A entrada da Venezuela tinha apoio dos demais membros, em especial Rússia e China, seus aliados, mas o Brasil vetou o convite ao país vizinho, assim como à Nicarágua.

Maduro chegou a desembarcar se surpresa em Kazan, sede do encontro, mas não conseguiu reverter a posição brasileira.

Por outro lado, foram convidados Argélia, Belarus, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.

Lula não participou da cúpula na Rússia por ter sofrido um acidente doméstico dias antes, o que impossibilitou a longa viagem.

Após o veto ao convite à Caracas, o procurador-geral do Ministério Público da Venezuela, Tarek William Saab, chegou a afirmar, sem provas, que o presidente brasileiro teria forjado o acidente para se ausentar do encontro dos Brics, dentro de um plano para vetar a Venezuela.

"Fontes diretas e próximas do Brasil me informam que o presidente Lula da Silva manipulou um suposto acidente para usá-lo de álibi com o fim de não participar da recente Cúpula dos Brics", afirmou, segundo texto divulgado nas redes sociais do Ministério Público venezuelano.

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